CGD procura dinheiro em Londres e Paris
Banco público começa este segunda-feira em Londres a convencer os privados a comprar 500 milhões em obrigações. Depois será a vez de Paris.
Almoço de grupo e conversas a dois, seguindo-se mais um pequeno-almoço no dia seguinte. É desta forma que, esta segunda-feira em Londres, a principal praça financeira na Europa, os responsáveis da Caixa Geral de Depósitos (CGD) vão dar o pontapé de saída para convencer investidores a emprestarem-lhe dinheiro.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Almoço de grupo e conversas a dois, seguindo-se mais um pequeno-almoço no dia seguinte. É desta forma que, esta segunda-feira em Londres, a principal praça financeira na Europa, os responsáveis da Caixa Geral de Depósitos (CGD) vão dar o pontapé de saída para convencer investidores a emprestarem-lhe dinheiro.
Mais concretamente, a aplicarem 500 milhões de euros em dívida perpétua emitida pelo banco público, ou seja, sem prazo definido para o reembolso, servindo os juros como componente remuneratória.
De fora ficam os pequenos investidores, tendo a CGD garantido desde logo que a emissão de dívida, a concretizar no quadro da recapitalização negociado com Bruxelas, é dirigida “exclusivamente a investidores institucionais”, como nomeadamente fundos de investimento, hedge funds, fundos de pensões e seguradoras.
A questão que se coloca, neste momento, não é se o banco público consegue colocar os 500 milhões da emissão obrigacionista, mas sim a que preço. Quanto melhor conseguir vender, menos esforço terá a CGD depois de fazer para remunerar os investidores. No caso do capital contigente emprestado pelo Estado, o juro a pagar chegou a rondar os 10%, o que obrigou o banco, só em 2015, a pagar 81 milhões de euros ao Estado.
A ajudar a gestão liderada por Paulo Macedo está um pequeno grupo de bancos especializados e que reúne, para além da Caixa – Banco de Investimento, o Deutsche Bank, o J. P. Morgan e o Citi.
Ao mesmo tempo que estiver a decorrer o pequeno-almoço em Londres, esta terça, também Lisboa irá funcionar como palco de angariação de fundos, antes de aterrarem em Paris na quarta-feira para novo almoço (e respectivos encontros). Além de Paulo Macedo, a operação envolve o administrador financeiro, José Brito, Francisco Cary, administrador, Bruno Costa, responsável pela área de financiamento, Luís Martins, responsável pela ligação com investidores, e Marco Azevedo, ligado aos mercados financeiros.
De acordo com o Jornal de Negócios, a emissão vai ser efectuada pela CGD a partir do Luxemburgo, onde o banco tem uma sucursal, já que a praça financeira tem-se especializado neste tipo de angariação de capital (que conta para os rácios de solidez).
O recurso a dívida perpétua tem sido praticado por vários bancos em Portugal, como aconteceu com o BCP e BES, por exemplo, que acabaram por avançar com uma proposta de conversão das obrigações em acções.
Este tipo de dívida é visto como mais arriscado já que os seus detentores são os últimos a ser ressarcidos em caso de colapso do emitente. Do ponto de vista da CGD, e dentro do que foi negociado com Bruxelas, consegue-se provar que é possível ir buscar dinheiro aos investidores privados num tipo de obrigações que, como refere um responsável do sector, “não sendo capital social, é o mais aproximado disso”.
Segundo dados do regulador do mercado de capitais, a CMVM, há 16 emissões em vigor, com a mais antiga a datar de 1997 e ligado ao BCP/Banco Pinto & Sotto Mayor. As mais recentes são de meados do ano passado e foram emitidas pelo Haitong Bank (ex-BESI), no valor de 80 milhões, e Santander Totta, com 300 milhões.
Após a emissão destes 500 milhões de euros, que Paulo Macedo já disse querer efectuar ainda este mês, a CGD tem 18 meses para ir ao mercado buscar mais 430 milhões. Só então ficará fechada a vertente do reforço de capital do banco público negociada com Bruxelas. Aos 930 milhões dos privados somam-se 1444 milhões já aplicados (via da absorção do capital contingente, os CoCos, e de 498,9 milhões de 49% da Parcaixa) e 2500 milhões de “dinheiro fresco” que falta injectar.