A Rússia anti-Putin voltou a sair à rua e Navalni voltou a ser detido
Pelo menos 500 pessoas foram detidas em Moscovo. As manifestações eram contra o primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, mas houve palavras de ordem contra o Presidente.
Quando já se pensava que a tímida oposição a Vladimir Putin tinha desaparecido quase por completo, uma denúncia pública de corrupção dirigida ao primeiro-ministro, Dmitri Medvedv, levou milhares de pessoas para as ruas de Moscovo e outras grandes cidades do país este domingo. Sentado num autocarro que o levaria para a esquadra, depois de ter sido arrastado pela polícia de intervenção, Alexei Navalni voltava a saltar para o topo das notícias em todo o mundo, com as suas mãos – as únicas que ainda conseguem fazer cócegas a Putin – a dispararem mensagens através do Twitter sem parar.
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Quando já se pensava que a tímida oposição a Vladimir Putin tinha desaparecido quase por completo, uma denúncia pública de corrupção dirigida ao primeiro-ministro, Dmitri Medvedv, levou milhares de pessoas para as ruas de Moscovo e outras grandes cidades do país este domingo. Sentado num autocarro que o levaria para a esquadra, depois de ter sido arrastado pela polícia de intervenção, Alexei Navalni voltava a saltar para o topo das notícias em todo o mundo, com as suas mãos – as únicas que ainda conseguem fazer cócegas a Putin – a dispararem mensagens através do Twitter sem parar.
A mola que impulsionou os manifestantes para as ruas foi um vídeo publicado por Navalni há três semanas, um dos muitos que tem partilhado ao longo dos anos com denúncias contra Vladimir Putin e os que compõem o seu círculo de poder na Rússia.
Desta vez, o homem que na Europa e nos Estados Unidos passou a ser visto como o líder da oposição na Rússia (apesar de o seu partido não ter qualquer assento parlamentar) mostrou documentos que deixam o primeiro-ministro e antigo Presidente, Dmitri Medvedev, no papel de um multimilionário corrupto com bens a mais para o seu salário.
Segundo a investigação de Navalni e da sua Fundação Anti-Corrupção, os ordenados e os investimentos de Medvedev não chegam para justificar as suas mansões e iates e até uma quinta para criar patos – daí que muitos dos manifestantes tenham saído à rua este domingo com cartazes pintados com imagens de patos amarelos.
Como seria de esperar, o maior protesto teve lugar em Moscovo, com a participação de umas sete mil pessoas, segundo a polícia – a organização garante que o número é muito superior. Certo é que foram detidas pelo menos 500 pessoas só na capital, entre as quais o organizador, Navalni.
Tanto a manifestação na capital como os protestos em outras cidades – de São Petersburgo a Novosibirsk, de Ecaterimburgo a Vladivostok – foram considerados "actos ilegais" pelas autoridades, pelo que os manifestantes já sabiam que poderiam ser detidos. Para além dos 500 em Moscovo foram detidos pelo menos 30 em Vladivostok, a mais de 9000 quilómetros de Moscovo, e quatro em Ecaterimburgo, a quarta maior cidade do país.
No centro de todos estes protestos está Alexei Navalni, talvez o único nome que ainda não desapareceu totalmente do radar de Vladimir Putin – não só é visto com um dos mais persistentes e bem-sucedidos rostos da oposição, como é o único que continua a viver na Rússia e a confrontar abertamente o Governo, com acusações directas e detalhadas de corrupção, ao contrário do antigo campeão mundial de xadrez Garry Kasparov, por exemplo, que vive em Nova Iorque.
Devido à sua persistência e ao facto de conseguir agitar a política russa de vez em quando, através do seu blogue e do uso das redes sociais para estimular os jovens da classe média das grandes cidades a manifestarem-se contra a corrupção, Alexei Nalvi tem sido visto nos últimos anos como o grande rosto da oposição a Vladimir Putin – mas a sua ligação ao movimento nacionalista étnico russo tem mantido muitos opositores de Putin de pé atrás.
Para uns, apoiar este advogado com pretensões a fragilizar o regime autoritário e repressivo de Moscovo é uma decisão difícil, mas inevitável: estão com Navalni porque o seu carisma é a melhor oportunidade para darem luta a Putin; para outros, a ideia de vê-lo no poder na Rússia é igual a viverem na actual democracia musculada.
Afastado em 2007 do partido de centro esquerda e anti-Putin Yabloko por "actividades nacionalistas", esse passado de Navalni é também aproveitado para lhe colarem um rótulo de nazi – uma acusação que nem os seus maiores críticos na coligação anti-Putin acreditam.
Foi detido várias vezes e condenado a penas suspensas em duas ocasiões, ambas por acusações de fraude que ele e os seus apoiantes dizem ter sido claramente fabricadas para o tentar calar. Por causa dessas condenações está proibido por lei de concorrer à Presidência da Rússia, em 2018, mas garante que vai insistir em ver o seu nome nos boletins de voto. A sua corrida à presidência da câmara de Moscovo, em 2013, teve um resultado muito acima do esperado (27%), mas ainda assim insuficiente para derrubar o candidato apoiado por Vladimir Putin.