O vazio continua a ser a constante do cinema de Danny Boyle
Trainspotting a ver-se ao espelho, com desejos de atingir uma aura trágica. Mas Boyle não pode contrariar o vazio que é a constante do cinema dele.
“Fenómeno cultural” mais do que outra coisa qualquer, o primeiro Trainspotting teve o condão de identificar uma geração com uma cidade, Edimburgo, e os seus meios proletários e nada fashionable (claro que se depois Trainspotting gerou “moda” isso se deveu ao estilo publicitário de Danny Boyle, o talento dele é esse).
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“Fenómeno cultural” mais do que outra coisa qualquer, o primeiro Trainspotting teve o condão de identificar uma geração com uma cidade, Edimburgo, e os seus meios proletários e nada fashionable (claro que se depois Trainspotting gerou “moda” isso se deveu ao estilo publicitário de Danny Boyle, o talento dele é esse).
Mas isto para dizer que se alguma graça tinha o filme original ela residia na sua localização, no retrato de um meio circunscrito que se respirava com alguma sinceridade. Aqui, em T2 Trainspotting, isso perde-se na avalanche de efeitos visuais (Boyle + Dod Mantle, o director de fotografia: já sabemos que é sempre salve-se quem puder) que destrói toda a relação com uma cidade concreta, para ficar apenas com a auto-reciclagem e a “actualização” do estrebuchar das personagens.
O filme fecha-se na sua mitologia, não se fecha na sua cidade — e os breves momentos em que um diálogo ou uma cena parecem querer abocanhar um elemento concreto (um bairro, uma rua, um edifício) da história de Edimburgo são rapidamente ultrapassados, como se Boyle tivesse definitivamente escolhido o “universal” e já só visse o “particular” como um empecilho.
Sobra Trainspotting a ver-se ao espelho, com desejos de atingir uma aura trágica (o confronto com Begbie, na sequência final), mas assente num vazio essencial que Boyle pode disfarçar mas não pode contrariar, porque esse vazio é a constante do cinema dele.