Portugal começou tarde a responder ao surto de hepatite A, diz ONG

Grupo de Activistas em Tratamentos diz que número de casos detectados em Portugal é "muito superior" ao de outros países, como Espanha.

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Os primeiros casos foram detectados pelos médicos nas urgências em Janeiro Enric Vives Rubio

A organização não-governamental Grupo de Activistas em Tratamentos (GAT) considera que Portugal começou tarde a responder ao surto de hepatite A, argumentando que os primeiros casos foram detectados pelos médicos nas urgências em Janeiro.

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A organização não-governamental Grupo de Activistas em Tratamentos (GAT) considera que Portugal começou tarde a responder ao surto de hepatite A, argumentando que os primeiros casos foram detectados pelos médicos nas urgências em Janeiro.

Segundo o médico do GAT Diogo Medina, o grupo de activistas, que trabalha na sensibilização para as questões relacionadas com o VIH/sida, foi pela primeira vez informado pelos médicos de uma detecção anormalmente elevada de casos de hepatite A em Janeiro deste ano.

"O surto epidémico em Portugal é o mais grave, em números, da Europa ocidental, muito superior ao surto em Espanha, Holanda e em outros países", afirmou.

Segundo a Direcção-Geral da Saúde (DGS), entre 1 de Janeiro a 29 de Março de 2017, foram notificados 115 casos de hepatite A (dos quais, 107 já confirmados laboratorialmente) e 58 doentes foram hospitalizados. Do total, 97% são adultos jovens do sexo masculino, principalmente residentes da área de Lisboa e Vale do Tejo.

Em comparação com Portugal, Espanha tem menos casos (72), o que Diogo Medina atribui a uma resposta mais rápida das autoridades de saúde que, "assim que tiveram conhecimento do surto, começaram a vacinar as pessoas" de risco.

Segundo a própria DGS, esta infecção pode ser assintomática, o que o médico do GAT considera que traz um problema adicional, pois "cerca de 30% das pessoas que entraram em contacto com o vírus não vão ter a doença", mas podem transmiti-la. A solução passa, na opinião de Diogo Medina, por vacinar as pessoas em maior risco de adquirir a hepatite A.

Segundo uma orientação da DGS, para a qual o GAT foi ouvido, estão em maior risco homens que fazem sexo com homens com os seguintes comportamentos: sexo anal (com ou sem preservativo), sexo oro-anal, sexo anónimo com múltiplos parceiros, sexo praticado em saunas e clubes e encontros sexuais combinados através de aplicações tecnológicas.

"O médico assistente, através de prescrição médica, pode recomendar a vacinação das pessoas nas circunstâncias referidas", refere o documento. São também pessoas em maior risco quem se desloque para áreas endémicas, como Ásia, África, América Central e do Sul sem ser vacionados.

Existem actualmente três estirpes deste vírus a circular na Europa. A estirpe identificada em Portugal teve origem na América do Sul, entrando na Europa por Espanha através de viajantes não vacinados e que contactaram com o vírus naquele continente. Uma outra começou em Taiwan e chegou à Europa pela Holanda e uma outra estirpe foi detectada na Alemanha, com origem ainda por conhecer.

Em Portugal, os primeiros casos deste surto foram detectados em Dezembro, com os primeiros sintomas a terem começado em Novembro passado.

Diogo Medina disse não compreender como as autoridades de saúde só em Março tomaram medidas, como a orientação dirigida aos profissionais de saúde na quarta-feira, uma vez que os médicos começaram a informar o GAT em Janeiro.

Para travar o surto, Diogo Medina defende a vacinação de todas as pessoas em maior risco de adquirir a hepatite A, mostrando preocupação com o número de vacinas disponíveis. Apesar de reconhecer que as vacinas ainda não estão esgotadas, são vários os casos de doentes que regressam ao GAT sem terem conseguido encontrar a vacina prescrita pelo médico nas farmácias a que se dirigiram, sublinhou.

O presidente do GAT, Luís Mendão, recorda que este grupo há anos que defende que a vacina da hepatite A deve ser promovida e distribuída gratuitamente entre pessoas que usam drogas e homens que têm sexo com homens com comportamentos de risco.