Ano eleitoral na Europa: o primeiro teste é na Holanda
A narrativa fala na subida do populismo, mas há muitas diferenças entre as várias eleições - além da Holanda, votam a França e a Alemanha - e os seus populistas.
O calendário eleitoral tornou as eleições holandesas um acontecimento da maior importância: a 15 de Março, é a primeira de três eleições essenciais para a Europa que se realizam neste ano e está a ser vista como uma espécie de precursor para o que podem ser as votações em França e na Alemanha.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O calendário eleitoral tornou as eleições holandesas um acontecimento da maior importância: a 15 de Março, é a primeira de três eleições essenciais para a Europa que se realizam neste ano e está a ser vista como uma espécie de precursor para o que podem ser as votações em França e na Alemanha.
Mas embora o arco narrativo comum seja o da subida do populismo, há muitas diferenças entre as várias eleições e os seus populistas.
A figura de Geert Wilders domina as eleições na Holanda e estas estão a ser vistas como a sua luta com o primeiro-ministro conservador Mark Rutte (estão em competição cerrada nas sondagens).
Mas isto é uma simplificação: para o analista político holandês especialista em populismo Cas Mudde, o aspecto mais importante desta votação é a fragmentação política. Actualmente há 11 partidos no Parlamento, e este número deverá subir para 14. Mais importante: “O próximo governo irá precisar de pelo menos quatro, possivelmente de cinco a sete partidos, para ter uma maioria em ambas as câmaras do Parlamento”, sublinha Mudde.
Wilders partilha com a francesa Marine Le Pen (a primeira volta das presidenciais realiza-se a 23 de Abril) a ideia de que as fronteiras são importantes e que com a participação na União Europeia os países perdem a possibilidade de garantir a sua segurança. Ambos estão em posição cimeira nas sondagens, embora os sistemas políticos façam com que na Holanda Wilders possa ser o mais votado e não participar no Governo (os outros partidos prometem não colaborar com ele) e se espere que Le Pen vença a primeira volta e não a segunda (7 de Maio) . A Alemanha é um caso diferente, onde os populistas da Alternativa para a Alemanha têm entre 10 a 14% das intenções de voto e estão longe de ter a mesma expressão.
A pergunta mais repetida nestas eleições holandesas é como é possível tanta insatisfação num país tão rico, mas isso é ignorar que outros partidos populistas de direita europeus surgiram precisamente em países ricos como a Áustria e a Suíça. No caso da Holanda, medidas de austeridade depois da crise de 2008/9 trouxeram ressentimento de pessoas que sofreram com os cortes em subsídios, reformas, ou aumento dos custos do sistema de saúde (o que está por trás da descida vertiginosa do Partido Trabalhista, que está na coligação do Governo).
Wilders trouxe para o debate político uma retórica simples e extremada contra os imigrantes, especialmente muçulmanos e marroquinos. Um processo judicial por fomentar o ódio ao apelar a “menos marroquinos” no país apenas lhe valeu mais popularidade. O debate sobre imigração e integração na Holanda aumentou, como na Alemanha, depois da chegada de um grande número de refugiados à Europa em 2015.
A Holanda tem dois assassínios a sublinhar a ameaça que Wilders enfrenta: Pim Fortuyn, morto por um activista de esquerda em 2002, Theo van Gogh, por um holandês de ascendência marroquina, em 2004.
Para Wilders, a “guerra do islão com o Ocidente” é pessoal: ele é um alvo. O seu uso do Twitter, que lhe vale comparações com Donald Trump, começou muito antes e por causa dos limites que a protecção policial lhe impõe no contacto directo com pessoas.
Quando esta semana começou a descer nas sondagens, o populista retomou a campanha que tinha suspendido devido ao aumento de ameaças.
Finalmente, Wilders é fortemente anti-europeu. Um dos seus projectos é fazer aprovar uma lei de referendos vinculativos (actualmente são apenas consultivos, como foi o referendo à Constituição Europeia de 2005 em que o “não” ganhou o que, a seguir ao “não” francês, ditou o fim da ideia).
Depois disso, Wilders quer referendar a permanência da Holanda na União Europeia. Embora ninguém preveja que este referendo venha mesmo a acontecer após as eleições, se Wilders tiver uma boa votação e o exigir os partidos no poder serão julgados por não respeitar a vontade popular, o que só deverá fazer crescer o apelo dos populistas.