Há mais casos de hepatite A e quase todos são jovens do sexo masculino
Em metade das situações houve necessidade de internamento e 74 casos são da área de Lisboa e Vale do Tejo, especificou a Direcção-Geral da Saúde
De dia para dia está a aumentar o número de casos casos de hepatite A notificados às autoridades de saúde. Desde 1 de Janeiro até esta quarta-feira, foram oficialmente comunicados 108 casos, mais três do que no dia anterior, e "97%" são relativos a adultos jovens do sexo masculino, adianta a Direcção-Geral da Saúde (DGS).
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De dia para dia está a aumentar o número de casos casos de hepatite A notificados às autoridades de saúde. Desde 1 de Janeiro até esta quarta-feira, foram oficialmente comunicados 108 casos, mais três do que no dia anterior, e "97%" são relativos a adultos jovens do sexo masculino, adianta a Direcção-Geral da Saúde (DGS).
Num documento com orientações para médicos e enfermeiros divulgado nesta quarta-feira ao princípio da tarde, a DGS diz ainda que em metade das situações detectadas houve necessidade de internamento hospitalar e que 101 destas situações estão já confirmadas.
Dos casos diagnosticados em Portugal desde que o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, a sigla em inglês) emitiu um alerta para um surto de hepatite A em vários países europeus, 74 são residentes na área de Lisboa e Vale do Tejo, afirma a DGS. O director-geral da Saúde já tinha adiantado que os casos estavam a surgir ao ritmo de cerca de uma dezena por dia.
A 23 de Fevereiro, o ECDC publicou um relatório em que dava conta de que, desde Fevereiro de 2016, tinham sido confirmados 287 casos de hepatite A em 13 países da União Europeia, como Espanha, Itália, Reino Unido e Alemanha. A maioria dos casos reportados era de homens adultos que têm sexo com outros homens. Apenas nove mulheres tinham sido afectadas.
"Actividade anormal" desta infecção
Foi em 2016 que em vários países europeus se detectou uma "actividade anormal" desta infecção por hepatite A, que "parece ter tido origem na Holanda", explicou à Lusa a directora do Programa Nacional para as Hepatites Virais da DGS, Isabel Aldir. "O Reino Unido foi o primeiro a reportar um aumento do número de casos e, actualmente, são 13 os países que reportam este aumento, incluindo Portugal. Para lhe dar uma noção da grandeza, no ano passado tínhamos nesta altura seis casos reportados e agora temos uma centena”, disse Isabel Aldir.
Num primeiro documento com orientações clínicas divulgado pelo Expresso ao início da noite de terça-feira, a DGS relacionava o surto de hepatite A com a prática de "chemsex" ("actividade sexual potenciada por substâncias químicas, podendo envolver múltiplos parceiros"), mas essa referência já não aparece no novo documento divulgado nesta quarta-feira.
Isabel Aldir admitiu à Lusa que esta “actividade epidémica parece estar associada com muita frequência” a uma transmissão por via sexual através de determinadas práticas, sobretudo entre homens, que fazem com que haja um aumento do risco de transmissão da doença.
“Isto pode acontecer com qualquer indivíduo, com qualquer orientação sexual, mas o que tem sido até à data mais descrito, de facto, é um predomínio de casos em homens — não exclusivamente —, mas são muito mais frequentes os casos no sexo masculino comparativamente aos do sexo feminino. E dentro dos homens, parecem ser mais atingidos os homens que praticam sexo com outros homens”, sublinhou.
Doença curável e benigna
Sem tratamento específico, a infecção por hepatite A tem uma evolução geralmente benigna e pode ser assintomática. A principal forma de contágio é através da via fecal-oral e, ao contrário das hepatites B e C, que "podem evoluir para a cronicidade", a hepatite A é "uma doença curável e benigna”, explica Isabel Aldir.
“Não tem nenhum tratamento específico, a não ser o repouso, a não ingestão de bebidas alcoólicas ou evitar a toma de medicamentos que possam ser mais agressivos para o fígado", acrescenta.
A DGS alerta no documento com as orientações que os dados ainda provisórios do último Inquérito Serológico Nacional, realizado pelo Instituto Ricardo Jorge em 2015-2016, indicam que na população inquirida abaixo dos 30 anos menos de 20% apresenta anticorpos contra este vírus, valores que "contrastam com a elevada prevalência" de anticorpos na população com 55 ou mais anos de idade (valores na ordem dos 93%).