A leitura não é só para “betinhos” e “cromos”
As bibliotecas escolares querem tornar a leitura “uma moda persistente e boa”, qualquer que seja o suporte. Isto para que os alunos se tornem “bons cidadãos e não apenas pessoas cheias de conteúdos”
A competição entre a leitura e outras actividades é muitas vezes ganha pelas outras actividades, mas as bibliotecas podem dar uma ajuda para contrariar essa prática da nova geração de alunos, habituados a “leituras fragmentadas”, diz Isabel Mendinhos, da Rede de Bibliotecas Escolares. “É importante tornar a leitura algo que não é só para ‘betinhos’ e ‘cromos’”, defende.
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A competição entre a leitura e outras actividades é muitas vezes ganha pelas outras actividades, mas as bibliotecas podem dar uma ajuda para contrariar essa prática da nova geração de alunos, habituados a “leituras fragmentadas”, diz Isabel Mendinhos, da Rede de Bibliotecas Escolares. “É importante tornar a leitura algo que não é só para ‘betinhos’ e ‘cromos’”, defende.
Ir ao encontro de problemas e interesses dos jovens e a partir daí conquistá-los para a literatura e para a poesia, mesmo que conhecida e lida através de “um qualquer aparelho electrónico”, é um dos procedimentos sugeridos por Fernando Pinto do Amaral, do Plano Nacional de Leitura. “Eles ouvem muita música. A partir das letras, podemos trazê-los para a poesia”, exemplifica.
Os alunos têm de ser “bons cidadãos e não apenas pessoas cheias de conteúdos”, defende o escritor brasileiro Clovis Levi.
Ideias debatidas no primeiro dia do ciclo de debates do 3.º Encontro de Literatura Infanto-Juvenil da Lusofonia, que decorre até sábado na Fundação O Século, em S. Pedro do Estoril.
José Fanha, organizador do encontro, lembrou a importância da ida dos escritores às escolas, nesta edição alcançando cerca de mil alunos de Lisboa, Cascais, Oeiras, Sintra e Amadora. O autor entende que estas visitas são momentos privilegiados de conhecimento das crianças e jovens e devem ser usados para falar de “assuntos difíceis”. Não podem ser “apenas pretexto para os escritores dizerem umas gracinhas, como se fossem uma espécie de ‘palhaços da palavra’”, diz.
De temas difíceis, como “infância roubada”, “morte” e “sexualidade”, tem prática Clovis Levi, também professor de Teatro, que diz: “Escrevo sobre aquilo que me atormenta.” Diz ainda que “inveja” as bibliotecas portuguesas e lamenta que no Brasil o Plano Nacional de Bibliotecas Escolares tenha sido suspenso pelo actual executivo, criando muitas dificuldades a “editores, autores e gráficas”, que deixaram de contar com as compras de obras por parte do Governo.
Da plateia e de Cabo Verde veio um lamento ainda maior, pela voz do escritor Odair V. Rodrigues: “Nós nem temos plano do Plano. Ainda estamos na fase de resolver a produção do livro escolar.” O autor participaria mais tarde na mesa “Oratura e literatura na lusofonia”, com António Torrado (Portugal), Teresa Noronha (Moçambique) e Eliana Yunes (Brasil).
Fernando Pinto do Amaral lembrou que recentemente se assinalaram os 30 anos da Rede de Bibliotecas Públicas, os 20 anos da Rede de Bibliotecas Escolares e os dez do Plano Nacional de Leitura, para concluir que “só de forma integrada e continuada se pode alcançar bons resultados”. E sublinhou: “Sem os professores e sem as direcções das escolas não conseguimos fazer nada.”