Uma marca portuguesa que funciona em regime de co-criação

O segundo dia de desfiles da ModaLisboa abre com a Awaytomars, actualmente sediada em Londres.

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No segundo dia de desfiles da 48.ª ModaLisboa, sete marcas apresentam as propostas para a estação de Outono/ Inverno, no Centro Cultural de Belém (CCB). A agradecer no primeiro desfile deste sábado vão estar 13 designers, seleccionados pela comunidade Awaytomars.

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No segundo dia de desfiles da 48.ª ModaLisboa, sete marcas apresentam as propostas para a estação de Outono/ Inverno, no Centro Cultural de Belém (CCB). A agradecer no primeiro desfile deste sábado vão estar 13 designers, seleccionados pela comunidade Awaytomars.

Lançada em 2015, a marca de roupa funciona em regime de co-criação através de crowdsourcing e crowdfunding. Significa isto que qualquer pessoa pode contribuir com as suas ideias para peças de roupa. Os projectos submetidos são desenvolvidos e moldados com a ajuda da comunidade de cerca de oito mil membros da plataforma e aqueles que gerarem mais interacção passam à fase seguinte: a produção de um protótipo.

Antes de o produto ser colocado à venda no site é realizada uma campanha de angariação de fundos – que passa por vender em pré-encomenda as peças a preço de fábrica – e os projectos financiados com sucesso são produzidos e vendidos na página de Internet com uma dupla marca. Os lucros são divididos entre a Awaytomars (60%), o criador (20%) e membros da plataforma que contribuíram (10%).

A empresa portuguesa – fundada pelo brasileiro Alfredo Orobio – prevê um volume de vendas na ordem das 220 mil libras (250,7 mil euros) em 2017, entre Setembro e Janeiro esse valor foi de 80 mil libras (91,1 mil euros). A produção e a equipa de seis pessoas divide-se entre Lisboa e Londres, desde que a empresa venceu uma competição do Centre for Fashion Enterprise, em Setembro do ano passado. A equipa administrativa trabalha a partir de Londres, os protótipos são feitos em Lisboa e a produção no Norte de Portugal. O Reino Unido é actualmente o principal mercado da empresa (representa cerca de 40% das vendas), seguido de França, Alemanha, países escandinavos e Suíça.

Para os próximos meses, a empresa tem duas grandes acções previstas. A primeira é uma colecção 100% sustentável, em parceria com a World Wide Fund for Nature (WWF) e com o governo da Finlândia. As ideias para os projectos poderão ser enviadas a partir de Abril e o produto final virá acompanhado de um microchip que irá detalhar toda a pegada ecológica da respectiva peça – de onde veio a fibra, onde foi produzida e como foi transportada.

Ainda este ano, a Awaytomars vai desenvolver uma acção com o Google e com os armazéns londrinos Selfridges. A partir de seis projectos vão ser criados protótipos digitais e vai ser dada a oportunidade às pessoas de interagirem e aperfeiçoarem as peças utilizando óculos de realidade virtual.

O Awaytomars tem dois tipos de clientes, revela Alfredo Orobio. Aquele “que envia ideias é um consumidor muito jovem, de 14 a 38 anos” e usa frequentemente as redes sociais como canal de comunicação. Curiosamente, quase metade da comunidade é composta por profissionais da indústria. “Não são só os aspirantes a designers que não têm oportunidade de aparecer na indústria da moda. Tenho pessoas que trabalham na Burberry, COS, Acne e Isabel Marant a mandarem ideias. Não são as pessoas que aparecem no show mas são as que têm as ideias.” Já o cliente do produto final “é um consumidor de 28 a 40 ou 50 anos, que tem potencial de compra maior e está disposto a pagar por uma marca que não é famosa”.

O fundador da Awaytomars identifica um grande potencial de crescimento de um modelo que não é ainda largamente explorado na indústria da moda e sublinha que não pretende ser o único player. “O que eu quero com a Awaytomars é que as pessoas copiem este modelo de negócio, que seja uma inspiração para o mercado”.

Num momento em que grandes marcas, como a Nike, procuram a personalização a uma escala de massas, Alfredo Orobio prevê que o futuro da Awaytomars passe também pela prestação de serviços a outras empresas. “Temos sido procurados por várias marcas para fazer parcerias”, revela ao PÚBLICO, mencionando em confidencialidade o nome de duas grandes marcas internacionais com quem estão em negociações.

Até agora, a Awaytomars tem apresentado colecções ao ritmo semestral da indústria da moda. O desfile deste sábado já vai ser um pouco diferente, os criadores vão apresentar 13 propostas de colecções para serem depois criadas 13 minicolecções. Daqui para a frente, "em vez de fazer colecções fechadas de Outono/Inverno e Primavera/Verão, vamos deixar que as pessoas enviem ideias o ano inteiro que depois vão sendo naturalmente seleccionadas pelo público. Quero criar uma base de dados de ideias”.

Sete criadores no segundo dia de desfiles

No seguimento da apresentação Awaytomars acontecerá o desfile de Ricardo Andrez. A colecção que mostra neste sábado, Venus as a Boy, dá continuidade ao trabalho que tem vindo a desenvolver sobre a identidade de género – na estação passada, por exemplo, os modelos masculinos e femininos desfilaram com um fato que os tapava dos pés à cabeça. As peças mantêm a estética de sportswear pela qual a marca já é conhecida.

O segundo dia de desfiles da ModaLisboa traz também duas estreias, na área do calçado (Eureka) e da Alfaiataria (Mustra). Entre os criadores mais conhecidos estão Lidjia Kolovrat e Filipe Faísca. Às 18h, Kolovrat apresenta no Museu Coleção Berardo a colecção Wonderment, influenciada por viagens às montanhas da América do Sul e por diferentes culturas – com cores vivas em lãs e bordados. Em antecipação da colecção que apresenta na Garagem Sul do CCB, Faísca lançou num comunicado uma série de provocações, entre as quais a pergunta: “E se fosse possível passar do salto alto a bodyguard sem sair do lugar?”.