Um Trump mais presidenciável, mas que ainda tem Washington para convencer

Na capital dos EUA, e fora do Congresso e da Casa Branca, é quase impossível encontrar alguém que goste do Presidente.

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Donald Trump no seu discurso reuters

“Então, ainda nada daquelas frases estúpidas?”, perguntou um novo cliente ao empregado do Capitol Lounge, um bar a poucas centenas de metros do Congresso dos Estados Unidos. Aqui, embora o ambiente seja o de um bar onde as pessoas vão para assistir a acontecimentos desportivos, o primeiro discurso de Donald Trump ao Senado e à Câmara dos Representantes esteve no centro das atenções, superando largamente os jogos do campeonato profissional de basquetebol norte-americano que eram transmitidos em algumas das outras televisões. E a reacção foi, ao longo da intervenção de mais de uma hora de Trump, a mesma a que habitualmente se assiste quando se está perante um jogo monótono: muita expectativa ao início e um entusiasmo que se foi desvanecendo ao longo do tempo.

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“Então, ainda nada daquelas frases estúpidas?”, perguntou um novo cliente ao empregado do Capitol Lounge, um bar a poucas centenas de metros do Congresso dos Estados Unidos. Aqui, embora o ambiente seja o de um bar onde as pessoas vão para assistir a acontecimentos desportivos, o primeiro discurso de Donald Trump ao Senado e à Câmara dos Representantes esteve no centro das atenções, superando largamente os jogos do campeonato profissional de basquetebol norte-americano que eram transmitidos em algumas das outras televisões. E a reacção foi, ao longo da intervenção de mais de uma hora de Trump, a mesma a que habitualmente se assiste quando se está perante um jogo monótono: muita expectativa ao início e um entusiasmo que se foi desvanecendo ao longo do tempo.

A meio do discurso, os comentários já eram, na mesa mais ruidosa composta por estudantes universitários, a de que Trump estava “igual aos outros políticos” e, apesar de ser evidente a forte oposição ao novo Presidente, as críticas acabaram por ser feitas a outros políticos, como Paul Ryan, o líder republicano da Câmara dos Representantes que, atrás de Trump, aplaudia entusiasticamente o Presidente. “Tu odeia-lo. Porque é que te levantas?”

Entre as pessoas presentes no Capitol Lounge, não estava à vista qualquer apoiante de Trump. Aliás, fora do Congresso e da Casa Branca, encontrar em Washinton alguém que diga bem do Presidente é uma tarefa extremamente difícil. Em Novembro, nas eleições presidenciais, no Distrito de Colúmbia, onde se encontra a capital, Hillary Clinton obteve 90,9% dos votos e Donald Trump apenas 4,1%.

E parece ser em Washington que Trump, que fez no seu discurso o anúncio de várias intenções políticas quase todas elas centradas na ideia de que “a América está primeiro”, justificando desse modo as medidas anti-imigração e a imposição de uma política económica proteccionista, terá o seu grande desafio nos primeiros meses da presidência.

Na administração pública, são vários os relatos de descontentamento em relação ao que se afirma ser uma gestão de improviso, em que vários cargos estão ainda por ocupar e as linhas de acção por definir, para além de que muitos daqueles que trabalham nas agências governamentais sedeadas em Washington, serem logo à partida contrários ao rumo defendido por Trump, o que constitui um obstáculo evidente (e sentido no passado por otros presidentes) à sua governação.

A nível político, são vários as questões em que Trump irá ter dificuldades em fazer avançar com as suas ideias. O sistema político norte-americano está construído precisamente para evitar que um só órgão, e em especial o Presidente, possa concentrar em si um grande poder. E apesar de no discurso desta terça-feira, os sucessivos aplausos de pé da bancada republicana poderem dar a imagem de uma equipa unida em torno do seu líder, na prática a situação é mais complexa.

Por exemplo, na política orçamental. Para já os detalhes não são muitos, mas no seu discurso, Trump confirmou que a intenção é a de reforçar o orçamento dedicado ao exército (os números que são falados apontam para um aumento de verbas de 10%) e para o lançamento de um programa de investimentos de infrastruturas de mil milhões de dólares, a ser suportado em conjunto pelo sector público e privado.

O problema está em saber como é que é possível fazer isso sem aumentar o défice, algo que muitos membros republicanos do Congresso não parecem dispostos a aceitar. Responsáveis da Casa Branca têm dado indicações que o reforço de verbas para a defesa será compensado com cortes avultados noutras agências governamentais, mas por exemplo a notícia de que o Departamento do Estado, responsável pelos esforços diplomáticos, iria sofrer cortes, já foi recebido com fortes críticas por vários republicanos.

Depois há o corte de impostos, uma ideia que entre os republicanos é muito popular. O problema aqui é que, enquanto alguns querem uma alteração ao imposto sobre as empresas que beneficie as exportações e torne mais caras as importações, outros consideram que isso terá um custo avultado para várias empresas americanas e para os consumidores e preferem um simples corte da taxa do imposto.

Neste caso, Trump, embora não tenha sido definitivo, parece no discurso ter apontado para a segunda solução, algo que vai contra as intenções de Ryan (apesar de este também ter aplaudido essa parte do discurso).

Na forma como será desmantelado o sistema de seguro de saúde montado pela administração Obama, também há várias dúvidas e divergências dentro do Partido Republicano. Trump afirmou que pode avançar, no modelo que substituirá o Obamacare, com a concessão de créditos fiscais, uma ideia que é vista com desagrado por vários republicanos.

Além disso, Donald Trump não poderá esquecer que, fazer avançar muitas das suas políticas, terá de ter ainda a capacidade de, ao mesmo tempo que mantém o seu partido unido, convencer alguns democratas a votar favoravelmente, já que no Senado, para desbloquear uma decisão, será preciso contar com 60 votos, acima portanto dos 52 senadores republicanos que actualmente existem.

No seu discurso, Trump apelou, dirigindo-se ao Partido Democrata, à união em torno do seu projecto para o país, mas fê-lo quase sempre depois de nas frases anteriores, classificar aquilo que aconteceu durante o mandato de Barack Obama como um “desastre”, por exemplo na política económica e de saúde. 

O jornalista viajou a convite do Departamento de Estado