Ordem critica ministro da Saúde pelo recurso a médicos tarefeiros

"Não se sabe quem são os médicos que vão aparecer no serviço de urgência", diz o bastonário.

Foto
Bastonário diz que a Ordem "tudo fará" para que os médicos que trabalham no SNS sejam de facto contratados Enric Vives-Rubio

O bastonário da Ordem dos Médicos criticou esta quarta-feira o ministro da Saúde pelo recurso à contratação de médicos tarefeiros, apontando que "tudo fará" para que os médicos que trabalham no Serviço Nacional de Saúde (SNS) sejam de facto contratados.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O bastonário da Ordem dos Médicos criticou esta quarta-feira o ministro da Saúde pelo recurso à contratação de médicos tarefeiros, apontando que "tudo fará" para que os médicos que trabalham no Serviço Nacional de Saúde (SNS) sejam de facto contratados.

"Acho profundamente lamentável que o nosso ministro da Saúde que é médico, que foi um dos grandes defensores de contratar os médicos para o serviço de saúde e de acabar progressivamente com a contratação de médicos através de empresas prestadoras de serviços, seja exactamente no seu mandato em que a contratação de médicos através de empresas prestadoras de serviços atingiu o seu valor mais alto", disse Miguel Guimarães, à margem de uma visita ao Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.

O bastonário considerou que esta situação "tem repercussões na qualidade da medicina que se pratica em Portugal", apontando que "as empresas prestadoras de serviços não têm face".

"Não se sabe quem são os médicos que vão aparecer no serviço de urgência. Estamos a falar, na maior parte dos casos de serviço de urgência. As pessoas nem sempre têm as qualificações que deveriam ter para prestar serviço de urgência com qualidade, uma área nobre do sistema de saúde do país", disse o bastonário.

Miguel Guimarães frisou que "o problema já existia no tempo de Paulo Macedo [antigo ministro da Saúde] e continua a existir com Adalberto Campos Fernandes" e avançou que a Ordem dos Médicos "vai fazer tudo para que os médicos que são necessários no SNS sejam de facto contratados".

O bastonário defendeu que a política de contratação de pessoas tenha uma estratégia diferente, aconselhando o Governo "a ficar com os jovens valores que se formam em Portugal", sendo que, para que isso aconteça na área da Medicina, Miguel Guimarães diz que é preciso "melhorar as condições de trabalho".

"Se não o fizer, [o Governo] vai perdendo os jovens, vai perdendo a capacidade de renovação de quadros e vai perdendo a capacidade de acompanhar a nova Medicina e a evolução de Medicina. Sem os jovens o SNS fica mais fraco. É preciso fazer um esforço adicional para captar os jovens para o SNS, se não eles vão optar por trabalhar apenas no sector privado e muitos deles, já são uns milhares, optam mesmo por emigrar", disse Miguel Guimarães.

Pais podem assistir a cesarianas?

Também confrontado com o facto de a lei permitir que os pais assistam às cesarianas mas existirem muitos médicos e hospitais que não o permitem - o PÚBLICO noticiou esta quarta-feira que a própria Ordem dos Médicos não quer que os pais assistam - o bastonário defendeu que a decisão deve ser tomada pelo chefe de equipa médica.

"A decisão, seja numa cesariana, seja em outra cirurgia qualquer de um familiar - no caso da cesariana, o pai da criança - poder assistir tem de depender do chefe da equipa cirúrgica. Não pode ser de outra forma. O que queremos quando existem cirurgias é que corram da melhor forma possível. A equipa tem de estar a trabalhar de forma serena e pacífica", disse Miguel Guimarães.

O bastonário referiu que "se alguns cirurgiões, até muitos, acham que a presença do pai não tem interferência e autorizam, a verdade é que outros cirurgiões, por feitio, preferem operar sem a pressão de ter um familiar ao lado".

"Isto tem de ser respeitado. Operar um doente é uma coisa séria", concluiu.