Medo do "Brexit" e teste de inglês mais difícil travam saída de enfermeiros
“Quem nos dera ter mais enfermeiros para recrutar”, confessa responsável de agência que selecciona portugueses para Reino Unido. Agências estão a recrutar outros profissionais, como enfermeiros-veterinários, radiologistas e fisioterapeutas.
De que forma é que o Brexit vai afectar o serviço nacional de saúde britânico (NHS)? A dimensão do impacto é obviamente desconhecida, mas uma coisa é certa: os efeitos já se estão a fazer sentir e em grande escala: em 2016, a chegada ao Reino Unido de enfermeiros oriundos de países da União Europeia (UE) diminuiu de forma substancial, pela primeira vez em muitos anos. Os dados divulgados esta semana pelo Nursing and Midwifery Council não deixam margem para dúvidas: nos últimos quatro meses de 2016, os registos de enfermeiros de países da UE caíram para menos de 200 por mês, enquanto no mesmo período de 2015 ascendiam a cerca de 800, média mensal.
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De que forma é que o Brexit vai afectar o serviço nacional de saúde britânico (NHS)? A dimensão do impacto é obviamente desconhecida, mas uma coisa é certa: os efeitos já se estão a fazer sentir e em grande escala: em 2016, a chegada ao Reino Unido de enfermeiros oriundos de países da União Europeia (UE) diminuiu de forma substancial, pela primeira vez em muitos anos. Os dados divulgados esta semana pelo Nursing and Midwifery Council não deixam margem para dúvidas: nos últimos quatro meses de 2016, os registos de enfermeiros de países da UE caíram para menos de 200 por mês, enquanto no mesmo período de 2015 ascendiam a cerca de 800, média mensal.
Em Portugal, o efeito Brexit também é evidente: os pedidos de certificados de equivalência necessários para poder exercer no estrangeiro apresentados à Ordem dos Enfermeiros (OE) — e a maior parte pretende ir para o Reino Unido - baixaram para números semelhantes aos de 2011, quando a austeridade se fez sentir com força no país. Foram apenas 1614, quando entre 2012 e 2015 oscilavam entre 2500 e quase três mil por ano. Ao mesmo tempo, há portugueses a trabalhar no Reino Unido que regressam para se candidatar a concursos que vão sendo abertos nos hospitais portugueses, como frisou há dias a bastonária da OE.
Para as agências de recrutamento de profissionais de saúde que há anos trabalham em Portugal, a quebra nas intenções de emigrar é óbvia, mas a culpa não é só do Brexit. Desde o início de 2016 que foi instituída uma nova regra que tornou a entrada no Reino Unido bem mais complicada, pelo menos para os enfermeiros, que agora são obrigados a passar num teste exigente, o IELTS (International English Language Testing System), que implica um nível elevado de domínio da língua inglesa.
O peso do exigente teste na diminuição do êxodo de enfermeiros é sublinhado por Sofia Neto, que trabalha na Kate Cowhig International Healthcare Recruitment, uma das agências britânicas mais antigas, que desde 2008 vem a Portugal à procura de profissionais para o NHS. "Sente-se o reflexo do medo, do receio do que pode acontecer”, admite, apesar de acreditar que não há razões para isso. “O receio é infundado, achamos que vai ficar quase tudo igual”, confia Sofia, que antecipa que apenas passem a ser exigidos vistos no futuro, à semelhança do que se passa com outros países fora da UE, como a Suíça. “Não é nada de complicado e os enfermeiros são seguramente elegíveis para um visto. É só mais um papel para tratar”, desdramatiza .
Sofia acredita mesmo que venha a ser criado um estatuto ou visto especial para os profissionais de saúde de que o Reino Unido "tanto necessita" (as estimativas indicam que faltarão 24 mil enfermeiros no NHS). "Quem nos dera ter mais enfermeiros para recrutar”, suspira. Mas não são só enfermeiros que fazem falta no país e estão a ser recrutados. Além destes, elenca, há falta de radiologistas, fisioterapeutas, veterinários e até enfermeiros especializados em veterinária.
“Não houve mudanças. Os contactos com os recursos humanos dos hospitais são todos no sentido de enfatizar que querem que os portugueses fiquem”, corrobora Daniela Almeida, da Vitae Professionals, uma agência de recrutamento criada há seis anos por um enfermeiro português. Reconhecendo que a agência já teve “mais procura” por parte de enfermeiros nacionais, Daniela acredita que, mais do que o Brexit, é a imposição do exigente teste de inglês que está a contribuir em muito para esta quebra.
Há enfermeiros que estão a optar emigrar para a Irlanda, onde este exame não é obrigatório, afirma. A agência está igualmente a recrutar auxiliares de acção médica e de geriatria para o Reino Unido, além de técnicos de radiologia e de análises clínicas, veterinários e enfermeiros-veterinários, que fazem apenas um teste presencial de inglês.