A pequena editora de Leipzig que publicou Herberto e Llansol

A Leipzig Literaturverlag levou à Feira do Livro de Leipzig uma inesperada prateleira de autores portugueses.

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Viktor Kalinke é o proprietário da pequena editora independente Leipziger Literaturverlag LUÍS MILEU

O cartão de visita diz Viktor Kalinke, mas quem o conhece garante que se trata de um pseudónimo e que o proprietário da pequena editora independente Leipziger Literaturverlag, que é também médico, reserva o nome civil para essa sua sua outra e mais rentável actividade profissional. Num país em que agentes e tradutores desesperam de conseguir convencer uma editora a publicar um autor português, Viktor Kalinke lançou Os Passos em Volta, de Herberto Helder – o seu segundo livro português mais vendido, depois de um pequeno volume com um texto fragmentário de Pessoa sobre judeus e maçonaria –, mas também Lisboa-Leipzig, de Maria Gabriela Llansol, cujo título não terá bastado para atrair o público alemão.

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O cartão de visita diz Viktor Kalinke, mas quem o conhece garante que se trata de um pseudónimo e que o proprietário da pequena editora independente Leipziger Literaturverlag, que é também médico, reserva o nome civil para essa sua sua outra e mais rentável actividade profissional. Num país em que agentes e tradutores desesperam de conseguir convencer uma editora a publicar um autor português, Viktor Kalinke lançou Os Passos em Volta, de Herberto Helder – o seu segundo livro português mais vendido, depois de um pequeno volume com um texto fragmentário de Pessoa sobre judeus e maçonaria –, mas também Lisboa-Leipzig, de Maria Gabriela Llansol, cujo título não terá bastado para atrair o público alemão.

Presente na Feira do livro da sua cidade, o editor da Leipziger conta como se tornou o editor de Herberto e Llansol, mas também de Maria Velho da Costa, Manuel Alegre, Helder Macedo ou Yvette K. Centeno. E a explicação passa justamente por esta última autora, que foi, diz Kalinke, a “força motriz” responsável pela algo excêntrica secção portuguesa do seu catálogo. Tudo começou quando o tradutor Markus Sahr, que viveu algum tempo em Portugal, contactou Yvette K. Centeno, de quem traduziu o romance No Jardim das Nogueiras. “Andei três anos à procura de editor, mas ou me diziam que não ou nem sequer respondiam, e já tinha mesmo desistido quando, ao mudar-me para Leipzig, soube desta pequena editora que tinha sido fundada pouco tempo antes”, contou Sahr ao PÚBLICO. Numa última tentativa, levou a tradução a Kalinke e o milagre aconteceu.

É este contacto de Sahr com Centeno que explica a inesperada prateleira de autores portugueses que a Leipzig Literaturverlag levou à Feira do Livro. Poeta, ficcioniosta e ensaísta, mas também tradutora de poetas alemães, Centeno propôs a Kalinke publicar um conjunto de autores que tinham em comum o facto de terem regressado ao país após o 25 de Abril de 1974. Mais tarde, por sugestão do ensaísta e tradutor João Barrento (que co-traduziu com Centeno poemas de Paul Celan), Kalinke publicou ainda Maria Gabriela Llansol.

E a literatura portuguesa continua a interessá-lo, como se prova pelo lançamento, no domingo, último dia da Feira do Livro de Leipzig, de Von Weiß bis Schwarz, tradução da antologia Do Branco ao Negro, lançada em 2014 pela Sextante, que reúne contos de 12 autoras portuguesas contemporâneas, cada um deles centrado numa cor: Ana Luísa Amaral, Ana Zanatti, Clara Ferreira Alves, Elgga Moreira (conhecida, enquanto poeta, como Helga Moreira), Eugénia de Vasconcellos, Lídia Jorge, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta, Raquel Freire, Rita Roquette de Vasconcellos, São José Almeida e Yvette K. Centeno.

Esta antologia é um bom exemplo de como boa parte das edições de literatura portuguesa na Alemanha se deve menos a planos editoriais cuidadosamente ponderados, e mais  a oportunidades imprevistas, acasos, cumplicidades. A tradução dos contos foi assegurada por alunos e docentes da Faculdade de Tradução, Línguas e Culturas da Universidade de Mainz, no âmbito de um projecto didáctico,  explica uma das professoras que coordenaram este trabalho, Ângela Nunes. Financiado pela universidade, o projecto contou ainda com a solidariedade das autoras, que prescindiram dos direitos de autor para esta primeira edição alemã. E foi também uma delas, Yvette Centeno, que sugeriu Markus Sahr para rever o texto alemão e a Leipzig Literaturverlag para editar a obra.

Viktor Kalinke gostaria agora de publicar Hélia Correia, que conheceu por esta ter integrado no ano passado o primeiro grupo que a Embaixada Portuguesa em Berlim levou à feira de Leipzig, mas não sabe ainda se terá condições para o poder fazer. 

 

O PÚBLICO viajou a convite da Embaixada de Portugal/Camões em Berlim

Notícia corrigida às 20h00 para precisar que a edição alemã da antologia Do Branco ao Negro já foi lançada este domingo (dia 26), no último dia da Feira do Livro de Leipzig.