Morreu Martin McGuinness, figura-chave do IRA e do processo de paz na Irlanda do Norte
Vice-primeiro-ministro desde 2007, o ex-presidente do Sinn Féin demitiu-se no início deste ano em desacordo com a líder unionista da coligação, provocando eleições. Sofria de uma rara doença genética. Tinha 66 anos.
O ex-vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte Martin McGuinness morreu aos 66 anos, na sequência de uma rara doença genética. Foi uma figura central nas últimas décadas, passando da luta armada para a política como destacado membro do Sinn Féin. Tornou-se, ao longo dos anos, um defensor do processo de paz, no qual desempenhou um papel preponderante ao lado de Gerry Adams.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O ex-vice-primeiro-ministro da Irlanda do Norte Martin McGuinness morreu aos 66 anos, na sequência de uma rara doença genética. Foi uma figura central nas últimas décadas, passando da luta armada para a política como destacado membro do Sinn Féin. Tornou-se, ao longo dos anos, um defensor do processo de paz, no qual desempenhou um papel preponderante ao lado de Gerry Adams.
Presidente do partido republicano Sinn Féin, Adams foi a voz que esta manhã de terça-feira confirmou a morte de McGuiness. “Era um republicano apaixonado que trabalhou sem descanso pela paz, a reconciliação e a reunificação do seu país”, lê-se no comunicado partilhado na página do partido.
“Durante a sua vida, Martin mostrou uma grande determinação, dignidade e humildade e não foi em nada diferente durante a sua curta doença”, acrescenta.
McGuinness foi um dos dirigentes do Exército Republicano Irlandês (IRA) que combateu a presença britânica na Irlanda do Norte durante os 30 anos de conflito, mas foi também um dos principais intervenientes no processo que levou o movimento clandestino a depor as armas e um negociador essencial do Acordo de Belfast (também conhecido como o acordo de paz de Sexta-feira Santa de 1998).
A 30 de Janeiro de 1972 o Regimento de Paraquedistas das Forças Armadas Britânicas disparou sobre vários manifestantes em Londonderry (os republicanos rejeitam este nome, chamam-lhe Derry), cidade natal de McGuiness, num protesto contra a política do Governo britânico de prender centenas de pessoas, suspeitas de pertencerem ao IRA, sem julgamento prévio. Foram mortas 14 pessoas. Com 21 anos, McGuiness era, à data, o número dois no comando da Brigada de Derry do IRA. O dia ficou gravado na História como Bloody Sunday (Domingo Sangrento).
Ainda nesse ano, foi enviado para Inglaterra, juntamente com Gerry Adams, para iniciar negociações com o então secretário de Estado da Irlanda do Norte, Willie Whitelaw, em nome do IRA. Uma viagem que marcou a sua amizade com Adams.
McGuiness terá abandonado o IRA dois anos depois, em 1974, mas alguns especialistas acreditam que ainda estava a cargo da organização durante os ataques dos anos de 1980, escreve a BBC.
Ministro da Educação entre 1999 e 2002, tornou-se vice-primeiro-ministro em 2007. Estava afastado da política desde o início deste ano. A 9 de Janeiro, resignou do seu cargo de vice-primeiro-ministro devido a um desentendimento com a primeira-ministra, Arlene Foster, do Partido Democrático Unionista (DUP), por esta se recusar deixar o cargo durante uma investigação a um escândalo político que afectou os cofres públicos e no qual o seu nome estava envolvido, quando à data desempenhava a função de secretária para o Comércio de Investimento. O seu afastamento obrigou ao agendamento de eleições antecipadas.
Este mês, a Irlanda do Norte foi a votos e o Sinn Féin reduziu para apenas um deputado a diferença em relação ao DUP (na configuração anterior da Assembleia tinha mais dez lugares). No hemiciclo de 90 lugares, os dois partidos elegeram 28 e 29 deputados, respectivamente.