Por terra e por mar, eles estão a partir

Os programas de apoio à classe média e aos mais desfavorecidos foram penalizados e o regime endureceu à medida que a contestação política subiu de tom.

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Um supermercado em Caracas, 2015 Jorge Silva/Reuters

Já foi um dos países mais abastados da América Latina, atraindo, devido ao seu petróleo, imigrantes de toda a Europa. Mas a chegada de Hugo Chávez e do socialismo bolivariano ao poder levou milhares de venezuelanos a sair do país, sobretudo da classe média alta e gente ligada às multinacionais nacionalizadas. Agora, está em curso uma segunda vaga de emigração — são venezuelanos bastante mais pobres, que fogem dos empregos precários e mal pagos, da escassez de alimentos e medicamentos, e que procuram países vizinhos como a Colômbia, o Brasil e os Estados Unidos.

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Já foi um dos países mais abastados da América Latina, atraindo, devido ao seu petróleo, imigrantes de toda a Europa. Mas a chegada de Hugo Chávez e do socialismo bolivariano ao poder levou milhares de venezuelanos a sair do país, sobretudo da classe média alta e gente ligada às multinacionais nacionalizadas. Agora, está em curso uma segunda vaga de emigração — são venezuelanos bastante mais pobres, que fogem dos empregos precários e mal pagos, da escassez de alimentos e medicamentos, e que procuram países vizinhos como a Colômbia, o Brasil e os Estados Unidos.

No ano passado, 150 mil venezuelanos abandonaram o país.

"Estamos a assistir a uma grande aceleração", disse a The New York Times Tomás Páez, professor na Universidade Central da Venezuela que estuda os padrões da emigração venezuelana. Páez diz que nos últimos 18 meses saíram 200 mil pessoas. "Os pais estão a dizer que preferem despedir-se dos filhos num aeroporto do que num cemitério", afirmou.

A Venezuela deixou de publicar estatísticas quando a crise económica e social se agravou. Não há dados com origem em Caracas sobre economia ou demografia. Há estimativas, e elas dizem que entre 700 mil e dois milhões de venezuelanos emigraram desde 1999, o ano em que Chávez chegou ao poder — manteve-se na presidência até morrer, em 2013. Antes, nomeou Nicolás Maduro seu sucessor.

Foi Maduro quem apanhou a queda vertiginosa do preço do petróleo, que começou a abrir a grave crise em que o país se encontra. Os programas de apoio à classe média e aos mais desfavorecidos foram penalizados e o regime endureceu à medida que a contestação política subiu de tom.

O endurecimento do regime tornou-se uma arma que a nova diáspora usa para saír do país — apesar de serem sobretudo emigrantes económicos, os venezuelanos pedem asilo político, o meio mais fácil de poderem ser aceites noutro país.

O asilo político tem sido pedido sobretudo pelos que rumam aos Estados Unidos — entre 2015 e 2016, o número de pedidos de asilo político de venezuelanos que chegam aos EUA subiu 150%, segundo os dados da agência noticiosa norte-americana UPI. Ultrapassaram os mexicanos e guatemaltecos, que são agora os segundos e terceiros nos pedidos de asilo nos EUA.

A taxa de sucesso destes pedidos tem sido alta, o que incentiva as partidas. Segundo os números da Segurança Interna americana, entre 2008 e 2015 foram feitos 8757 pedidos de asilo de venezuelanos e 6773 foram concedidos. Em 2015, 197 mil venezuelanos viviam nos EUA, segundo as Nações Unidas. Os outros países com mais população venezuelana são a Espanha (151.594), Itália (48.970), Colômbia (46.614) e Portugal (23.404).

Mas os venezuelanos fogem sobretudo da crise que empobreceu a população. A queda do preço do petróleo reduziu drasticamente as importações, criou escassez de bens alimentares e de medicamentos e provocou uma hiperinflação (155% no Verão do ano passado, segundo a Bloomberg), um brutal aumento de desemprego (160%) e uma subida da criminalidade (90 homicídios por cem mil habitantes em 2015).

"Há uma sociedade paralizada, desiludida e desesperada", diz a UPI. "Estas circunstâncias levaram milhares de empregados precários, famintos e frustrados a emigrar. Por terra e por mar, eles estão a partir."