Ministro do "Brexit" diz que carta enviada a Bruxelas não continha ameaça à UE
Discursos mostram primeiros desentendimentos sobre prioridades e alcance das negociações. Hollande insiste que é preciso tratar primeiro do divórcio e só depois do futuro.
Um dia depois de o Governo britânico ter accionado o artigo 50 do Tratado de Lisboa são já bem visíveis os desentendimentos entre os dois lados do canal da Mancha. O ministro para o “Brexit”, David Davis, garante que Londres não está a ameaçar pôr em causa a cooperação no combate ao crime e ao terrorismo, mas insiste que a segurança, tal como o comércio, deve ser uma prioridade das negociações. Em Paris, o Presidente francês repetiu, no entanto, que só depois de acordada a separação será possível discutir o futuro das relações.
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Um dia depois de o Governo britânico ter accionado o artigo 50 do Tratado de Lisboa são já bem visíveis os desentendimentos entre os dois lados do canal da Mancha. O ministro para o “Brexit”, David Davis, garante que Londres não está a ameaçar pôr em causa a cooperação no combate ao crime e ao terrorismo, mas insiste que a segurança, tal como o comércio, deve ser uma prioridade das negociações. Em Paris, o Presidente francês repetiu, no entanto, que só depois de acordada a separação será possível discutir o futuro das relações.
Na carta que enviou quarta-feira a Bruxelas, a primeira-ministra britânica, Theresa May, liga explicitamente as relações comerciais que quer garantir com a UE após o “Brexit” à cooperação em matéria de segurança. E faz um aviso que foi interpretado como uma ameaça velada: se o Reino Unido deixar a UE sem conseguir um acordo satisfatório, não só as trocas comerciais vão passar a reger-se pelas regras da Organização Mundial de Comércio como, “em matéria de segurança, isso significaria que a cooperação na luta contra o crime e o terrorismo sairia enfraquecida”.
Os responsáveis no continente não gostaram do repto, que alarmou também a oposição britânica, mas deixou os tablóides deliciados. “É o vosso dinheiro ou a vossa vida”, escreveu o The Sun na primeira página desta quinta-feira, sugerindo ainda que Londres poderá retirar-se de todos os mecanismos de cooperação entre polícias e serviços de informação que partilha actualmente com a UE.
“Não, não vamos. Temos é que negociar uma substituição para essa parte dos tratados e é para isso que nos estamos a preparar”, afirmou Davis numa entrevista à uma estação de rádio da BBC, acrescentando que “se não houver acordo, vai perder-se o actual enquadramento em matéria de justiça e assuntos internos”.
O ministro que vai encabeçar as negociações pelo lado britânico assegura ainda que o aviso de May “não é uma ameaça”. “O que a primeira-ministra disse é que se não houver acordo, e nós queremos um acordo, isso será mau para ambas as partes”. E ignorando o calendário para as negociações que se começa a desenhar em Bruxelas, Davis insiste que quer negociar todos os aspectos das relações bilaterais no prazo de dois anos. “Queremos um acordo abrangente que inclua o comércio, que abranja a segurança, que cobra todos os aspectos da relação existente e tente preservar o máximo dos benefícios para todos”, explicou. “Acho que é uma posição perfeitamente razoável, que não é de nenhuma maneira uma ameaça."
Hollande insiste em discussão faseada
O porta-voz de Downing Street revelou também que, desde que enviou a carta a desencadear o processo para a saída do Reino Unido da UE, Theresa May falou ao telefone com o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, e os líderes da Irlanda, Polónia, Itália, França e Espanha. “A reacção que tivemos é que o tom da carta foi apreciado e considerado construtivo”, revelou, que descreveu as conversas como “calorosas”.
Comentando o telefonema entre May e François Hollande, a presidência francesa reafirmou que Paris espera que as negociações decorram “de forma transparente e construtiva”, a fim de minimizar a incerteza e “garantir o total respeito pelas regras e interesses dos restantes 27 Estados-membros”.
Nesse sentido, continua o comunicado do Eliseu, “o Presidente indicou que as negociações devem ser inicialmente sobre os termos da saída”, a começar pela situação dos cidadãos europeus que vivem no Reino Unido e os britânicos que residem na UE e pela discussão de quanto (e até quando) tem Londres de contribuir para o orçamento comunitário. “Com base nos progressos que forem feitos, iremos abrir as discussões sobre o enquadramento futuro das relações entre o Reino Unido e a UE.”