Cancelamento de conferência na FCSH leva a dura troca de acusações entre BE e direita
Parlamento aprovou votos de condenação do CDS, mas também de PS, BE e PAN. Bloquista falou em “alinhamento do PSD e do CDS na nova linha da extrema-direita”.
A apresentação de votos de condenação à decisão de cancelar a conferência do professor Jaime Nogueira Pinto na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa gerou um momento de exaltação no plenário, quando o bloquista Jorge Costa acusou PSD e CDS de “alinharem pela extrema-direita”.
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A apresentação de votos de condenação à decisão de cancelar a conferência do professor Jaime Nogueira Pinto na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa gerou um momento de exaltação no plenário, quando o bloquista Jorge Costa acusou PSD e CDS de “alinharem pela extrema-direita”.
Defendendo que “o professor não foi perseguido”, Jorge Costa afirmou existir um “alinhamento do PSD e do CDS na nova linha da extrema-direita, depois de ter considerado que “a coberto de uma conferência estava a ser preparada uma milícia de extrema-direita”.
Nesse momento, os ânimos exaltaram-se nas bancadas do PSD e do CDS, tendo havido pateada. Por várias vezes, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, teve de pedir silêncio aos deputados. Foi o centrista Telmo Correia que pediu a defesa da honra da bancada. “Não aceitamos este tipo de argumentos e acusações. Porque uma geração de centristas confrontou aqueles que queriam fazer um estado totalitário. Convém lembrar que nessa altura quem liderou esse processo foram as grandes figuras do PS”, afirmou, referindo-se ao deputado bloquista como um “extremista da extrema-esquerda”. Na intervenção para explicações, Jorge Costa disse perceber o “incómodo do CDS”, tendo em conta que o organizador da conferência era “militante do CDS até há três semanas”.
A defesa da bancada do PSD aconteceu logo a seguir, pela voz de Carlos Abreu Amorim. “Seria bom, senhor deputado, que não se agitassem fantasmas. Não existe uma extrema-direita organizada, nem milícias. São disparates que foram aí agitados”, afirmou, dizendo que o que está em causa é a “liberdade de expressão”.
O PS, através do líder parlamentar, também interveio. "O CDS em matéria de liberdades públicas deve mais ao PS do que o contrário. O PS pelo seu património de luta condena todos os actos que colidam com o livre exercício da liberdade democrática", afirmou Carlos César. Na reposta, Telmo Correia rematou: "O CDS não deve nada a ninguém. E deve a alguns democratas que, como eu disse, se bateram pela democracia".
Foram aprovados os votos de condenação do cancelamento da conferência apresentado pelo CDS, a que se juntaram quatro deputados do PS – Helena Roseta, Vitalino Canas, Miranda Calha e António Gameiro. O PS e o PAN abstiveram-se, o BE, o PCP e Os Verdes votaram contra. Foi também aprovado o voto de condenação proposto por PS, BE e PAN. No caso do voto do PSD, só foi aprovado um ponto sobre a “transigência do Conselho Directivo dado que cedeu numa matéria onde a desistência só pode ser tida como um grade dano à liberdade de todos que a democracia consagra”. O outro ponto referia-se à “atitude intimidatória de alguns estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas [FSCH] da Universidade de Lisboa”, por ser “perigosamente contraditória com o sentido democrático e pluralista que a nossa Constituição determina”.