Mais tempo de ensino não significa necessariamente melhores aprendizagens

Ao contrário dos países da OCDE, Portugal continua a apostar em aulas de 90 minutos. Investigação demonstra que horários deviam ter em conta as diferenças de ritmo biológico entre alunos de idades diversas.

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Crianças “chegam à escola cansadas e voltam a casa cansadas” ADRIANO MIRANDA

Na maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o dia de escola é dividido em aulas que duram 45 a 50 minutos, permitindo fazer breves intervalos em si, mas em Portugal continua a ser generalizado o recurso a blocos de dois tempos lectivos, perfazendo 90 ou 100 minutos de aulas, constata o Conselho Nacional de Educação (CNE) no seu estudo sobre o tempo escolar, divulgado na terça-feira.

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Na maioria dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o dia de escola é dividido em aulas que duram 45 a 50 minutos, permitindo fazer breves intervalos em si, mas em Portugal continua a ser generalizado o recurso a blocos de dois tempos lectivos, perfazendo 90 ou 100 minutos de aulas, constata o Conselho Nacional de Educação (CNE) no seu estudo sobre o tempo escolar, divulgado na terça-feira.

Para o presidente do CNE, David Justino, esta forma de organizar o tempo em Portugal “pode representar, por um lado, uma oportunidade para o desenvolvimento das aprendizagens, mas por outro, um risco de dificuldades acrescidas na gestão dos comportamentos em sala de aula”.

Mais tempo de ensino não significa então melhores aprendizagens? Entre os investigadores na área da Educação há quem diga que sim, mas têm sido crescentes as vozes que o negam, segundo se pode constatar da resenha elaborada a este respeito pelo CNE na sua análise, que aponta, por exemplo, para o relatório do PISA de 2015 onde se afirma o seguinte, tendo em conta os resultados obtidos pelos alunos nestes testes da OCDE que visam avaliar a literacia dos jovens aos 15 anos: “Quando toca ao tempo de ensino, mais não é necessariamente melhor.”

No mesmo sentido apontam três autores norte-americanos, também citados no estudo do CNE: “O que a investigação tem demonstrado repetidamente é que em educação a qualidade é a chave para fazer com o que o tempo conte.”

Mas há outras componentes que têm de ser tidas em consideração. Por exemplo, as diferenças de ritmo biológico entre alunos de idades diversas.

No estudo do CNE refere-se, a este respeito, que “a investigação demonstrou que as crianças mais novas mostram ter períodos mais curtos de atenção/concentração”.

Já com os adolescentes, a alteração dos padrões de sono, que passa por ir dormir a horas mais tardias, “aumenta o risco de níveis reduzidos de atenção/concentração no período da manhã”. Estes factores, acrescenta-se no estudo, “sugerem que uma organização diferente do tempo de ensino consoante as faixas etárias seria mais eficaz”.

Um dos directores ouvidos pelo CNE lembra que há alunos que chegam a passar 10 horas na escola. “Estas crianças são as que fazem parte das estatísticas do insucesso. Não têm tempo para descansar, nem para brincar. Chegam à escola cansadas e voltam a casa cansadas”, disse.