O que dizem os jornais internacionais sobre as eleições holandesas

A personagem principal das eleições holandesas na próxima quarta-feira é o candidato da extrema-direita Geert Wilders. Os media avisam para os perigos que o candidato e outros apelam à moderação na análise ao sufrágio.

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O actual primeiro-ministro holandês, Mark Rutte e o candidato da extrema-direita Geert Wilders Reuters/YVES HERMAN

A dois dias das eleições legislativas na Holanda o mundo olha com expectativa para o primeiro de pelo menos três sufrágios que este ano poderão ter um impacto significativo no futuro próximo da Europa.

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A dois dias das eleições legislativas na Holanda o mundo olha com expectativa para o primeiro de pelo menos três sufrágios que este ano poderão ter um impacto significativo no futuro próximo da Europa.

Há alguns meses que as atenções se centram em Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade, um político anti-sistema e anti-imigração que propõe, por exemplo, banir o Corão (que compara ao Mein Kampf de Adlof Hitler). Por isso, as análises que são feitas pela comunicação social internacional centram-se, fundamentalmente, no candidato populista e nas consequências de uma possível vitória sua.

Der Spiegel

A revista germânica Der Spiegel cita a CNN e apelida Wilders de “Donald holandês”, partindo da comparação com o actual Presidente norte-americano para escrever um perfil do político holandês, que “lidera a onda populista” na Europa.

De entre os factores comparativos com Donald Trump, a publicação alemã destaca as ferramentas de comunicação e a retórica utilizada para conquistar os eleitores. Em concreto, Wilders, que é dos políticos que menos contacto tem com cidadãos comuns, é um “mestre do Twitter”, cuja “utilização descontrolada é uma reminiscência de Trump”.

A Spiegel lista ainda os bons resultados económicos da Holanda, concluindo que os holandeses estão numa boa situação, para dizer que, mesmo assim, uma fatia considerável dos eleitores estão dispostos a escolher Wilders para liderar o próximo governo. E para isso terá contribuído a retórica semelhante à utilizada por Donald Trump: “Tornar a Holanda grande outra vez” é um dos slogans utilizado por Wilders.

Noutro texto, a revista germânica defende que “o entusiasmo pela Europa terminou”, argumentando que Wilders utiliza esse pretexto para justificar o seu discurso político. As “elites de Haia e Bruxelas” são o alvo preferencial do líder do Partido da Liberdade.

El País

Em Espanha, o El País dedicou uma análise às eleições holandesas em que escreve sobre os “idos de Março europeus”. Ou seja, o futuro da Europa começa na próxima quarta-feira, quando os holandeses se dirigirem às urnas. O diário espanhol estebelece um paralelismo entre a revolta contra o romano Júlio César, um “ditador perpétuo”, no ano de 44 a.C., e a revolta, ainda que não violenta, “contra o sistema que redigiu o destino da Europa desde o pós-guerra”. Wilder, Le Pen e companhia, como diz o El País, tentam reverter a “dinâmica globalizadora/ integradora e iniciar um regresso até aos Estados-nação”.

A análise do diário espanhol avisa para subestimação que possam gerar estas novas personagens políticas e os seus programas eleitorais. “São políticos manipulados temíveis: determinados, por vezes carismáticos e dotados de toneladas de munições explosivas”, escreve o El País, chamando a atenção para o desprestígio da classe política europeia que pode fazer com que os eleitores “levantem o dedo do meio com o boletim de voto”.

The Guardian 

O britânico Guardian esteve nas cidades holandesas de Purmerend e Gouda para sentir o pulso à antecâmara do sufrágio e ambas as visitas permitiram concluir que as eleições será uma corrida apertada, com um nível elevado de incerteza.

