Tudo em família: os filhos que ajudaram os pais na Casa Branca
No livro All the Presidents' Children, o autor Doug Wead diz que pelo menos 16 filhos de Presidentes norte-americanos exerceram funções importantes.
A nomeação de Ivanka Trump para uma função não remunerada na Casa Branca tem indignado mais ou menos metade dos EUA – a outra metade votou em Donald Trump, e por isso é razoável admitir que a indignação não é geral. Mas há exemplos de filhos e filhas de anteriores Presidentes que exerceram funções oficiais ou que se destacaram como conselheiros dos seus pais – segundo Doug Wead, autor do livro All the Presidents' Children, pelo menos 16 exerceram funções na Casa Branca. Sim, John F. Kennedy nomeou o seu imão Robert Kennedy Procurador-Geral em 1961 (uma decisão que a revista progressista The Nation classificou como "o maior exemplo de nepotismo que este país já viu"), mas a lei anti-nepotismo só seria aprovada pelo Congresso seis anos depois.
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A nomeação de Ivanka Trump para uma função não remunerada na Casa Branca tem indignado mais ou menos metade dos EUA – a outra metade votou em Donald Trump, e por isso é razoável admitir que a indignação não é geral. Mas há exemplos de filhos e filhas de anteriores Presidentes que exerceram funções oficiais ou que se destacaram como conselheiros dos seus pais – segundo Doug Wead, autor do livro All the Presidents' Children, pelo menos 16 exerceram funções na Casa Branca. Sim, John F. Kennedy nomeou o seu imão Robert Kennedy Procurador-Geral em 1961 (uma decisão que a revista progressista The Nation classificou como "o maior exemplo de nepotismo que este país já viu"), mas a lei anti-nepotismo só seria aprovada pelo Congresso seis anos depois.
John Quincy Adams (1767-1848)
Filho do segundo Presidente dos EUA, John Adams, Quincy Adams é talvez o maior exemplo da influência de um familiar na Casa Branca. Quando foi nomeado embaixador na Prússia pelo pai, em 1797, a oposição pediu a demissão do Presidente, mas a habilidade de Quincy Adams na diplomacia calou os críticos: como secretário de Estado negociou a transferência da Florida de Espanha para os EUA e estabeleceu a Doutrina Monroe (um dos pilares da diplomacia norte-americana). Foi eleito Presidente, tal como o seu pai, e liderou o país entre 1825 e 1829.
Webb Hayes (1856-1934)
Aos 20 anos de idade tornou-se secretário da Casa Branca, nomeado pelo pai, o Presidente Rutherford B. Hayes. O cargo foi entretanto extinto, mas é comparável ao actual chefe de gabinete, um dos mais influentes numa Administração norte-americana. Webb Hayes foi co-fundador da gigante química Union Carbide, mas é mais recordado pelas distinções militares: lutou em três guerras, incluindo na Guerra de 1914-18, e recebeu uma Medalha de Honra do Congresso. Foi uma influência positiva nas políticas a favor da igualdade racial defendidas pelo pai enquanto Presidente – foi Rutherford B. Hayes quem nomeou o antigo escravo Frederick Douglass marshall do Distrito de Columbia, e Webb Hayes esteve sempre na primeira linha de defesa do pai.
Alice Roosevelt (1884-1980)
Durante grande parte da juventude, Alice passou mais tempo nas capas dos jornais do que a exercer funções na Casa Branca. Aos 17 anos tornou-se um ícone da moda norte-americana ao surgir num baile com um vestido num tom azulado que ficou conhecido como "Alice Blue". À beleza juntava um comportamento irreverente, que levou o pai, Theodore Roosevelt, a ameaçar atirá-la da janela da Sala Oval, onde entrava sem ser anunciada nem chamada para dar a sua opinião sobre vários assuntos. Fumava em público, ficava em festas até de madrugada, fazia apostas e o animal de estimação que levou para a Casa Branca não podia ser mais diferente de um cão – era uma cobra chamada Emily Spinach. Num dos acessos de fúria que tinha quando Alice entrava na Sala Oval, o Presidente Theodore Roosevelt disse ao seu amigo e escritor Owen Wister: "Ou governo o país, ou me concentro na Alice. É completamente impossível fazer as duas coisas." Já no seu segundo mandato, em 1905, Roosevelt decidiu enviar Alice como sua embaixadora da boa vontade numa viagem de quatro meses pela Ásia – o seu charme e simpatia foram importantes contributos para a realização da cimeira de Portsmouth, no estado do New Hampshire, onde o Japão e a Rússia puseram fim à Guerra Russo-Japonesa, uma iniciativa que valeu a Theodore Roosevelt o Prémio Nobel da Paz em 1906.
Anna Roosevelt (1906-1975)
Trinta e dois anos depois da eleição de Theodore Roosevelt, outro Roosevelt chegou à Casa Branca – Franklin, visto por muitos como um dos três mais importantes Presidentes dos EUA, ao lado de George Washington e Abraham Lincoln. Apesar de partilharem o mesmo apelido, "Teddy" e FDR eram apenas primos em 5.º grau (partilhavam o mesmo tetravô). Se a filha de Theodore teve um papel importante como embaixadora da boa vontade, os filhos de Franklin são talvez os mais comparáveis aos filhos de Donald Trump – Roosevelt teve seis e Trump tem cinco, quase todos grandes apoios para os seus pais. Quem mais se destacou foi Anna Roosevelt, que aos 37 anos de idade foi viver para a Casa Branca e esteve sempre presente nos últimos dois anos da Presidência do pai. Apesar de nunca ter sido oficialmente nomeada, Anna foi secretária pessoal, cuidadora, confidente e conselheira do pai. Se hoje as fotografias de Ivanka Trump ao lado dos primeiros-ministros do Japão e do Canadá causam indignação ou espanto, o portefólio de Anna Roosevelt arrasa qualquer outro: foi fotografada ao lado do pai em encontros com Winston Churchill e Charles de Gaulle, por exemplo. Em Fevereiro de 1945 acompanhou o pai a Yalta, onde o Presidente dos EUA decidiu o futuro da Europa com Churchill e Estaline. Por essa altura, a revista Life publicou um perfil de Anna Roosevelt, em que o jornalista John Chamberlain juntava tudo o que se dizia nos corredores da Casa Branca: "Oficialmente Anna Roosevelt Boettiger é apenas uma companhia para o pai, mas Washington olha para ela como a pessoa a quem se liga para chegar ao 'big boss'", lê-se no perfil, que ficou conhecido por uma outra passagem: "A menina do papá tem um trabalho feito à medida dela, mandar no papá."