Tusk deve ser reconduzido sem o voto do seu próprio país

Rivalidades internas levaram a Polónia a apresentar outro candidato.

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Os líderes europeus deverão escolher esta quinta-feira o próximo presidente do Conselho Europeu. O polaco Donald Tusk parece estar bem posicionado para ser reconduzido no cargo. Mas o Governo de Varsóvia opõe-se à sua reeleição e apresentou um candidato alternativo. Os 28 vão assim escolher entre dois polacos, numa disputa algo surreal que pode ensombrar a eleição, e até a cimeira. Ninguém sabe ao certo o desfecho deste duelo entre candidatos do mesmo país.

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Os líderes europeus deverão escolher esta quinta-feira o próximo presidente do Conselho Europeu. O polaco Donald Tusk parece estar bem posicionado para ser reconduzido no cargo. Mas o Governo de Varsóvia opõe-se à sua reeleição e apresentou um candidato alternativo. Os 28 vão assim escolher entre dois polacos, numa disputa algo surreal que pode ensombrar a eleição, e até a cimeira. Ninguém sabe ao certo o desfecho deste duelo entre candidatos do mesmo país.

No actual contexto internacional de incerteza, os líderes europeus deverão privilegiar a estabilidade e voltar a confiar no ex-primeiro-ministro polaco para um segundo mandato na presidência do Conselho, o órgão cimeiro dos 28 que junta os chefes de Estado e de governo, define as orientações e marca a agenda política da UE. “Existe uma grande inclinação para reconduzir Tusk”, confirmam fontes comunitárias. “Mas nunca se sabe na eleição de cargos da UE”.

O mandato de Tusk termina a 31 de Maio. Na cimeira de Malta em Fevereiro, o polaco, que pertence à família política do PPE, declarou-se disponível para repetir por mais dois anos e meio. Nessa altura foi abordado por vários dirigentes europeus que demostraram apoio à sua recandidatura.

Mas, apesar do seu balanço ser reconhecido e de recolher os votos de alguns dos principais líderes, Donald Tusk não é apoiado pelo Governo do seu país que apresentou um candidato rival: Jacek Saryusz-Wolski, um eurodeputado pouco conhecido que não dispõe de experiência governativa.

O executivo nacionalista e eurocéptico de Varsóvia, do partido Lei e Justiça, pediu mesmo aos líderes europeus para se encontrem com Saryusz-Wolski já que este merece uma “audição justa”. Varsóvia estaria mesmo a procurar o apoio de outras capitais.

O duelo lançado pelo governo polaco ao actual presidente do Conselho Europeu procura efeitos de política interna e deve ser lido à luz de antigas rivalidades políticas e pessoais entre o partido Lei e Justiça, liderado por Jaroslaw Kaczynski, e a Plataforma Cívica do ex-primeiro ministro Donald Tusk.

Mesmo que o governo polaco persista em se opor, Tusk poderá facilmente ser reeleito já que não precisa da unanimidade, basta um voto por maioria qualificada. Mas será inédito um candidato ser eleito sem o voto do seu país. Por outro lado, os líderes não estão interessados em aprofundar as divisões nem em isolar um Estado-membro num órgão onde precisamente se buscam os consensos.

O presidente deve coordenar os trabalhos do Conselho, estabelecer as prioridades com a Comissão e procurar construir os consensos possíveis a 28. Donald Tusk exerceu o actual mandato num momento em que a União Europeia atravessou alguns dos momentos mais difíceis da sua história: a crise na Grécia, a crise migratória, o Brexit, as tensões com a Rússia e o conflito na Ucrânia, e mais recentemente imprevisibilidade quase diária que chega de Washington com a administração Trump.

“Em geral, desempenhou bem o seu papel de intermediário entre os diferentes Estados-membros”, afirma Yann-Sven Rittelmeyer da equipa de investigadores do European Policy Centre, um dos mais importantes think tanks em Bruxelas. “Exprimiu posições políticas audíveis”, fazendo passar mensagens e dando um rumo mais político e pessoal ao cargo do que o seu antecessor.

Na gestão de certos dossiês, como o da crise grega, a bola esteve mais no campo dos Estados-membros e dos líderes europeus. Já em relação à crise migratória tinha a impossível tarefa de conseguir um acordo entre posições radicalmente opostas. “Houve uma unidade de fachada mas depois a sua aplicação pelos Estados-membros era impossível”, explica o investigador em alusão à política da UE de acolhimento de refugiados e migrantes que vários países de leste recusaram.