Com os assentos parlamentares, segundo o sistema eleitoral holandês, a serem distribuídos por representação proporcional directa, a possibilidade de governação por acordos de coligação é o cenário político mais comum na Holanda. No entanto, este ano pode ser batido um recorde, com 14 partidos a poderem fazer-se representar com pelo menos um deputado. Este cenário, juntando a quase 40% dos eleitores ainda indecisos, não permite tirar conclusões antecipadas – as últimas sondagens revelam uma descida nas intenções de voto do partido de Wilders.

As sondagens permitem, no entanto, que o diário britânico tirar outra conclusão da situação política holandesa. O eleitorado está a abandonar o centro e a virar à direita. Isto porque os três grandes favoritos à vitória – o actual primeiro-ministro Mark Rutte, os democratas-cristãos e Geert Wilders – pertencem a esse espectro político.

New York Times

Do outro lado do Atlântico, os jornais americanos têm dedicado especial atenção às eleições de quarta-feira. O New York Times, por exemplo, foi até Roterdão para falar com alguns imigrantes, que vêm ameaçada a estabilidade das suas vidas. Ou, como escreve o jornal norte-americano, “a Holanda considera uma nova relação com os muçulmanos”. “Wilders fala para uma parte da sociedade holandesa que sente que a sua identidade holandesa está ameaçada”, realça uma das pessoas ouvidas pelo New York Times.

De forma mais geral, argumenta-se no mesmo texto que as eleições “vão iniciar o ano de cálculo político na Europa”, sendo este o primeiro teste para o limite do continente sobre “a tolerância”.

Financial Times

O Financial Times é directo na resposta ao que se pode esperar das eleições holandesas: “O inesperado”. Ninguém imaginaria, e muito particularmente o primeiro-ministro Mark Rutte, que no fim-de-semana que antecede o sufrágio, a Holanda entrasse num conflito diplomático aberto com a Turquia, numa troca de acusações que surpreendeu toda a gente.

A par das sondagens e dos muitos indecisos, este novo desenvolvimento poderia ser uma ajuda preciosa ao candidato da extrema-direita que pode ser visto como o único com pulso firme o suficiente para lidar com a Turquia e os seus imigrantes presentes na Holanda, e que têm protagonizado algumas manifestações que terminaram em confrontos.

No entanto, o Financial Times defende que a resposta “firme – muito dura, aliás” do Governo, pode levar alguns eleitores a desistirem de se movimentarem para a extrema-direita como forma de lidar com a crise migratória e com as actuais tensões com a Turquia. Este é apenas mais um sinal da incerteza que reina. “Afinal, como atestam os acontecimentos do fim-de-semana, as coisas acontecem. Muitos eleitores holandeses ainda não se decidiram. Assista com atenção na quarta-feira”, conclui o diário.

Politico

A edição europeia do Politico identifica, na sua visão, três grandes mitos sobre as eleições holandesas: “Se pensa que a votação desta semana é só sobre Geert Wilders, populismo e a União Europeia, pense novamente”.

Sobre a União Europeia, defende-se que a população holandesa começou a torcer o nariz à possibilidade de saída da Holanda do espaço comunitário desde o resultado positivo do referendo para o “Brexit”. Aliás, o único partido, no meio dos muitos que vão a votos, que defende a retirada, o Partido da Liberdade de Wilders, abrandou muito a retórica contra Bruxelas.

Sobre o candidato da extrema-direita, o Politico argumenta que as preocupações e a concentração em redor de Wilders tem-se sentido mais a nível internacional do que, propriamente, no interior da Holanda. Isto porque o líder do Partido da Liberdade abdicou praticamente de fazer campanha e pouco tem aparecido. E, em resultado disso mesmo, o decréscimo nas sondagens tem sido latente.

Também sobre o cenário de uma vitória do populismo, apela-se, no mesmo texto, à moderação. “Tudo pode mudar no dia das eleições. Os holandeses são conhecidos por se decidirem tarde”. Além disso, nenhum partido reúne actualmente mais de 17% das intenções de voto. E, a acreditar no que ditam as sondagens, para se formar maioria no próximo Parlamento, terá de haver um acordo parlamentar de até cinco partidos.