Macron promete moralizar a vida política francesa
Programa eleitoral do candidato que "não é de direita nem de esquerda" está recheado de medidas para acabar com corrupção dos políticos. Reformas, subsídio de desemprego e educação são outras áreas prioritárias.
Quando as eleições presidenciais francesas parecem estar reféns das suspeitas de corrupção, Emmanuel Macron, o candidato independente que se tornou o favorito, apresentou um programa recheado de medidas de moralização da vida política. Uma delas é acabar com a possibilidade de os deputados darem emprego aos seus familiares, como fez o candidato do centro-direita François Fillon.
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Quando as eleições presidenciais francesas parecem estar reféns das suspeitas de corrupção, Emmanuel Macron, o candidato independente que se tornou o favorito, apresentou um programa recheado de medidas de moralização da vida política. Uma delas é acabar com a possibilidade de os deputados darem emprego aos seus familiares, como fez o candidato do centro-direita François Fillon.
“Não sou contra os empregos para familiares, quando são remunerados pelos próprios meios. Mas quando se trata do dinheiro público, não deve ser permitido”, afirmou Macron, prometendo fazer uma “lei de moralização da vida pública”. A criação desta legislação, que entre outras coisas combata o nepotismo, foi uma exigência de François Bayrou, líder do partido centrista MoDem, para lhe dar o seu apoio, que vale pelo menos cerca de 5% dos votos.
O combate à corrupção na política passa também por “reduzir drasticamente os conflitos de interesse, proibindo aos deputados o exercício de funções de actividades de consultoria”. François Fillon – e muitos outros eleitos – estão nesta situação. “Não se pode legislar estando ao mesmo tempo ao serviço de interesses”, sublinhou o candidato que diz “não ser de esquerda nem de direita”.
Fiscalizar “em toda a sua integralidade a remuneração dos deputados é outra das propostas de Macron, que quer concentrar atenções sobre as despesas de representação e as deduções. Sugeriu também a possibilidade de reduzir o número de eleitos na Assembleia Nacional e no Senado.
O anti-Fillon
Esta parte do seu programa é quase um plano de actividades anti-François Fillon. Depois de o candidato do partido Os Republicanos ter anunciado que foi convocado pelos juízes de instrução para depor a 15 de Março e ser constituído arguido, só 25% dos franceses querem que continue a ser candidato às presidenciais. Mas Fillon recusa retirar-se, e persiste no argumento de que está a ser vítima de uma conspiração. Na equipa da sua candidatura, porém, começou a debandada esta quinta-feira.
A Macron resta-lhe beneficiar dos infortúnios de Fillon – já que Marine Le Pen, a quem o Parlamento Europeu levantou a imunidade e se vê a braços com múltiplas processos judiciais, parece conseguir passar incólume por todas as ameaças. Uma sondagem Elabe mostra que desde 1 de Fevereiro aumentou a intenção de voto na líder da Frente Nacional em todos os sectores etários excepto nos 35-49 anos (em que desceu), e teve uma subida de 11 pontos nos jovens (18-24 anos). No caso de Macron, registou-se uma subida em todas as idades, mas sobretudo nos jovens (mais nove pontos).
Só que Macron, apesar do seu sucesso meteórico na campanha eleitoral – a sondagem Opinion Way desta quinta-feira, por exemplo, dá-lhe 23% na primeira volta (23 de Abril), face aos 25% de Marine Le Pen, e a vitória por 63% na segunda, a 7 de Maio –, ainda não tinha apresentado programa eleitoral. Fê-lo agora, depois de na semana passada ter avançado algumas propostas para a economia.
Segundo o jornal Les Échos, o programa é coordenado pelo economista Jean Pisani-Ferry – que colaborou nos programas para as presidenciais dos socialistas Lionel Jospin em 2002 e François Hollande em 2012, e esteve por trás do grupo que promovia a candidatura de Dominique Strauss-Khan, quando o então director do FMI foi abalroado pelo escândalo sexual em que se envolveu em Nova Iorque.
Se for eleito Presidente, Macron quer fazer uma mudança radical do sistema de pensões – acabar com os 37 actuais subsistemas e criar um único. “Será o verdadeiro fim das desigualdades entre funcionários públicos e assalariados do privado”, declarou.
Prometeu que não mexerá na idade de passagem à reforma, nem baixará o valor das pensões. O objectivo disse, é “dar confiança aos jovens que já não acreditam no nosso sistema. Será mais justo, pois a actualização passará a ser calculada em função da esperança de vida, que não é a mesma para um operário e para um quadro superior”, afirmou.
Por outro lado, com Macron no Eliseu haverá um novo sistema de subsídio de desemprego, que aposta na formação dos trabalhadores e dos jovens. O subsídio será suspenso se a pessoa recusar duas ofertas de emprego “decente”, ou seja, por um salário que não seja inferior a 20-25% ao seu anterior emprego.
Os professores são um eleitorado que tradicionalmente apoia os socialistas, mas nestas eleições uma boa proporção apoia Macron (29%, segundo a Sciences Po, mais do que os 25% que escolhem Benoît Hamon, o candidato do PS). Por isso, promete criar 4000 a 5000 empregos para professores, embora diga que pretende cortar 120 mil postos de trabalho na função pública.
E, proposta polémica, quer proibir o uso do telemóvel não só nas salas de aula como em todo o perímetro escolar.