“Precisamos de uma 'universidade do SNS', como os ingleses têm”
É preciso desenhar o estatuto do cuidador informal dos doentes mais idosos e as formas de o recompensar, diz o coordenador do grupo que está a estudar a reforma hospitalar, Fernando Regateiro.
Os profissionais dos hospitais dizem que faltam equipamentos e que muitos dos que existem estão obsoletos.
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Os profissionais dos hospitais dizem que faltam equipamentos e que muitos dos que existem estão obsoletos.
Esse aspecto não foi ainda abordado por esta coordenação, mas está incluído nas nossas preocupações para o futuro. Trabalhamos por prioridades. O que considerámos essencial abordar, em primeiro lugar, foi a urgência, a articulação e integração de cuidados, a acessibilidade e vamos agora começar a trabalhar sobre os recursos humanos.
Como?
A ideia é mobilizar os recursos humanos. Os recursos humanos estão lá, têm que fazer formação, têm que ser estimulados. O SNS deve fazer como as grandes empresas. Ter uma escola com um programa avançado de formação em gestão, de administradores e gestores de topo.
Mas os gestores de topo dos hospitais não são licenciados?
Sim, mas precisamos de uma 'universidade do SNS', como os ingleses têm. Ou melhor, uma escola de formação ao serviço do SNS, para formação contínua de profissionais de patamares diversos.
O número crescente e a produção crescente dos hospitais privados não é um sinal de que os públicos não estão a dar uma boa resposta?
O SNS é a espinha dorsal da resposta em saúde. Mas a reforma hospitalar não deve ignorar que uma percentagem significativa de cidadãos recorre à oferta privada. Muitas vezes a procura dos privados tem que ver com razões hoteleiras, o que deve inspirar a oferta pública, que tem melhorado a este nível. Isso já acontece nalguns casos, na pediatria, sobretudo.
Temos uma boa resposta para crianças, mas não para a franja cada vez mais representativa da população, os idosos. Pensaram nisso?
Sim, temos que criar respostas alternativas para os idosos que não passem por hospitais de agudos. Temos os cuidados continuados, mas é necessário criar alternativas no domicílio, desenhar o estatuto do cuidador informal e as formas de o recompensar, seja ele familiar do doente ou não.
Isso não vai implicar uma despesa enorme?
Não, é muito mais barato do que optar por uma instituição ou um hospital de agudos, e que nem sequer são os sítios adequados para ter um doente crónico, em convalescença, ou terminal. Temos que preparar formas de respostas dirigidas para o domicílio.
Que outras ideias saíram do vosso grupo de trabalho?
Fizemos um levantamento de projectos inovadores e já identificamos 66. Vamos escolher 10 a 12 mais emblemáticos, que serão visitados por membros da área da saúde do Governo e que vão ser apresentados como exemplos a seguir. Quer exemplos? Há um programa de manejo integrado da doença crónica em que o hospital de dia tem especialidades médicas onde os doentes crónicos agudizados recebem cuidados hospitalares. E há um exemplo de cuidados de saúde integrados com agendas partilhadas por médicos do hospital e médicos de família. Estes processos são para continuar.
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