ICNF justifica corte de 1200 árvores em Sintra-Cascais com “melhoria da segurança”

Pinheiros em fim de vida e espécies exóticas estão entre as árvores a abater numa área onde se pretende que as autóctones ganhem espaço.

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Árvores marcadas estão junto à Lagoa Azul, na Serra de Sintra JOAO MATOS

O corte de árvores no Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC), contestado por ambientalistas, tem como objectivo “a melhoria da segurança rodoviária” e combater o aumento de espécies invasoras, informou nesta quinta-feira o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

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O corte de árvores no Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC), contestado por ambientalistas, tem como objectivo “a melhoria da segurança rodoviária” e combater o aumento de espécies invasoras, informou nesta quinta-feira o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

“Os objectivos do abate são a melhoria da segurança rodoviária, retirando todos os exemplares de pinheiro bravo ou cipreste em fim de vida e/ou em mau estado fitossanitário, bem como todos aqueles que apresentem sinais de instabilidade e cuja queda pode afectar a circulação nos arruamentos públicos”, explicou o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

O organismo que tutela o PNSC revelou, em resposta à agência Lusa, que a marcação de arvoredo efetuada junto à Estrada Nacional 9-1, entre a Malveira da Serra e a Lagoa Azul, “inclui cerca de 1200 exemplares arbóreos, na sua maioria em fim de vida, entre pinheiros bravos, acácias e cedros”.

O Partido Ecologista “Os Verdes” anunciou na quarta-feira que vai requerer a audição do presidente do ICNF no parlamento, para esclarecer o abate de árvores no PNSC, lamentando a visão economicista por trás da decisão.

A associação ambientalista Quercus também defendeu que o corte “deve ser cancelado” e reavaliado, por aumentar o risco de proliferação de espécies invasoras.

Segundo o gabinete de valorização de áreas classificadas e comunicação do ICNF, a intervenção nos perímetros florestais da serra de Sintra e da Penha Longa prevê ainda “a eliminação de exemplares em concorrência directa com folhosas autóctones (sobreiros, carvalhos, medronheiros e folhados)”.

“A área de intervenção tem no seu sob coberto diversa regeneração de espécies autóctones que importa beneficiar, não se considerando que a intervenção preconizada venha fomentar o aumento da presença de invasoras, mas sim, pelo contrário, melhorar as condições de desenvolvimento das espécies autóctones”, sustenta o ICNF.

O instituto considera ainda “o abate necessário e urgente, pelo que efectuou o auto-de-marca dos exemplares identificados”, acrescentando que “as árvores a abater serão objecto de alienação do material lenhoso, com base num procedimento público de venda”, que incluirá “a remoção ou tratamento dos sobrantes de exploração”.

“A Quercus acha que o corte deve ser cancelado e deve ser reavaliado, porque duvidamos muito que o corte incida unicamente sobre árvores doentes e em risco, porque temos informação de que não é assim e isso vai fomentar a proliferação de acácias invasoras”, afirmou à Lusa o presidente da Quercus, João Branco.

A organização ambientalista questionou o ICNF sobre a marcação de árvores ao longo de cerca de cinco quilómetros entre a Malveira da Serra e a Lagoa Azul, recusando os alegados motivos de segurança para o corte, incluindo pelo exagero da marcação do arvoredo “numa faixa de 50 metros a partir da estrada”.

“Numa área natural e paisagística desta importância, que é uma área protegida, não se justifica este tipo de cortes de madeira para obtenção de rendimentos, uma vez que o principal uso não deve ser de uma floresta de produção, mas de conservação”, defendeu o engenheiro florestal.

Para João Branco, “o ICNF tem de repensar as políticas florestais nas áreas que gere, porque, com as alterações climáticas, há muitas áreas que ainda estão a ser exploradas para produzir madeira, numa lógica puramente mercantilista”.

“As árvores não se encontram em fim de vida, nem em mau estado fitossanitário, nem em concorrência directa com as espécies autóctones, que escasseiam nas áreas a intervir”, contrapôs à Lusa uma fonte dos serviços do ICNF, que pediu para não ser identificada.

A associação cultural Alagamares também se manifestou, em comunicado, “contra o abate de árvores em massa”, advogando que “não é só a situação fitossanitária que deve ser tida em conta, mas também o direito à imagem, que conforma a paisagem, e contou sobremaneira na classificação de Sintra como Paisagem Cultural” pela UNESCO.

A organização sintrense informou que, no sábado, irá “plantar 50 árvores em Monserrate”, como protesto contra “o triunfo da moto serra”.