O arquitecto construiu duas vezes

Um curioso exercício de género à volta do trabalho de um arquitecto: Ornamento & Crime.

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Depois da proximidade ao western de Estrada de Palha (2011), Rodrigo Areias chega-se ao film noir e ao policial hard-boiled na sua terceira longa de ficção, objecto curioso no modo como assume a sua dimensão simultânea de exercício de género e ensaio esteta.

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Depois da proximidade ao western de Estrada de Palha (2011), Rodrigo Areias chega-se ao film noir e ao policial hard-boiled na sua terceira longa de ficção, objecto curioso no modo como assume a sua dimensão simultânea de exercício de género e ensaio esteta.

Ornamento & Crime encontra a sua génese no trabalho do arquitecto Fernando Távora — Areias dedicara o seu documentário 1960 (2013) às viagens do arquitecto, e esta ficção utiliza como cenário as múltiplas obras que deixou prontas em Guimarães, ao mesmo tempo registo do seu trabalho e jogo lúdico com o espaço.

Rodado a preto e branco de acordo com a estética do noir hollywoodiano e suas derivações europeias, consciente de estar a reciclar personagens e situações arquetípicas do género, remete para os filmes portugueses pop dos anos 1980 que exploraram o formato — Duma Vez por Todas de Joaquim Leitão ou Repórter X de José Nascimento.

E confirma Areias como  realizador “em movimento”, mais interessado em experimentar do que em ficar parado à espera de inspiração, disposto a fazer das fraquezas forças e a expôr o pouco dinheiro que tem como mais-valia, recusando o modelo convencional do cinema português de autor e buscando uma terceira via capaz de falar ao público sem perder a dimensão cinéfila. Mas isso não invalida que se saia de Ornamento & Crime com a impressão de que estamos perante uma média-metragem esticada para longa, de um filme que já disse tudo o que tinha para dizer a meio da sua duração e depois já não sabe para onde ir e fica por ali a chover no molhado.