Ordem dos Médicos preocupada com baixas médicas desnecessárias
Estudo da Deco mostra que um em cada cinco clínicos recebem pedidos deste tipo e 8% confessam que acabam por ceder aos doentes.
O bastonário da Ordem dos Médicos considera preocupantes os dados de um estudo da Deco que indicam que um em cada cinco médicos recebem pedidos de baixas médicas desnecessárias e 8% confessam que acabam por ceder aos doentes. "São dados preocupantes (...). Essa pressão sempre existiu e provavelmente é maior nos dias que correm dadas as circunstâncias em que vivemos, com dificuldade económica e financeira, muita pressão no trabalho, em todos os lados tentam fazer mais com o mesmo e isso também acontece na medicina", disse à agência Lusa Miguel Guimarães. O bastonário sublinha que considera preocupante não só a pressão para as baixas, mas também para os meios complementares de diagnóstico e a prescrição de medicação.
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O bastonário da Ordem dos Médicos considera preocupantes os dados de um estudo da Deco que indicam que um em cada cinco médicos recebem pedidos de baixas médicas desnecessárias e 8% confessam que acabam por ceder aos doentes. "São dados preocupantes (...). Essa pressão sempre existiu e provavelmente é maior nos dias que correm dadas as circunstâncias em que vivemos, com dificuldade económica e financeira, muita pressão no trabalho, em todos os lados tentam fazer mais com o mesmo e isso também acontece na medicina", disse à agência Lusa Miguel Guimarães. O bastonário sublinha que considera preocupante não só a pressão para as baixas, mas também para os meios complementares de diagnóstico e a prescrição de medicação.
De acordo com o estudo da Defesa do Consumidor, quase metade (48%) dos médicos inquiridos assume que, todas as semanas, prescreve exames desnecessários apenas porque o doente insiste. "É preciso fazer algo na relação médico/doente. É preciso que a relação entre médicos e doentes seja reforçada em termos de tempo e de comunicação porque vai permitir que haja maior empatia entre as pessoas e essa maior empatia pode conseguir resolver alguns problemas apontados neste inquérito", defendeu.
O bastonário da Ordem dos Médicos sublinha que a comunicação e o tempo das consultas são essenciais para que o médico consiga explicar ao doente que ele não precisa de fazer determinado exame ou de tomar aquele medicamento de que julga precisar. "Se tiver um doente que vai ao meu consultório e acha que tem uma infecção e que precisa de um medicamento e se eu chegar à conclusão que ele não precisa, eu tenho de ter tempo para lhe explicar porque é que ele não precisa e dizer que o antibiótico pode até ser mais prejudicial para ele", exemplificou.
Para Miguel Guimarães, os médicos, neste momento, "estão a ser demasiado pressionados naquilo que é o exercício da medicina, pelo tempo e pelos doentes". "No SNS [Serviço Nacional de Saúde] a falta de tempo é constante em todos os serviços, desde os cuidados primários até aos hospitais", afirmou.
Outro dos dados apurados no estudo da Deco indica que quase metade dos médicos confessam que gostariam de dedicar mais tempo aos doentes, mas têm uma agenda muito preenchida: "Seis em cada dez atendem mais de 20 pacientes por dia, sendo que, para dois em cada dez o número é superior a 30", refere o documento. Confrontado com estes dados, o bastonário diz: "mais de 20 já são muitos, mais de 30 é uma barbaridade".
"No dia-a-dia, uma das queixas mais comuns dos médicos é que acabam por ter muitos mais doentes nas consultas do que deviam de ter. Os médicos também têm responsabilidade porque vão cedendo ao sistema, mas entre o que o médico acha que deve fazer e o excesso de doentes marcados (...) as consultas são feitas a correr", defende Miguel Guimarães.
O bastonário aponta ainda os quatro passos que, segundo defende, são essenciais para que as coisas melhorem: a comunicação entre médico e doente, a utilização dos sistemas informáticos, a possibilidade de os médicos tirarem dúvidas com colegas e o tempo para explicar ao doente o que lhe vai ou não fazer. "Este último passo, que é fundamental nesta sequência, é o passo mais prejudicado porque é o último e o médico já está atrasado e tem doentes à espera", afirmou Miguel Guimarães, concluindo: "Se explicarmos bem aos doentes, estes deixam de fazer a pressão e a relação medico/doente é mais benéfica".
O estudo da Deco, feito entre Setembro e Outubro de 2016, obteve respostas de 1013 pacientes e 281 médicos de família.