Jazz em Agosto abrirá com rap e acabará com electrónica

O jazz vai abrir-se às mais diversas contaminações de 28 de Julho a 6 de Agosto, na Gulbenkian, com nomes como Steve Lehman, Dave Douglas, Peter Brötzmann ou David Torn.

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É uma programação de continuidade, aquela que o Jazz em Agosto revela para este ano. A 34.ª edição do festival que decorre entre 28 de Julho e 6 de Agosto, na Fundação Calouste Gulbenkian, apresentará 14 projectos, entre figuras relevantes do jazz actual com epicentro na América do Norte e no Norte da Europa, com alguns inovadores guitarristas como ponto de referência, e portugueses de diferentes gerações.  

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É uma programação de continuidade, aquela que o Jazz em Agosto revela para este ano. A 34.ª edição do festival que decorre entre 28 de Julho e 6 de Agosto, na Fundação Calouste Gulbenkian, apresentará 14 projectos, entre figuras relevantes do jazz actual com epicentro na América do Norte e no Norte da Europa, com alguns inovadores guitarristas como ponto de referência, e portugueses de diferentes gerações.  

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O músico francês Julien Desprez

Antecipando o programa ao PÚBLICO, o director artístico do festival, Rui Neves acaba por destacar os concertos de abertura e de encerramento do Jazz em Agosto. “São coisas chamativas, com potencial de impacto”, afirma, “seja o caso do novo projecto do saxofonista Steve Lehman, com o nome de Sélébéyone, que abraça o hip-hop com um rapper consagrado, o HPrizm dos Antipop Consortium, e com o rapper senegalês Gaston Bandimic, seja depois no final a ideia de electrónica na música do trompetista Dave Douglas, como High Risk, com uma formação de mais três músicos.”

É um jazz aberto a contaminações, aquele que se poderá ouvir nesses dois espectáculos, com o rap em evidência no primeiro caso e as electrónicas no segundo. “Quando escolhi o Lehman não deixei de pensar na primeira impressão que tive ao ouvir o projecto Buckshot LeFonque que o Brandford Marsalis concebeu nos anos 1990, só que naquele caso ficou confinado ao disco”, revela Rui Neves. Agora, Lehman – que também actuará a solo a 29 de Julho – concebeu, segundo o director artístico do Jazz em Agosto, “algo no mesmo espírito, mas que poderá ser visto em palco"; Douglas, por sua vez, "inspirou-se nas guerras cibernéticas de espionagem e nos territórios sombrios da Internet para conceber a aventura" que trará à Gulbenkian.

Esses dois concertos acontecerão a 28 de Julho e 6 de Agosto, respectivamente. Pelo meio ouvir-se-ão muitas guitarras. “Deve ser o instrumento mais tocado em todo o mundo”, reflecte Rui Neves, “é por isso natural que exista uma contínua regeneração.” Entre os guitarristas escolhidos pelo Jazz em Agosto estará David Torn, no projecto Sun Of Goldfinger, em que se vale da companhia de Tim Berne e Ches Smith. O trio que se apresentará pela primeira vez em Portugal tem suscitado profunda admiração entre gente dos mais diversos quadrantes. Foi o caso de David Bowie, que requisitou os seus serviços na gravação do seu penúltimo álbum.

“David Torn é muito criativo na forma como constrói ambientes fantasmagóricos e é muito original”, afirma Rui Neves, que salienta também o músico francês Julien Desprez, que se mostrará integrando a imprevisível Coax Orchestra ou no contexto da performance Acapulco Redux, que acontecerá numa black box a ser construída no auditório 2.

Contágios

Na visão de Rui Neves, apesar de o jazz ser uma linguagem universal, disseminada pelos quatro cantos do mundo, o seu epicentro mais criativo situa-se no hemisfério norte, nomeadamente nos EUA, no Canadá e nos países escandinavos. O que não impede que o traço principal dos concertos do próximo Jazz em Agosto seja a presença de músicos que ultrapassam barreiras geográficas, forjando novas associações e novas maneiras de pensar o jazz.

“Grupos como os Human Feel, The Fictive Five ou Starlite Motel são quase colectivos de estrelas, mas com uma identidade própria, sendo constituídos por músicos que se têm evidenciado por tocar com muitos outros músicos. É o caso do organista Jamie Saft, de Ingrebrigt Haker Ochs, no baixo eléctrico, do baterista Jim Black ou do guitarrista Kurt Rosenwinkel, tudo personalidades que têm marcado o jazz actual através das muitas participações em projectos multidireccionais.” Uma forma de funcionar que na actualidade se estende para lá dos domínios do jazz, como Rui Neves salienta, lembrando o caso do guitarrista rock Jack White, “que tem três ou quatro projectos diferentes, sabe transformar-se, tocando guitarra ou bateria, conforme o grupo que aborda".

O contrabaixista Pascal Niggenkemper, a solo, ou o saxofonista Peter Brötzmann, uma das figuras mais icónicas do jazz mais livre, que se apresentará na companhia de Heather Leigh, especialista em pedal steel guitar cujo caminho já se cruzou com os de Chris Corsano ou Thurston Moore, serão outros destaques. No ano passado, o veterano Brötzmann lançou dois álbuns, um deles com ligações a Portugal, já que resultou de uma gravação conjunta com os Black Bombaim, grupo de Barcelos com uma abordagem livre ao rock, naquele que acaba por constituir mais um exemplo de contágio entre diferentes linguagens com o jazz no centro dos acontecimentos.