Populistas alemães perdem terreno nas sondagens após comentário sobre Holocausto

Discurso de responsável da Alternativa para a Alemanha crítico para com a "política de lembrar" o Holocausto e a II Guerra levou a queda na popularidade do partido e também das doações.

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A liderança da AfD no congresso em Estugarda: o partido está dividido WOLFGANG RATTAY/Reuters

O partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD) está a perder popularidade, depois de afirmações controversas de um dirigente em relação ao Holocausto e uma luta interna que se prolonga.

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O partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD) está a perder popularidade, depois de afirmações controversas de um dirigente em relação ao Holocausto e uma luta interna que se prolonga.

Quando estão à porta eleições em três estados-federados antes das legislativas de Setembro na Alemanha, a AfD viu-se envolvida num debate sobre o que fazer face a declarações de Björn Höcke, que num discurso em Dresden disse que era preciso “uma volta de 180 graus” na “política estúpida de lembrar o passado” que “nos deixa paralisados”. Höcke, líder da fracção da AfD no Parlamento do estado-federado da Turíngia (antiga Alemanha de Leste), criticou ainda o memorial ao Holocausto em Berlim: “Nós, alemães, somos o único povo do mundo que tem um monumento de vergonha no coração da sua capital”.

Höcke disse entretanto lamentar o erro de ter feito declarações sobre um assunto tão sério num encontro informal, mas o estrago estava feito.

Por um lado, a demora de acção da liderança da AfD sobre um membro que minimizou a importância da época nazi e do Holocausto foi demais para os apoiantes mais liberais da AfD (a presidente, Frauke Petry, demorou uma semana a pedir a sua expulsão do partido - que está entretanto dependente da decisão do ramo do partido na Turíngia).

Por outro lado, a ameaça de expulsão foi demais para os membros extremistas da AfD, explica Melanie Amann, jornalista da revista Der Spiegel e autora de um livro ainda não publicado sobre o partido.

Com este caso, a AfD perdeu popularidade, e uma série de sondagens de grandes institutos nas últimas duas semanas mostram intenções de voto de menos de 10% (quando há uns meses estava nos 15%). A CDU da chanceler Angela Merkel continua a liderar a maioria das sondagens seguida do SPD (34-31%, por exemplo, segundo o Forsa, mas também há projecções de empate a 32% como no Emnid).

As declarações do responsável da AfD sobre o Holocausto também provocaram uma descida nas doações: o secretário-geral do partido, Uwe Wurlitzerm, disse que a intervenção de Höcke “custou sem dúvida mais de 100 mil euros” ao partido, segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung.

A AfD surgiu no final de 2013, como um partido contra a política de resgates aos países do euro em dificuldades, mas foi-se tornando um partido populista e anti-imigração, consolidando-se sob a liderança de Frauke Petry. Desde 2015 que martela slogans contra a política de acolhimento de refugiados de Angela Merkel .

Políticos da AfD já fizeram comentários ofensivos: Alexander Gauland sugeriu que os alemães não quereriam ter Jerome Boateng, futebolista de ascendência ganesa, como vizinho; Frauke Petry já disse que seria aceitável a polícia alemã disparar contra migrantes que tentassem entrar ilegalmente no país, mas até agora tinham-se mantido longe de declarações directas sobre o sensível tema da II Guerra Mundial e do Holocausto.

Um outro inquérito de opinião, do britânico YouGov, mostra que uma maioria dos alemães considera o partido como de extrema-direita.