Marrocos-Portugal: será a “co-localização” possível?
O norte precisa do sul assim como o sul precisa do norte.
Primeiro parceiro de Portugal, sem falar dos hidrocarbonetos, na região MENA, com um volume de trocas, até fim de novembro 2016, de 785,3 milhões de euros, Marrocos afirma-se como plataforma com uma grande capacidade de absorção tanto pelas exportações de Portugal como pelos seus fluxos de investimentos directos.
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Primeiro parceiro de Portugal, sem falar dos hidrocarbonetos, na região MENA, com um volume de trocas, até fim de novembro 2016, de 785,3 milhões de euros, Marrocos afirma-se como plataforma com uma grande capacidade de absorção tanto pelas exportações de Portugal como pelos seus fluxos de investimentos directos.
O desempenho económico de Marrocos e a sua estabilidade política fazem dele um destino de investimento com vantagens muito competitivas em termos de mão-de-obra e de infra-estruturas, e um mercado aberto a mais de mil milhões de consumidores. Hoje, Marrocos e Portugal fazem parte de uma dinâmica económica exemplar entre dois países das margens norte e sul do mediterrâneo. Como prova, a sua cooperação em todos os domínios percorreu um longo caminho, graças à forte vontade política dos dois Estados e aos seus pragmatismos. Os dois países tornaram-se, por isso, num modelo bem sucedido de parceria a nível regional.
Diversos sectores industriais nos dois países mostram-se aptos para injectar um impulso para a “co-localização” (termo recentemente criado, significando o desenvolvimento das empresas em dois países). Num sector como o do automóvel, por exemplo, Marrocos e Portugal realizam volumes de negócios significativos no que se refere à exportação, anunciando-se perspectivas muito promissoras para a próxima década. Neste sector, um polo de competitividade reunindo mais do que um país, permitirá aproveitar a cadeia de valores, e além disso fazer face à concorrência, cuja espinha dorsal é a variação dos custos de produção. Somado a isto, existem outros sectores igualmente importantes, que nos levam a pensar na “co-localização” entre duas economias próximas e complementares.
O termo“co-localização” distingue-se progressivamente de “deslocalização” para ter uma definição própria. Ainda há pouco tempo, a diferenciação era difícil, dado que, entre “co-localizar” e “deslocalizar” existia um significado de ambiguidade, até entre os próprios economistas.
Há alguns anos, a “co-localização”era utilizada pelos políticos para designar uma certa competitividade a atingir através da co-produção. A reflexão de então tentava conseguir uma integração económica regional usando uma partilha possível ao nível das cadeias de valores e ganhar, assim, em produtividade. A exigência de um contexto económico, mais globalizado e mais complexo, fez com que o vocábulo “deslocalização” fosse relegado para segundo plano passando a ter um sentido pejorativo (investimento indesejável que o norte exporta para o sul). No entanto, a “co-localização” chegou com o objectivo da co-produção entre o norte e o sul, ou entre o sul e o sul, numa lógica de uma melhor relação win-win e com o espírito da complementaridade e não de exploração.
As múltiplas deslocações de Sua Majestade, o Rei Mohammed VI de Marrocos, aos países africanos, mais de 50 durante os últimos 10 anos, e os acordos de cooperação assinados, são o exemplo eloquente desta abordagem por parte de Marrocos. Na minha opinião, uma taxa de integração de 100% na indústria, num único território não é rentável nem competitivo. O norte precisa do sul assim como o sul precisa do norte. Além disso, será que a “co-localização” irá encontrar o seu lugar de forma equilibrada e de parceria rentável para todas as partes interessadas? O velho conceito das vantagens comparativas parece continuar a dar as suas provas.
A visão económica de Marrocos, baseada em estratégias sectoriais com objectivos bem definidos, dá uma forte visibilidade e dedica, às 12 regiões de Marrocos segundo as suas potencialidades, um ambiente propício para o investidor português: zonas francas, logística, infra-estruturas portuárias e aeroportuárias. De igual modo, a descentralização adoptada nos dois países é uma outra base para construir um novo modelo de cooperação regional entre Marrocos e Portugal, sob a cúpula da co-produção e onde as regiões, nos dois sentidos, seriam os catalisadores. Sim, eu acredito nisso e juntos podemos alcançá-lo.