Portugal tem taxa de co-infecções de tuberculose e VIH acima da média

Novo relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças antecipa o Dia Mundial da Tuberculose. Portugal tem taxa de co-infecção três vezes superior à média observada em 19 países comunitários.

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Quem sofre de co-infecção enfrenta um risco sete vezes maior de não ver o tratamento funcionar e um risco três vezes maior de morrer Manuel Roberto

O número de novos casos de tuberculose continua a cair na Europa, mas há grupos que contrariam esta tendência, a começar pelo dos seropositivos, alerta o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, a antecipar o Dia Mundial da Tuberculose, que se assinala na sexta-feira. Em Portugal também cresceu o número de pessoas que têm, simultaneamente, tuberculose e VIH.

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O número de novos casos de tuberculose continua a cair na Europa, mas há grupos que contrariam esta tendência, a começar pelo dos seropositivos, alerta o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, a antecipar o Dia Mundial da Tuberculose, que se assinala na sexta-feira. Em Portugal também cresceu o número de pessoas que têm, simultaneamente, tuberculose e VIH.

De acordo com o relatório do centro europeu, 1513 pessoas diagnosticadas com tuberculose fizeram o teste de VIH em 2015 em Portugal. O teste deu positivo em 219 casos, o que corresponde a uma taxa de 14,5% de co-infecção. Esta incidência é mais de três vezes superior à média observada nos 19 países da União Europeia/Espaço Económico Europeu que forneceram este tipo de informação.

O ponto de partida até é positivo. A tuberculose aumentou muito na década de 90, mas está a recuar desde 2000. Nos 53 países que fazem parte da Região Europeia da Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 2011 e 2015 verificou-se uma queda de novas infecções na ordem dos 4,3%. No número de mortes, a redução foi ainda maior: 8,5%. Só que as novas co-infecções tuberculose/VIH aumentaram 40%.

Num total de 206 mil pessoas com diagnóstico de tuberculose na Europa, 181 mil fizeram teste de VIH. O resultado foi positivo para cerca de 16 mil, o que representa 9%, bem mais do que os 5,5% verificados em 2011. Estes dados geram preocupação, uma vez que quem sofre de co-infecção enfrenta um risco sete vezes maior de não ver o tratamento funcionar e um risco três vezes maior de morrer. 

A Europa, já se sabe, não é toda igual. A tendência da região é muito influenciada pelos países da Europa de Leste, sobretudo a Rússia e a Ucrânia, refere o relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. Nos países da União Europeia/Espaço Económico Europeu até há uma diminuição das co-infecções reportadas: de 6% em 2011 para 4,6% em 2015.

Há que relativizar a média atribuída ao espaço comunitário. Como já foi referido, só 19 países comunicaram dados sobre tuberculose/VIH. Acresce que essa informação era conhecida apenas num em cada três casos.

Portugal é um dos países que recolhem este tipo de informação. Testou 71,2% das pessoas com diagnóstico de tuberculose. E contraria a tendência observada no espaço comunitário, já que a taxa de co-infecção de tuberculose/VIH é de 14,5%. O gráfico que consta dos anexos do relatório mostra uma ligeira subida entre 2014 e 2015, tendência que já vinha do ano anterior.  

"O recrudescimento das co-infecções TB/VIH entre 2011 e 2015 aliado às taxas persistentemente altas de tuberculose resistente aos antibióticos ameaçam seriamente os progressos realizados no sentido de acabar com a tuberculose, o objectivo que os líderes europeus e mundiais se comprometeram a alcançar até 2030”, comenta Zsuzsanna Jakab, director Regional da OMS para a Europa numa nota emitida pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças. "Uma em cada três pessoas co-infectadas com TB/VIH desconhecem a sua condição, o que reduz drasticamente as hipóteses de tratamento. Por sua vez, isso favorece a propagação das doenças, colocando os sistemas de saúde e os governos sob pressão."

Aquém da meta

Em 2015, no Espaço Económico Europeu, 22 países já estavam abaixo de 10 casos de tuberculose por cada 100 mil, a meta definida pelos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável 2030. Portugal permanecia longe disso. Continuava a liderar a taxa de incidência na Europa Ocidental.

O relatório indica uma taxa de 20,5 por cada cem mil habitantes em Portugal. Os números, contudo, não batem certo com os da Direcção-Geral de Saúde (DGS). Pelas contas da DGS, Portugal estava, pela primeira vez, "abaixo da linha vermelha" dos 20 casos por 100 mil habitantes.

O director-geral de Saúde, Francisco George, já esclareceu, num comunicado emitido em Outubro, que Portugal não lida com estimativas, mas com números exactos de casos diagnosticados e tratados. Não se justifica, por isso, aplicar ao país estimativas, que têm uma margem de erro, como faz a OMS. Em 2015, especificou George, a taxa de incidência de tuberculose em Portugal era de 19,2 casos por cem mil habitantes. Nesse ano, foram diagnosticados e comunicados 1987 novos casos da doença, de um total de 2158.

Em Portugal, como em quase todo o espaço comunitário, a tuberculose começa a ser uma doença que atinge apenas alguns grupos mais vulneráveis. Além dos seropositivos, na linha da frente estão os reclusos e os imigrantes. “Temos de direccionar melhor o nosso esforço, se quisermos acabar com a epidemia de tuberculose", sublinha Andrea Ammon, da direcção do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças.

Na Europa, as prioridades para a OMS sobre esta matéria recaem na Arménia, no Azerbaijão, na Bielorrússia, na Bulgária, na Estónia, na Geórgia, no Cazaquistão, na Letónia, na Lituânia, na Moldávia, na Roménia, na Rússia, na Tajiquistão, na Turquia, no Turquemenistão, na Ucrânia e no Uzbequistão.