Macron testa eleitores com promessas de cortes e reformas

Enquanto não revela todo o seu programa, o candidato às presidenciais avançou as suas propostas económicas, que incluem uma baixa de impostos para quatro em cada cinco famílias francesas

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O candidato centrista apresenta um projecto de 50 mil milhões de euros de investimentos públicos Toby Melville/REUTERS

Manter o rumo de François Hollande, mas conseguir oferecer algo de suficientemente novo em termos de justiça social e conseguir, ao mesmo tempo, melhorar a saúde da economia. É esse o malabarismo no arame a que se propõe Emmanuel Macron, o mágico que ocupa o palco nestas eleições presidenciais francesas, que se transformaram num circo repleto de monstros e maravilhas.

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Manter o rumo de François Hollande, mas conseguir oferecer algo de suficientemente novo em termos de justiça social e conseguir, ao mesmo tempo, melhorar a saúde da economia. É esse o malabarismo no arame a que se propõe Emmanuel Macron, o mágico que ocupa o palco nestas eleições presidenciais francesas, que se transformaram num circo repleto de monstros e maravilhas.

O candidato que se diz “nem de esquerda, nem de direita”, e que subiu para 25% das intenções de voto na primeira volta das presidenciais, a 23 de Abril, depois de receber esta semana o apoio do centrista François Bayrou, promete apresentar – finalmente! – o seu programa eleitoral na quinta-feira, 2 de Março. Daniel Cohn Bendit, o ex-eurodeputado ecologista, deu-lhe também o seu apoio neste domingo. Mas, como um aperitivo para ir testando as reacções, apresentou já as grandes ideias do seu programa económico. 

Uma ideia que poderá ter um forte impacto é a de “exonerar do pagamento da taxa de habitação 80% dos franceses”, até 2020. Equivalente ao IMI em Portugal, este imposto rendeu às autarquias, em 2015, cerca de 22 mil milhões de euros. Mas tem um valor muito desigual, e pode ser injusto, diz o Le Monde, sendo de valor mais elevado nos municípios pobres, com um custo médio de 600 euros. “Globalmente, pesa mais sobre quem tem rendimentos mais baixos do que sobre os lares com maiores rendimentos”, escreve o diário. Quatro em cada cinco famílias devem ser beneficiadas.

É portanto uma medida popular, que Macron propõe compensar directamente com transferências para as autarquias a partir do Estado, que poderão chegar a dez mil milhões de euros durante o seu mandato, se for eleito Presidente. “É uma acção da mais essencial justiça para reforçar o poder de compra”, afirmou o candidato.

O candidato centrista apresenta um projecto de 50 mil milhões de euros de investimentos públicos, mas quer também controlar a despesa pública – o seu objectivo é conseguir poupar 60 mil milhões até 2022.

Para isso, prevê cortes na função pública, mas não tão drásticos como os prometidos por François Fillon, o candidato da direita, que fala em suprimir meio milhão de postos de trabalho. Macron propõe, de forma esquiva, cortar 120 mil funcionários. “Não é um objectivo, mas uma referência, caberá aos ministros fazer a sua escolha”, disse o ex-ministro da Economia do Governo socialista. Fará cortes no sector da Saúde (15 mil milhões de euros das poupanças prometidas), mas garante que não vai eliminar postos de trabalho nos hospitais. 

Funcionários públicos

Macron prevê ainda a “modernização” do estatuto dos funcionários públicos, introduzindo a mobilidade e remunerações individualizadas – isto vai ao arrepio da prática de François Hollande, que não se atreveu a mexer em nada que tivesse a ver com a carreira de um sector que é uma base tradicional do apoio do Partido Socialista francês.

A forma de financiamento dos municípios, e também do subsídio de desemprego, são outras das áreas visadas por Macron, o ex-ministro da Economia que gerou fortes reacções de rejeição dos sindicatos quando introduziu um pacote legislativo de modernização administrativa, que actuava sobre áreas tão variadas como os horários de trabalho nos centros comerciais, a abertura de novas linhas de autocarros em zonas rurais ou a liberalização dos notários.

Resta agora ver de que forma será recebido o seu programa, concretizando as ideias e discursos que têm conquistado tantos adeptos, içando-o à posição de favorito nestas eleições.

Segunda volta

As sondagens divulgadas este domingo mostram que Macron aumenta o seu resultado na segunda volta, a 7 de Maio. O estudo Odoxa indica que derrotaria Le Pen por 61% contra 39%; outro da Kantar Sofres OnePoint, diz que a divisão de votos seria 58% para Macron, 42% para Le Pen.

Por ora, a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, mantém a liderança na primeira volta, com 27%, diz a sondagem do Odoxa. O estudo da Kantar Sofres OnePoint coincide na análise: 27% para Le Pen, 25% para Macron. Nas últimas sondagens, Macron surgia empatado ou pouco à frente de François Fillon, sentindo os efeitos de ter classificado a colonização francesa da Argélia como “um crime contra a humanidade”. Mas recuperou rapidamente, apesar dos esforços o candidato do partido Os Republicanos para tentar explorar esse momento de fraqueza e entusiasmar os regressados da Argélia, ainda numerosos em França.

Fillon, dizem as sondagens, seria eliminado na primeira volta. O candidato da direita anda perdido nos seus problemas com a justiça – ainda que a decisão do Ministério Público de abrir um inquérito sobre o que parece ser um caso de emprego fictício da sua mulher como assistente parlamentar, durante anos, sem desempenhar funções, e a contratação dos seus filhos para funções no Senado, deva fazer arrastar o caso para lá do período eleitoral.

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