Morreu Chuck Berry, o génio conceptual do rock 'n' roll
O autor e intérprete de Roll over Beethoven e Johnny B. Goode tinha 90 anos. Deixou ainda um álbum gravado com o seu nome, Chuck, o primeiro em quase 40 anos.
É caso para dizer: pais, o rock ‘n’ roll tem muitos! Mas entre eles, e logo na primeira linha, está seguramente o nome de Chuck Berry. Há, claro, Elvis Presley (1935-1977), mas quando o autor e intérprete de Love me tender começa a gravar os seus primeiros temas em meados dos anos 50, já Berry andava “na estrada” há bastante tempo, desde que na década anterior se fizera notar ainda no liceu que frequentava nos arrabaldes de St. Louis, onde nascera em 1926.
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É caso para dizer: pais, o rock ‘n’ roll tem muitos! Mas entre eles, e logo na primeira linha, está seguramente o nome de Chuck Berry. Há, claro, Elvis Presley (1935-1977), mas quando o autor e intérprete de Love me tender começa a gravar os seus primeiros temas em meados dos anos 50, já Berry andava “na estrada” há bastante tempo, desde que na década anterior se fizera notar ainda no liceu que frequentava nos arrabaldes de St. Louis, onde nascera em 1926.
Chuck Berry morreu este sábado, aos 90 anos, na sua casa no estado do Missouri. A morte foi confirmada pela polícia do condado de St. Charles, depois de uma equipa de emergência médica ter sido chamada à sua residência em Buckner Road, onde o músico foi encontrado já sem vida, junto da família.
Este ícone do rock norte-americano tinha anunciado em Outubro do ano passado, quando completou 90 anos, o lançamento do seu 20.º álbum de estúdio, Chuck, o primeiro que gravaria desde 1979. De acordo com a revista Rolling Stone, Chuck Berry gravou o disco com os antigos elementos da sua banda e com os filhos Charles e Ingrid.
Foi também esta revista que, no obituário que lhe dedica, chama a atenção para um autor que marcou os primeiros anos da história do rock ‘n’ roll com as suas “canções divertidas, ágeis riffs de guitarra” e uma “movimentação em palco que mais parecia a de um pato”, que muito influenciariam as décadas seguintes.
E se é impressionante o coro de reacções de músicos que, na sequência da sua morte, se reivindicam como devedores de Chuck Berry, entre os mais significativos estão sem dúvida os Rolling Stones, que, em comunicado citado pela revista (quase) homónima, lamentaram o seu desaparecimento. “Chuck Berry foi um verdadeiro pioneiro do rock ‘n’ roll e uma influência marcante para nós. Chuck não era não apenas um brilhante guitarrista, cantor e performer; mais importante do que isso, ele era um mestre na arte de compor canções. As suas canções viverão para sempre”.
E o guitarrista Keith Richards sintetizou assim o seu estado de espírito: “Uma das minhas grandes luzes apagou-se”. Já Bruce Springsteen classificou-o como “um dos maiores músicos rock, guitarrista e compositor de rock ‘n’ rol que já viveram”, e lamentou “a perda imensa, a perda de um gigante”. O ex-Beatle Ringo Starr deixou-lhe como mensagem: "Descansa em paz e amor, Mr. Rock ‘n’ Roll”.
Nascido em 18 de Outubro de 1926, em St. Louis, Charles Edward Anderson Berry começou a tocar guitarra no liceu, onde impressionou os seus colegas estudantes com a sua guitarra e a interpretação de uma versão de Confessin’ the blues. Os blues, como a música country, e o gospel que aprendera na infância, associados a uma vivência das tensões raciais e conflitos de classe do seu meio envolvente – na adolescência, Chuck Berry chegou a ser preso por tentativa de roubo e passou três anos num centro educativo, trabalhando depois numa fábrica –, viriam a marcar a sua música.
“Os fraseios da sua guitarra ligavam a cadência distendida da country com o registo mais directo do blues”, e o modo como cantava as suas narrativas ligeiras e telegráficas, reivindicando os prazeres do momento, escondia um desafio às convenções”, escreve o jornalista do New York Times Jon Pareles.
“Enquanto Elvis Presley foi a primeira estrela pop e o primeiro ídolo dos adolescentes, Berry foi o seu mestre teórico e génio conceptual, o compositor que percebeu o que os jovens queriam antes de se conhecerem a si mesmos”, acrescenta o jornalista, citando canções como Roll over Beethoven (1956), ou Johnny B. Goode (1958).
Foi, de resto, na década de 50 que Chuck Berry se tornou músico a tempo inteiro, lançando em 1957 o seu primeiro álbum de originais, After School Session. Em perto de uma vintena de outras edições de estúdio, com recepções diferenciadas, Berry obteria o maior êxito de vendas em 1972, com a canção My ding-a-ling, gravada num concerto ao vivo em Iglaterra para o álbum The London Chuck Berry Sessions.
A partir dessa data, foi o apagamento, o que não impediu o músico de ir vendo reconhecido o seu papel na história do rock: em 1977, quando a agência espacial norte-americana NASA enviou para o espaço dois discos com música representativa do que era criado na Terra, a única canção de rock and roll na lista era Johnny B. Goode; em 1984, a sua carreira foi finalmente distinguida com um Grammy especial; dois anos depois, foi um dos primeiros artistas a entrar para o Rock and Roll Hall of Fame; e em 1987, viu a sua vida documentada no filme Chuck Berry Hail! Hail! Rock 'n' Roll, de Taylor Hackford.
“Como realizador, estás habituado a controlar as coisas, mas com o Chuck Berry, nunca o conseguias. Era como montar um cavalo selvagem; ele tirava-nos sempre o tapete. Era um homem fácil? De maneira nenhuma. Nunca ninguém vai saber o que realmente se passava na sua cabeça”, disse Hackford, citado pela Reuters, sobre a sua experiência de trabalho com o autor de Maybellene.
Mas a obra de Chuck Berry não acaba aqui. Ainda vamos poder ouvi-lo de novo em Chuck, talvez ainda este ano. Com Aline Flor
Noticia actualizado às 17h45