Lei da “propaganda gay” poderá levar a Rússia a censurar A Bela e o Monstro

Novo filme tem o primeiro personagem abertamente gay da história da Disney e inclui uma cena de amor homossexual. Alguns políticos russos estão a pedir para que seja banido do país.

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O mulherengo Gaston (Luke Evans) com LeFou (Josh Gad), o seu braço-direito DR

A Rússia tem uma controversa lei que proíbe aquilo a que chama “propaganda gay junto de crianças e é ao abrigo deste diploma que alguns políticos estão agora a pedir que A Bela e o Monstro, remake do filme de animação da Disney de 1991, seja banido do país. Motivo: a nova produção, que não é animada, inclui o primeiro personagem abertamente gay dos célebres estúdios e uma cena de amor homossexual.

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A Rússia tem uma controversa lei que proíbe aquilo a que chama “propaganda gay junto de crianças e é ao abrigo deste diploma que alguns políticos estão agora a pedir que A Bela e o Monstro, remake do filme de animação da Disney de 1991, seja banido do país. Motivo: a nova produção, que não é animada, inclui o primeiro personagem abertamente gay dos célebres estúdios e uma cena de amor homossexual.

LeFou (Josh Gad), o braço-direito do mulherengo Gaston (Luke Evans), o antagonista da história que quer ganhar o afecto de Belle (Ema Watson) a todo o custo, começa por se mostrar confuso em relação à sua orientação sexual e acaba… Bom, Bill Condon, o realizador, não quer revelar o destino desta personagem, mas numa entrevista recente à revista Attitude Magazine, que trazia os protagonistas do remake na capa (Watson e Dan Stevens, o “Monstro” do título), garantiu que a obediência de LeFou ao seu senhor vai além da lealdade e que o filme inclui um “bom momento exclusivamente gay”.

O ministro da Cultura russo, Vladimir Medinski, está a ser pressionado para que se pronuncie sobre se o filme viola ou não a lei em vigor relativa à difusão de conteúdos de natureza homossexual a menores. Isto para que possa decidir-se a exibição (ou não) nas salas de cinema espalhadas pelo país.

O deputado Vitaly Milonov, do partido Rússia Unida, o do Presidente Vladimir Putin, já veio dizer que o filme é uma “vergonhosa propaganda do pecado” e pediu ao ministro da Cultura para que o proíba.

Milonov é um dos principais adeptos do diploma que ficou conhecido como a lei da “propaganda gay” e que foi aprovado em 2013, apesar dos protestos de vários movimentos de direitos humanos, sobretudo da comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgéneros e Intersexuais), dentro e fora do país.

Segundo o diário britânico The Independent, esta lei descreve a homossexualidade como uma “relação sexual não-tradicional” e proíbe todos os conteúdos capazes de promover “a negação dos valores tradicionais da família”.

Alexander Sholokhov, que tal como Milonov pertence às fileiras do partido conservador, está entre os que exigem ao ministro que tome medidas de imediato.

Na sequência desta polémica recente, o responsável pela Cultura já garantiu que a nova produção vai ser passada a pente fino: “Assim que tivermos uma cópia do filme […] vamos examiná-lo à luz da lei”, disse Vladimir Medinski.

A homossexualidade foi descriminalizada na Rússia em 1993, recorda a televisão britânica BBC, e removida da lista nacional de distúrbios psiquiátricos seis anos depois, mas a perseguição à comunidade LGBTI continua.

A estreia russa está agendada para 16 de Março. A Bela e o Monstro prepara-se para ser um sucesso de bilheteiras à escala planetária, com ou sem a Rússia.