Ter animais custa dinheiro, por isso, na Penha de França, toda a freguesia ajuda
Por cada quilo de roupa, calçado ou brinquedos usados colocado nos contentores de recolha na freguesia lisboeta, a empresa responsável retribui com 50 euros para a Bolsa Solidária Animal.
Uma jovem desempregada, na freguesia lisboeta da Penha de França, tinha dificuldades em alimentar o seu animal. Na mesma situação, um casal debatia-se com as contas para comprar a ração especial que o seu gato, com insuficiência renal, precisava. Foram para eles os primeiros apoios da Bolsa Solidária Animal criada pela junta de freguesia. O projecto, desde Outubro em fase de experimentação, arrancou oficialmente este mês.
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Uma jovem desempregada, na freguesia lisboeta da Penha de França, tinha dificuldades em alimentar o seu animal. Na mesma situação, um casal debatia-se com as contas para comprar a ração especial que o seu gato, com insuficiência renal, precisava. Foram para eles os primeiros apoios da Bolsa Solidária Animal criada pela junta de freguesia. O projecto, desde Outubro em fase de experimentação, arrancou oficialmente este mês.
Esta bolsa solidária, sem custos para a autarquia, vai funcionar a dois ritmos. Por um lado, cidadãos e empresas podem doar bens, em particular comida, para todas as espécies de animais. Por outro lado, através de protolocos com privados, a junta recebe financiamento para comprar medicamentos, pagar consultas e intervenções veterinárias e apoiar no pagamento das despesas dos abrigos de animais.
Os apoios recolhidos destinam-se ao cuidado de animais de rua, ao apoio de instituições e famílias que se debatem com dificuldades financeiras para manter os animais. Estas famílias são sinalizadas pelo pelouro do Desenvolvimento Social da junta de freguesia, “que, caso tenham animais de estimação ou pretendam adoptá-los, as encaminha para a Bolsa Solidária Animal”, explicou Sofia Oliveira Dias, presidente da autarquia.
A criação desta bolsa implicou também mudanças na gestão autárquica. Agora, cada vez que os técnicos da junta sinalizarem famílias ou cidadãos com carências económicas, os animais passam a fazer parte dos dados a incluir no sistema. “Antigamente a recolha deste tipo de dados não era feita - a partir de Janeiro, os animais de estimação passaram a fazer parte da equação”, acrescentou Sofia Oliveira Dias.
Nesta freguesia, a protecção dos animais é vista como uma responsabilidade da comunidade, e, por isso, todos são chamados a ajudar. O projecto está já a auxiliar dois cuidadores de colónias de gatos (fregueses que, voluntariamente, acolhem os animais que encontraram na rua), sem que estes tenham necessariamente carências económicas. A junta considera que os gatos selvagens são responsabilidade de todos e “os custos decorrentes da manutenção da colónia não podem recair apenas nos cuidadores.” Neste arranque do projecto há já a inscrição de um terceiro cuidador.
Estas colónias de animais assilvestrados são identificadas pela Comissão Local de Bem-Estar Animal, entidade de defesa dos direitos dos animais criada pela junta, e pelos seus parceiros.
Roupa usada dá consultas para animais
Neste momento, existe apenas uma parceria institucional com a empresa portuguesa Sarah Trading, de recolha e reciclagem de produtos em segunda mão. Por cada quilo de roupa, sapatos ou brinquedos colocados nos 20 contentores de recolha instalados na freguesia, a empresa retribui com 50 euros, valor que reverte para a bolsa solidária. Em 2016 foram angariados 2605 euros.
A autarquia está ainda a fazer contactos com uma marca de alimentos para animais para uma possível parceria.
Esta bolsa solidária é, a par com o programa de esterilização de gatos, a grande bandeira da Comissão Local para o Bem-Estar Animal, a primeira comissão local do género no país, diz a autarquia. Esta comissão, criada em Maio de 2016, promove o trabalho em conjunto de várias instituições. Entre elas estão sete clínicas veterinárias da freguesia, várias forças políticas e 18 entidades locais, como a PSP, a Casa dos Animais de Lisboa da Câmara Municipal, a Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa e a Sociedade Protectora dos Animais.
Desde a criação da comissão local, mais de 300 gatos já foram esterilizados – prática que a autarquia garante ser a “única forma de controlar as colónias ou prevenir patologias” nos felinos – pelo MEG - Movimento para a Esterilização de Gatos de Lisboa e pela Associação Animais de Rua.
A mais recente iniciativa desta comissão foi a colocação de abrigos para a alimentação dos gatos na freguesia, uma iniciativa pioneira em Lisboa.