Um director com défice de legitimidade
Pior do que um grupo de extremistas querer coarctar a liberdade de expressão é haver uma faculdade a dar-lhe aval.
O Presidente da República espera por “esclarecimentos” sobre o cancelamento da conferência de Jaime Nogueira Pinto na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, mas, enquanto espera, fez o diagnóstico rápido do problema e foi lesto a sugerir a respectiva terapia: a demissão do director da faculdade. Que haja uma associação deslumbrada pelo radicalismo que se arroga o direito de dizer quem pode ou deve falar numa universidade é já por si uma doença a exigir cuidados; mas haver um director de uma escola pública onde se ensinam ciências sociais e humanas que aceite essa arrogância e a proteja com o seu beneplácito é algo que só se remenda com a demissão.
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O Presidente da República espera por “esclarecimentos” sobre o cancelamento da conferência de Jaime Nogueira Pinto na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, mas, enquanto espera, fez o diagnóstico rápido do problema e foi lesto a sugerir a respectiva terapia: a demissão do director da faculdade. Que haja uma associação deslumbrada pelo radicalismo que se arroga o direito de dizer quem pode ou deve falar numa universidade é já por si uma doença a exigir cuidados; mas haver um director de uma escola pública onde se ensinam ciências sociais e humanas que aceite essa arrogância e a proteja com o seu beneplácito é algo que só se remenda com a demissão.
Marcelo Rebelo de Sousa teve o mérito de falar grosso sobre esta inaceitável situação, e, se o fez querendo cobrir o seu estatuto com o pedido de “esclarecimentos” que o salvaguardam dos riscos do julgamento sumário, não deixou de dizer o que tem de ser dito. “Eu não entendo como é que um responsável de uma instituição pública toma uma decisão daquelas”, disse o Presidente. Nem ele, nem ninguém. Porque se um atropelo à liberdade de expressão e de pensamento é sempre acontecimento que merece censura, tolerar a sua prática numa universidade do Estado implica o Estado na sua consumação. Algo que um director jamais poderia permitir.
Se o Presidente da República é “o guardião dos direitos constitucionais”, como tratou de recordar, não pode ficar calado. Se o director da faculdade (ou o reitor) é responsável pela formação de jovens no quadro dos princípios, direitos e deveres que a Constituição prescreve, não pode ficar incólume à violação que legitimou – mesmo que tenha havido ameaças. Haver um grupelho radical com força suficiente para calar opiniões que, sendo bafientas e ressumam um passado odioso, têm direito de cidade e de impor a sua intolerância a uma direcção legítima mostra uma espécie de mundo ao contrário que não se pode aceitar. Um “absurdo”, disse, e bem, o Presidente.
O ministro da Ciência telefonou para exigir garantias e Marcelo já disse o que se deve passar: o director da faculdade deixou de ter condições para o ser. Quem troca valores por medo não tem valor algum para os promover numa escola. E para que este triste caso se apague e o bom exemplo prevaleça, têm a palavra os estudantes: sentem-se bem representados por uma clique de esquerda com tiques de Salazar?