O que se passa na Coreia do Sul?
Há meses que a Coreia do Sul enfrenta uma crise sem precedentes na história recente. Park Geun-hye tornou-se na primeira Presidente eleita a ser destituída, por suspeita de envolvimento num caso de corrupção.
O que acontece agora que a Presidente Park foi destituída pelo Tribunal Constitucional?
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O que acontece agora que a Presidente Park foi destituída pelo Tribunal Constitucional?
Os oito juízes do Constitucional – o painel é normalmente composto por nove juízes, mas um deles reformou-se em Janeiro – não tiveram dúvidas e decidiram, de forma unânime, validar o pedido de impeachment feito pelo Parlamento, tornando Park na primeira Presidente eleita a ser afastada por este método na Coreia do Sul. Park perde de imediato a imunidade e passa a poder ser formalmente acusada pelo Ministério Público no caso de corrupção que envolve as suspeitas de que a Presidente terá agido em conluio com a amiga de infância Choi Soon-sil para extorquir dinheiro a algumas das principais empresas do país. O Presidente interino e primeiro-ministro, Hwang Kyo-ahn, tem agora 60 dias para marcar novas eleições presidenciais.
Já todos pensam em eleições. Quem são os candidatos?
Um dos nomes mais falados no início do processo foi o do ex-secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que em Dezembro terminou o seu mandato à frente das Nações Unidas e anunciou a intenção de regressar ao seu país natal. Apesar da longa ausência da vida política sul-coreana, Ban reunia muitos apoios, precisamente por ser visto como um político com distanciamento das intricadas relações polémicas da política doméstica local. No entanto, Ban disse recentemente que não estava a planear ser candidato, pondo fim a todas as especulações. A saída de cena precoce de Ban traz problemas aos conservadores do Saenuri, partido de Park, e deixam os liberais com grandes possibilidades de chegarem à Casa Azul. O favorito é Moon Jae-in, um deputado e ex-candidato presidencial que adoptou desde o início uma abordagem muito dura em relação a Park. Por fora perfila-se o actual autarca de Seongnam, Lee Jae-myung, que tem feito do discurso anti-establishment a chave da sua subida nas sondagens – e que alguma imprensa já apelida de Donald Trump sul-coreano.
Alguma vez tinha acontecido algo assim?
Parecido. Em 2004, o Parlamento aprovou o afastamento de Roh Moo-hyun, mas o contexto não podia ser mais diferente. As ruas mobilizaram-se contra o processo – movido contra o Presidente por este ter expressado apoio a um partido – e o Tribunal Constitucional acabou por revogar a destituição por considerar que a violação da lei eleitoral cometida por Roh não era suficiente para o remover do poder.
Quão grave é o problema da corrupção na Coreia do Sul?
Na Coreia do Sul, a política e os negócios sempre se confundiram, criando uma teia de interesses convergentes potencialmente problemática. As empresas precisavam de apoio político e os políticos precisavam de financiamento – esta ordem das coisas foi tolerada durante as fases de desenvolvimento acelerado da economia sul-coreana. Vários governos adoptaram posturas interventivas na vida das empresas, ao mesmo tempo que adoptavam reformas de liberalização dos mercados. Este tipo de simbiose é visto como responsável pela ascensão da Coreia do Sul a uma das principais economias do mundo. Porém, a entrada do país na democracia, após o afastamento do controlo militar no final dos anos 1980, aumentou o escrutínio do poder político, tornando os contactos entre políticos e empresários cada vez menos tolerados. Resultado: multiplicaram-se os casos de corrupção e favorecimento. Mais: todos os presidentes da época democrática viram familiares envolvidos em casos de corrupção e um desses processos levou mesmo Roh Moo-hyun a cometer suicídio, em 2009.
Nota: O artigo foi actualizado a 10 de Março.