Fairphone, o telemóvel ético, vendeu 125 mil unidades
Empresa holandesa não tinha novos modelos para apresentar, mas foi a Barcelona dizer que continua empenhada em criar aparelhos que durem muito tempo.
Foi de mãos a abanar que o director executivo da Fairphone subiu ao palco do Mobile World Congress, em Barcelona. A fabricante holandesa de smartphones não tinha novos produtos para anunciar na maior feira de dispositivos móveis do mundo. Por isso, em vez de produtos, o director Bas van Abel falou de números: “125 mil utilizadores já utilizam aparelhos Fairphone”. O objectivo do director é que o número aumente ao apresentar os produtos antigos a novos clientes.
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Foi de mãos a abanar que o director executivo da Fairphone subiu ao palco do Mobile World Congress, em Barcelona. A fabricante holandesa de smartphones não tinha novos produtos para anunciar na maior feira de dispositivos móveis do mundo. Por isso, em vez de produtos, o director Bas van Abel falou de números: “125 mil utilizadores já utilizam aparelhos Fairphone”. O objectivo do director é que o número aumente ao apresentar os produtos antigos a novos clientes.
A missão da empresa, fundada em 2013, sempre foi criar produtos tecnológicos mais sustentáveis que durem longos períodos de tempo, sem que seja necessário comprar outros ou dar dinheiro à exploração mineira dos metais utilizados para produzir telemóveis, que muitas vezes é feita de forma ilegal e sem respeito pelos direitos humanos.
O número de telemóveis Fairphone vendidos é muito pequeno quando comparado com o das marcas mais conhecidas (algo que o preço superior a 500 euros ajuda a explicar), mas o objectivo da empresa parece estar em linha com o novo relatório da Greenpeace, From Smart to Senseless, divulgado esta semana. Segundo a organização, 80% dos utilizadores de smartphones querem telemóveis "criados para durar".
O relatório avalia o impacto de dez anos de fabrico de smartphones no planeta e nos seus habitantes. Desde 2007, foram produzidos sete mil milhões de smartphones. Porém, o metal utilizado para produzir estes aparelhos continua a ser extraído por mineiros em condições precárias, frequentemente em países como a Republica Democrática do Congo, onde é utilizada mão-de-obra escrava numa actividade que financia conflitos entre militares e rebeldes. A história é contada em vários documentários. Um dos mais recentes foi Blood in the Mobile (Sangue no Telemóvel), que conta a história de Chance, de 16 anos, que passa dia e noite a trabalhar em minas para conseguir extrair obra-prima para a produção de smartphones.
Além de humanitário, o problema é ecológico. Segundo os dados da Greenpeace, o aumento da complexidade dos smartphones obriga a que mais energia seja gasta na sua produção. Desde 2007 foram utilizadas 968 terawatts de energia para fabricar smartphones. Aproxima-se da quantidade de energia utilizada na Índia durante um ano (foram 973 terawatts em 2014).
A Greenpeace argumenta que os materiais dos smartphones têm de se tornar mais fáceis de reciclar. Normalmente, os smartphones têm de ser desfiados através de trituradores industriais, antes de serem fundidos para reciclagem. Contudo, o resultado do material fundido é frequentemente impossível de reutilizar. “No fim-de-vida, o design destes produtos faz com que desmontar as peças seja um processo difícil, nomeadamente o uso de baterias coladas ao aparelho e impossíveis de remover, e parafusos específicos,” lê-se no relatório da Greenpeace. Recentemente, a marca Apple esteve envolta em alguma controvérsia devido à aparente impossibilidade de desmontar os novos auriculares Apple AirPods.
Telemóveis modulares
A Fairphone é um dos poucos exemplos que torna fácil que os clientes substituam partes do telemóvel, como a bateria ou o ecrã, sem terem de substituir o aparelho inteiro. De facto, de treze marcas avaliadas pela Greenpeace – entre as quais a Apple, a Sony e Huawei – apenas a LG (com o modelo LG G5) e a Fairphone permitiam isto.
O telemóvel vem com peças extras que facilitam reparações. As actualizações de software regulares devem manter o telemóvel a funcionar sem que seja preciso substitui-lo. O preço começa nos 523 euros, o aparelho permite dois cartões SIM, tem uma bateria fácil de remover e substituir, e todas as peças são obtidas através de comércio justo.
“Criámos o Fairphone 2 para durar o maior tempo possível. Também estamos a verificar de onde é que os materiais que utilizamos nos nossos telemóveis vêm,” disse Miquel Ballester Salvà, o co-fundador e director de produtos da Fairphone, em comunicado. A aposta é numa economia circular: “[É] uma abordagem de produção que visa maximizar a utilidade dos produtos, componentes e materiais ao longo do seu ciclo de vida. Em termos de reciclagem, isto significa conseguir uma recuperação total dos materiais quando chegam ao final da sua vida útil."
. @GreenpeaceEAsia @GreenpeaceEU and @Fairphone meet at #MWC2017 and discuss how to use design for positive change! pic.twitter.com/PUrW2rz1Ja
— Fairphone (@Fairphone) February 28, 2017
O último modelo lançado pela marca holandesa, o Fairphone 2, está em exibição esta semana em Barcelona. Foi lançado inicialmente em Dezembro de 2015, mas vai receber uma actualização nas próximas semanas para o sistema operativo Android 6.0.
No futuro, a empresa quer expandir a sua gama de produtos para incluir portáteis e relógios éticos.
Texto editado por João Pedro Pereira