CGD perdeu quase quatro mil milhões de euros em seis anos
Banco público teve um prejuízo histórico de 1859 milhões no ano passado para limpar o balanço e só vai voltar aos lucros em 2018.
Em 2011, o ano em que a troika de credores entrou em Portugal, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) começou a trilhar um percurso de prejuízos que se mantém até hoje, tendo já acumulado perdas de 3878 milhões de euros. Deste valor, o destaque vai para o resultado líquido negativo de 1859 milhões que foi ontem apresentado pelo novo presidente executivo, Paulo Macedo, em conferência de imprensa. Olhando para os cinco principais bancos, só mesmo o BES/Novo Banco é que supera a má performance do banco público.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Em 2011, o ano em que a troika de credores entrou em Portugal, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) começou a trilhar um percurso de prejuízos que se mantém até hoje, tendo já acumulado perdas de 3878 milhões de euros. Deste valor, o destaque vai para o resultado líquido negativo de 1859 milhões que foi ontem apresentado pelo novo presidente executivo, Paulo Macedo, em conferência de imprensa. Olhando para os cinco principais bancos, só mesmo o BES/Novo Banco é que supera a má performance do banco público.
Entre o colapso do BES e a criação do Novo Banco, em 2014, foram contabilizadas perdas de 4045 milhões. Retirando esta comparação pouco lisonjeira e o Santander Totta (que depende muito da casa-mãe em Espanha) da equação, as contas da CGD mostram diferenças entre ter accionistas privados, com apoios do Estado (BCP e BPI), e um accionista público ao qual, como disse Paulo Macedo, “não se pode estar sempre a recorrer”.
Pagar para limpar o balanço
O resultado de 2016 foi afectado por provisões e imparidades de 3017 milhões de euros, para fazer face a créditos de risco e ajudar a limpar o balanço. De acordo com a CGD, o banco atingiu “uma cobertura global por imparidades de 79%, e de 48% nos particulares, com destaque para a cobertura de 100% alcançada no segmento de crédito a empresas”. O rácio de cobertura de crédito vencido a mais de 90 dias atingiu 123,9%, “um acréscimo de 21,7 pontos percentuais face a 2015”. Neste momento, o crédito em risco reduziu-se para 10,5% da carteira.
Sobre as imparidades, ligadas a empréstimos que não estão a ser pagos, Bruxelas afirmou ontem que a avaliação da actual gestão, concluída em Fevereiro de 2017, veio revelar que “o número de empréstimos de cobrança duvidosa era inferior ao inicialmente previsto” pela equipa liderada por António Domingues. Menos dados negativos, logo, menos necessidades de recapitalização, pelo que a injecção de capital fresco fica pelos 2500 milhões de euros quando podia ir até aos 2700 milhões. Referindo que o valor das imparidade é o “adequado” , Paulo Macedo esclareceu que “uma parte muito significativa” deste valor está concentrada num pequeno grupo de cerca de duas centenas de empresas, ligadas também a outros bancos.
E se o resultado líquido foi negativo em 1859 milhões, podia ter sido ainda maior, já que beneficiou de 830 milhões em impostos deferidos, com o banco a utilizar desde já um crédito fiscal por prejuízos anteriores (na expectativa de vir a dar lucro, como foi prometido a Bruxelas).
A penalizar as contas esteve exclusivamente a actividade em Portugal, ao registar um prejuízo líquido 1915 milhões de euros, que compara com 310,8 milhões do ano anterior. Embora com uma queda de 60%, a área de negócio internacional contribuiu com 55,7 milhões de euros para o resultado líquido, tendo também sido afectada pelo reforço das imparidades e provisões (294,6 milhões de euros). Espanha foi um dos contribuintes líquidos, mas está no topo da lista das alienações de activos, tal como a operação na África do Sul.
Para além das operações contabilísticas de reconhecimento de perdas ou avaliação de riscos de crédito, o exercício de 2016 também revela dados positivos. É o caso do resultado de exploração core (soma da margem financeira com comissões deduzida dos custos operativos), que aumentou 68,7% face ao ano anterior, para 368,1 milhões de euros, beneficiando do comportamento da margem financeira e da redução dos custos operacionais. Quanto aos recursos de clientes, estes totalizaram no final do ano 69.680 milhões de euros, uma queda de 5,1% face a 2015.
Já o crédito a clientes bruto (incluindo créditos com acordo de recompra) reduziu-se em 3,7% face ao exercício anterior, para 68.735 milhões de euros, “fortemente influenciado pelos write-offs [abate ao activo/reconhecimento de perda] efectuados”, refere a instituição.
Quanto a este ano, já se sabe que a CGD ainda não voltará aos lucros, devido a factores extraordinários (como os ligados ao redimensionamento do banco). De acordo com a estratégia delineada, os resultados correntes serão positivos, mas sem dimensão para abarcar despesas extra. Finalmente, estima-se que o resultado líquido seja “marginalmente positivo” em 2018.