Com Davis, May aposta "numa táctica ofensiva"

Será Theresa May e não o seu ministro para o "Brexit" quem controlará o processo, mas a sua escolha mostra o espírito com que Londres parte para as negociações.

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Davis é descrito como extremamente confiante, resiliente e destemido Dylan Martinez/Reuters

Foi a escolha improvável de Theresa May para chefiar o Departamento para a Saída da União Europeia – apesar de eurocéptico, David Davis tinha levado o Estado britânico ao Tribunal de Justiça da UE para contestar medidas antiterroristas promovidas pela então ministra do Interior. Mas se Davis será o rosto britânico nas negociações (que terão Bruxelas como palco principal), a primeira-ministra já deixou claro que é ela quem controla o processo.

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Foi a escolha improvável de Theresa May para chefiar o Departamento para a Saída da União Europeia – apesar de eurocéptico, David Davis tinha levado o Estado britânico ao Tribunal de Justiça da UE para contestar medidas antiterroristas promovidas pela então ministra do Interior. Mas se Davis será o rosto britânico nas negociações (que terão Bruxelas como palco principal), a primeira-ministra já deixou claro que é ela quem controla o processo.

“Ela faz apenas aquilo que quer”, disse um alto responsável do Governo ao jornal Guardian, adiantando que nos últimos meses May montou em Downing Street um “conselho de guerra” para o “Brexit” que junta conselheiros e os assessores mais próximos, mas nenhum político. Num segundo círculo estão os dois ministros mais influentes para o processo que agora se avizinha – Davis e o ministro das Finanças, Phillip Hammond, favorável a um “Brexit” menos drástico. Mas apesar de ambos terem conquistado a confiança da primeira-ministra, tanto um como outro já foram desautorizados por ela.  

“May gosta de estar aos comandos, cede apenas quando esgotou todas as outras opções e lida com factos – não com relações pessoais”, escreveu o Financial Times, resumindo duas críticas recorrentes: a de que centraliza demasiado as decisões e, que nos meses que já leva de Governo, não cuidou como devia das relações com as outras capitais europeias, decisivas para o sucesso das negociações.

Uma incumbência que recai sobre o ministro para o “Brexit” que, segundo a agência Bloomberg, vai iniciar nos próximos dias uma nova ronda diplomática para “persuadir os outros países europeus a concederem ao Reino Unido um divórcio amigável”. Um papel que não é fácil para um ministro defensor de uma linha dura em relação à UE – segundo a BBC, terá sido ele a convencer May a defender no seu discurso de Janeiro que “nenhum acordo é melhor do que um mau acordo”. Ao escolher para seu principal negociador um político descrito como extremamente confiante, resiliente e destemido, a primeira-ministra “apostou numa táctica ofensiva”, diz o Guardian.

“Vamos para estas negociações não como suplicantes, mas como parceiros iguais”, afirmou o ministro para o “Brexit”, antigo reservista das forças especiais britânicas que foi por duas vezes (em 2001 e 2005) candidato à liderança dos tories. Na segunda tentativa foi derrotado por David Cameron, o jovem aristocrata formado nas escolas de elite que Davis, filho de mãe solteira, oriundo do Sul de Londres, não pôde frequentar.

Ironia da história: será ele a concluir o processo que Cameron iniciou. Tal como é irónico que, no início dos anos 90, tenha sido um dos deputados a quem o primeiro-ministro John Major encarregou de garantir que os conservadores aprovavam o Tratado de Maastricht – o texto que lançou as bases da UE tal como ela existe hoje.