Sociedade Portuguesa de Matemática diz que novo perfil do aluno não promove aprendizagens
Documento do Ministério da Educação está em consulta pública até esta segunda-feira.
A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) considera que o perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória, proposto pelo Ministério da Educação (ME), não vai proporcionar aos estudantes “reais possibilidades de aprendizagem ao longo de todo o seu percurso escolar”.
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A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) considera que o perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória, proposto pelo Ministério da Educação (ME), não vai proporcionar aos estudantes “reais possibilidades de aprendizagem ao longo de todo o seu percurso escolar”.
Num parecer ao documento divulgado nesta segunda-feira, última dia em que o perfil do aluno se encontra em consulta pública, a SPM, que foi durante anos presidida pelo ex-ministro da Educação Nuno Crato, frisa que para aquela aprendizagem ser possível é necessária “uma valorização do conhecimento, aliado à exigência e rigor, bem como objectivos claros para o ensino”. O que, segundo a SPM, não se encontra no perfil que foi elaborado, a pedido do ME, por um grupo de trabalho liderado pelo ex-ministro da Educação Guilherme d’Oliveira Martins.
“Esta proposta, bem como as alterações curriculares que dela podem vir a decorrer, encerram o perigo de conduzir as escolas a actividades pedagógicas desorganizadas e sem conteúdos claros, fruto de uma imposta doutrinação metodológica”, alerta a SPM, acrescentando que esta mudança pode acabar por “reverter alguns dos bons desempenhos recentemente obtidos, nomeadamente em matemática, pelos alunos portugueses”. Foi o caso do TIMSS, destinado a alunos do 4.º ano, com os portugueses a ficarem à frente dos finlandeses. E também do PISA, que é realizado por alunos de 15 anos, com estes a ficarem pela primeira vez à frente da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, que promove esta avaliação.
Segundo a SPM, o perfil do aluno que está agora em cima da mesa “é um documento pouco claro”, com “princípios vagos” e que “não traduz a evolução moderna do conhecimento sobre a aprendizagem e o ensino”. São princípios que estiveram “em voga” num tempo em que “os desempenhos dos nossos alunos eram bem mais fracos do que aqueles que hoje demonstram”, acrescenta a SPM, numa referência à governação socialista da Educação do ex-ministro Marçal Grilo.
Num outro parecer também já enviado ao ME, o Conselho das Escolas, que representa os directores, considerou que a aplicação do perfil do aluno “implicará profundas alterações na escola pública e no sistema educativo”, tendo recomendado que a mudança, a acontecer, seja feita de forma “faseada”.
O perfil do aluno tem sido apresentado como o documento de base das alterações curriculares que estão a ser preparadas pelo ME, estando ali definidas 10 competências-chave que deverão nortear toda a aprendizagem. São elas: linguagem e textos; informação e comunicação; raciocínio e resolução de problemas; pensamento crítico e pensamento criativo; relacionamento interpessoal; autonomia e desenvolvimento pessoal; bem-estar e saúde; sensibilidade estética e artística; saber técnico e tecnologias; consciência e domínio do corpo. Para cada uma destas competências são definidos objectivos de aprendizagem.