Erdogan acusa Alemanha de se estar a portar como os nazis

Em causa está o cancelamento de comícios turcos em cidades alemãs. Julia Kloeckner, da CDU de Angela Merkel, disse que o Presidente "está a reagir como uma criança caprichosa" e exigiu desculpas.

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Apoiantes de Erdogan no comício deste domingo em Istambul Murad Sezer/Reuters

O Presidente da Turquia, Recep Erdogan, acusou o Governo de Berlim de se comportar como os nazis ao cancelar encontros de cidadãos turcos que vivem na Alemanha com os seus enviados que iam promover o referendo à mudança na Constituição turca.

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O Presidente da Turquia, Recep Erdogan, acusou o Governo de Berlim de se comportar como os nazis ao cancelar encontros de cidadãos turcos que vivem na Alemanha com os seus enviados que iam promover o referendo à mudança na Constituição turca.

Na semana passada, as autoridades alemãs retiraram a autorização de dois comícios, motivando a fúria de Ancara e a prisão de um jornalista turco-alemão.

Os comícios faziam parte da campanha do Governo turco para conseguir apoio entre o milhão e meio de imigrantes que tem na Alemanha para o referendo que visa dar poderes quase plenos a Erdogan, tornando a Turquia um país de sistema presidencial. As autoridades das cidades alemãs argumentaram que os cancelamentos se deveram a questões de segurança.

"Alemanha, não têm qualquer relação com a democracia e devem saber que as vossas aacções não são diferentes das do período nazi", disse Erdogan este domingo, num comício em Istambul.

As relações entre os dois países da NATO deterioraram-se desde o golpe de Estado falhado de Julho do ano passado na Turquia, quando o Governo de Ancara acusou Berlim, e outras capitais europeias, de não ter condenado o golpe ou de não o ter feito da forma devida.

Erdogan acusou a Alemanha de dar abrigo a inimigos da Turquia, de militantes curdos a organizadores do golpe.

O Presidente turco tem sido acusado nas capitais europeias de estar numa deriva autoritária e de ter usado o golpe para iniciar detenções em massa destinadas a calar as vozes da oposição - foram detidos militares, jornalistas, juízes, professores... A Alemanha exigiu a libertação de um jornalista turco-alemão detido na segunda-feira da semana passada e acusado de "espionagem".

"Vamos falar das acções da Alemanha na arena internacional e vamos pô-los na berlinda perante os olhos do mundo", disse agora Recep Erdogan. "Não queremos ver o mundo nazi nunca mais. Não queremos ver as suas acções fascistas. Pensávamos que isso era uma coisa do passado, mas aparentemente não era", acusou o Presidente turco.

Julia Kloeckner, uma das líderes do partido cristão-democrático (CDU) da chanceler Angela Merkel, disse que "Erdogan está a reagir como uma criança caprichosa que não pode ter o que quer". "A comparação nazi – disse ao jornal Bild – é um novo ponto alto na sua impertinência". Exigiu que o Presidente turco peça desculpa pela comparação com o nazismo.

Para este domingo, estava marcado um comício com o ministro da Economia turco, domingo, Nihat Zeybekci, nas cidades de Leverkusen e Colónia, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, onde habita uma importante comunidade turca.

A Alemanha é o principal parceiro comercial comercial turco na União Europeia, que a Turquia quer integrar, mas as negociações estão paradas precisamente devido ao que Bruxelas considera o caminho autocrático de Erdogan.

Os comícios de promoção do referendo de 16 de Abril estão a ser cancelados também na Holanda. No sábado, o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu, acusou o Governo holandês de não ser democrático.