Um cavalo + a amiga da Presidente = herdeiro da Samsung em tribunal
Julgamento do vice-presidente da gigante sul-coreana começa esta quinta-feira. Lee Jae-yong é acusado de ter subornado a melhor amiga da Presidente do país com quase 40 milhões de dólares e um cavalo de 840 mil dólares para reforçar o seu poder na empresa.
As suspeitas e acusações de corrupção no topo das empresas e da política da Coreia do Sul repetem-se quase todos anos ao ritmo do lançamento de novos smartphones topo de gama, cada vez mais rápidos e mais finos e com uma câmara muito melhor, como é evidente. Mas desta vez o caso é mais sério do que nunca: o "príncipe herdeiro" da todo-poderosa Samsung – e na prática presidente daquilo tudo devido ao afastamento do pai por doença – começa esta quinta-feira a ser julgado por corrupção e fraude num megaprocesso que pode ainda arrastar a Presidente sul-coreana, Park Geun-hye.
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As suspeitas e acusações de corrupção no topo das empresas e da política da Coreia do Sul repetem-se quase todos anos ao ritmo do lançamento de novos smartphones topo de gama, cada vez mais rápidos e mais finos e com uma câmara muito melhor, como é evidente. Mas desta vez o caso é mais sério do que nunca: o "príncipe herdeiro" da todo-poderosa Samsung – e na prática presidente daquilo tudo devido ao afastamento do pai por doença – começa esta quinta-feira a ser julgado por corrupção e fraude num megaprocesso que pode ainda arrastar a Presidente sul-coreana, Park Geun-hye.
Chama-se Lee Jae-yong, tem 48 anos, e é o terceiro homem mais rico da Coreia do Sul, logo atrás do pai e do presidente do grupo de cosméticos AmorePacific. Na lista da revista Forbes aparece com uma fortuna avaliada em mais de seis mil milhões de dólares, ou 5800 milhões de euros, mais coisa menos coisa.
Desde cedo que o futuro de Jae-yong é ocupar o lugar de outros dois Lee – o pai, Lee Kun-hee, de 75 anos, e o avô e fundador da Samsung, Lee Byung-chul.
Há quase três anos, em Maio de 2014, o ainda presidente da gigante sul-coreana sofreu um ataque cardíaco, e estará actualmente em coma, segundo informações não oficiais avançadas pela imprensa local. Foi então que Lee Jae-yong avançou para a liderança efectiva do Grupo Samsung, com as suas dezenas de empresas espalhadas por quase todas as áreas da sociedade sul-coreana – no Ocidente é mais conhecida pelas televisões e pelos smartphones, mas em casa os seus tentáculos chegam à construção civil, construção de navios, vestuário, químicos, seguros, cartões de crédito, hospitais e até um parque de diversões.
Apesar de a Samsung ser a maior e mais influente das gigantescas e influentes multinacionais sul-coreanas, tradicionalmente geridas como se fossem pequenos reinos, com a sucessão a passar de pai para filho, os Lee tiveram alguns problemas para garantirem uma passagem de testemunho tranquila – a competência e preparação de Lee Jae-yong foi questionada após o ataque cardíaco do pai, e o príncipe herdeiro teve de lançar um plano de divisões e fusões no universo Samsung para reforçar o seu controlo.
A maior dessas operações foi a fusão da Samsung C&T com a Cheil Industries, em 2015 – o negócio foi considerado por vários analistas como prejudicial para as contas da Samsung, mas o resultado da soma das acções reforçou ainda mais o poder de Lee Jae-yong na Samsung Electronics (a que produz as televisões e os telemóveis) e, por consequência, em todo o grupo.
O problema é que esse negócio terá sido facilitado pela melhor amiga da Presidente da Coreia do Sul, segundo o procurador especial que lidera as acusações para aquele que é considerado o julgamento do século no país. Choo Son-sil, amiga de longa data da Presidente Park Geun-hye, nunca teve qualquer cargo político, mas a acusação afirma que embolsou milhões devido à sua proximidade com a chefe de Estado, e com a colaboração desta.
Um dos negócios que Choo terá facilitado foi a fusão entre a Samsung C&T com a Cheil Industries, pelo qual recebeu quase 40 milhões de dólares, segundo a acusação. A amiga da Presidente e o príncipe herdeiro da Samsung negam tudo, mas ambos admitem que a filha de Choo Son-sil recebeu de Lee Jae-yong um fabuloso cavalo no valor de quase um milhão de dólares, e mais algum dinheiro para ajudar a carreira equestre de Chung Yoo-ra, uma jovem de 20 anos que fez parte da equipa sul-coreana distinguida com uma medalha de ouro nos Jogos Asiáticos de 2014.
À frente da acusação está o procurador Park Young-soo, uma espécie de Baltasar Garzón sul-coreano e besta negra dos gigantescos grupos empresariais do país. Se Park e a sua equipa conseguirem provar todas as suas acusações, o príncipe herdeiro da Samsung pode ser condenado a um máximo de 20 anos de prisão efectiva. Algo que poderia agitar ainda mais a relação de amor-ódio que a actual classe média sul-coreana tem com os magnatas do país, principalmente com a classe dos príncipes herdeiros – e, mesmo que Lee Jae-yong seja condenado, muitos ficarão à espera para saber se será amnistiado, à semelhança do que aconteceu ao seu pai em 2008 quando foi condenado a três anos de pena suspensa por corrupção.