Código da praxe de Coimbra foi redigido há 60 anos e 90% da sua base mantém-se
Uma das mudanças foi o horário de recolher dos caloiros.
O horário de recolher dos caloiros passou das 18h para a meia-noite e as trupes já não podem actuar de cara tapada, mas 60 anos depois da sua criação, 90% da base do código da praxe de Coimbra mantém-se. Noventa por cento do código da praxe de 1957 continua espelhado no actual código. Foram criados mecanismos que permitem uma maior autofiscalização dentro da praxe e foram acrescentados muitos artigos", disse à agência Lusa o dux veteranorum do Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra, João Luís Jesus, sublinhando que a maioria das revisões foi feita "para esclarecer situações dúbias de interpretação".
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O horário de recolher dos caloiros passou das 18h para a meia-noite e as trupes já não podem actuar de cara tapada, mas 60 anos depois da sua criação, 90% da base do código da praxe de Coimbra mantém-se. Noventa por cento do código da praxe de 1957 continua espelhado no actual código. Foram criados mecanismos que permitem uma maior autofiscalização dentro da praxe e foram acrescentados muitos artigos", disse à agência Lusa o dux veteranorum do Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra, João Luís Jesus, sublinhando que a maioria das revisões foi feita "para esclarecer situações dúbias de interpretação".
No entanto, a partir de 1991, foram feitas algumas revisões ao documento, permitindo uma "adaptação a novas realidades", notou. O horário de recolher para os caloiros era às 18h, sendo que as horas foram actualizadas para a meia-noite. Também o modo de funcionamento das trupes foi alterado já no século XXI, "permitindo mais responsabilização" e proibindo-se que os elementos das trupes andassem de cabeça tapada. "Antes, o objectivo era o anonimato e havia situações de maior violência. Após as alterações, nunca mais tivemos problemas relacionados com trupes", explanou o dux de Coimbra.
Outros registos de maior violência, como é o caso do canelão e da pastada — práticas recorrentes no início do ano lectivo no século XIX e na primeira metade do século XX - foram abandonados. "Era violência pura. Os doutores punham-se em duas filas e davam pontapés nas canelas ou batiam com a pasta académica nas costas e cabeça dos caloiros enquanto eles iam passando", referiu, sublinhando que, ao longo do tempo, a academia foi-se adaptando e abandonando "práticas que não se coadunavam com a evolução da sociedade".
No sábado e no domingo, o Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra assinala os 60 anos da criação do código da praxe da instituição, com palestras em torno de diversos temas relacionados com esta tradição coimbrã.
No evento, que terá lugar no auditório da reitoria, será abordada a Canção de Coimbra, a dicotomia entre tradição escrita e tradição oral (antes do código da praxe, a tradição era passada por transmissão oral), a relação entre a praxe e a tradição na própria Universidade, e a praxe nos dias de hoje, informou.
João Luís Jesus sublinhou que têm havido algumas revisões, mas que a maioria tem como objectivo "não mudar as regras, mas esclarecê-las". Um dos exemplos que dá passa pelas limitações sobre os caloiros, tendo-se tornado claro no código da praxe que o estudante de 1.º ano "não pode ser sujeito a praxe durante o horário lectivo", apesar de o princípio já estar "subjacente" no documento, antes dessa revisão.
De acordo com o dux da Universidade de Coimbra, os erros mais comuns estão relacionados com "os deveres e limites que cada hierarquia tem". "Todas as hierarquias têm direitos e deveres e limitações. Até o dux tem limitações", notou, recordando que o membro do Conselho de Veteranos "não pode estar à meia-noite na ponte de Santa Clara".
Para combater alguma falta de informação, o Conselho de Veteranos tem apostado na presença digital, disponibilizando o código da praxe no seu site e interagindo nas redes sociais. Ainda este ano, o dux pretende lançar uma espécie de "perguntas e respostas" com as dúvidas mais comuns que surgem em contexto de praxe.
"A praxe não está cima de nada. Se as pessoas não se estão a divertir, alguma coisa está a correr mal na praxe", salientou João Luís Jesus, lembrando que, segundo o código da praxe de Coimbra, é proibido qualquer acto "contra a dignidade" dos estudantes.