O voto de Valls em Macron tem sabor a vingança sobre o PS
Ex-primeiro-ministro francês anunciou em quem vai votar nas eleições presidenciais, aprofundando as divisões no Partido Socialista, que se está a tornar um peso pluma eleitoral num cenário político em recomposição.
Manuel Valls vai votar em Emmanuel Macron nas presidenciais. Ele diz que é uma forma de “assumir as suas responsabilidades”, para travar a candidata da extrema-direita Marine Le Pen, e isso é consequente com o que sempre foi o seu discurso. Mas é também um ajuste de contas com os rebeldes da esquerda do Partido Socialista, que lhe fizeram a vida negra no Parlamento, enquanto foi primeiro-ministro, e que foram frustrando as suas ambições de mais uma década de transformar o PS francês num verdadeiro partido social-democrata europeu.
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Manuel Valls vai votar em Emmanuel Macron nas presidenciais. Ele diz que é uma forma de “assumir as suas responsabilidades”, para travar a candidata da extrema-direita Marine Le Pen, e isso é consequente com o que sempre foi o seu discurso. Mas é também um ajuste de contas com os rebeldes da esquerda do Partido Socialista, que lhe fizeram a vida negra no Parlamento, enquanto foi primeiro-ministro, e que foram frustrando as suas ambições de mais uma década de transformar o PS francês num verdadeiro partido social-democrata europeu.
O político socialista afirmou que não irá votar no candidato do seu partido, Benoît Hamon, que derrotou Valls nas primárias, mesmo arriscando, com a sua escolha, dar o golpe final no PS, que está já enfraquecido eleitoralmente e profundamente dividido. Vários membros do Governo já anunciaram que vão votar em Macron e não em Hamon, que recuou para quinto lugar nas intenções de voto, ultrapassado por Jean-Luc Mélenchon.
“O interesse do país ultrapassa as regras de um partido”, declarou Valls. “Não quero correr riscos com a República e com a França”, afirma, defendendo que as sondagens estão a subestimar a votação em Marine Le Pen (prevê-se na primeira volta, a 23 de Abril, cerca de 25% para a candidata da extrema-direita, e 24% para Macron).
No entanto, não quis juntar-se à campanha de Emmanuel Macron, com o qual se incompatibilizou, quando o teve como seu ministro da Economia. Não se pode dizer que o candidato tenha recebido o apoio do ex-primeiro-ministro com grande entusiasmo. “Agradeço, mas serei o garante da renovação dos rostos e das práticas na política”, afirmou Macron. É uma forma indirecta de dizer que não chamará o ex-primeiro-ministro para o seu círculo de governação, caso seja de facto eleito Presidente na segunda volta, a 7 de Maio, como prevêem as sondagens.
Até porque François Fillon, o candidato da direita, aproveitou esta aproximação para sustentar que Macron é a continuação de François Hollande com outras roupagens. “Toda a equipa de François Hollande está com Emmanuel Macron. Macron é Hollande”, disse, aproveitando-se do facto de muitos próximos do actual Presidente se terem juntado às fileiras do candidato.
“Envergonhas-nos”
No PS, a atitude de Valls desencadeou reacções violentas: “Envergonhas-nos”, atirou-lhe o deputado Patrick Mennuci. A porta-voz de Hamon, Aurélie Filippetti, considerou o apoio de Valls a Macron “patético, um desprezo da democracia de um mau perdedor”. Arnaud Montebourg, que concorreu nas primárias socialistas mas se juntou imediatamente a Hamon, foi ainda mais duro: “Vemos o que vale um compromisso de honra para um homem como Manuel Valls: nada”.
É difícil não ver nesta acção de Manuel Valls, derrotado nas primárias por Benoît Hamon - um dos revoltosos do PS que queriam arrastar o partido para a esquerda -, um certo desejo de vingança. De ajudar a partir tudo, num momento em que já tudo está a desabar: Hamon não conseguiu convencer Jean-Luc Mélenchon a desistir, para que houvesse apenas um representante da esquerda na corrida com possibilidades de disputar um lugar na segunda volta. Hamon passou esta semana de quarto para quinto lugar nas intenções de voto, e só 42% dos seus eleitores dizem ter a certeza de que vão acabar mesmo por votar nele.
Para Valls, a “esquerda com vocação de governo” vai ficar marginalizada e isso vai ter importantes implicações nas eleições legislativas que se realizam meados de Junho. Aos seus próximos, diz o Libération, Valls assegura que já não quer nada com o PS, e que não irá ao próximo congresso, no Outono.
É num novo partido que o ex-primeiro-ministro está a pensar? É uma incógnita, por agora. Apesar de ele dizer que "não pede nada a Macron", e apesar das reacções negativas que suscitou, parece querer ser parte activa na recomposição da paisagem política francesa, diz o Le Monde. “A responsabilidade dos reformistas é participar numa maioria coerente”, afirmou Valls. Em caso de vitória de Macron, deverá esperar obter um lugar no Parlamento, numa futura maioria presidencial.
Correcção: Macron foi ministro da Economia, e não das Finanças