Esquerda e direita acusam-se: quem fez pior à escola pública?
Ministro anunciou 19 milhões de euros para formação de professores.
Foi um debate muito ideológico o que aconteceu na manhã desta sexta-feira na Assembleia da República. A polarização esquerda-direita continua bem presente no hemiciclo e os deputados digladiaram-se para saber quem tinha, afinal, feito pior à escola pública. A discussão foi pedida pelo Bloco de Esquerda que, pela voz de Joana Mortágua, defendeu ser preciso mais investimento público na educação e aproveitou para insistir na ideia de que o executivo não deve andar tão preocupado em ser o bom aluno no défice, considerando que ninguém pode ficar orgulhoso de mostrar bons resultados a Bruxelas quando são conseguidos “à custa da escola pública”.
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Foi um debate muito ideológico o que aconteceu na manhã desta sexta-feira na Assembleia da República. A polarização esquerda-direita continua bem presente no hemiciclo e os deputados digladiaram-se para saber quem tinha, afinal, feito pior à escola pública. A discussão foi pedida pelo Bloco de Esquerda que, pela voz de Joana Mortágua, defendeu ser preciso mais investimento público na educação e aproveitou para insistir na ideia de que o executivo não deve andar tão preocupado em ser o bom aluno no défice, considerando que ninguém pode ficar orgulhoso de mostrar bons resultados a Bruxelas quando são conseguidos “à custa da escola pública”.
Mas a esquerda aproveitou sobretudo para atacar o anterior Governo de direita pelas políticas concretizadas no sector da educação. Tanto bloquistas como comunistas. E socialistas. Joana Mortágua acusou o anterior executivo, que contou com sucessivas polémicas envolvendo o então ministro da Educação Nuno Crato, de ter sacrificado a escola pública em muitos euros e “erros”. Argumentaram, aliás, que Crato pôs em marcha uma “visão pobre” da educação, fomentando a selecção de alunos e a competição entre escolas, e que o discurso sobre a exigência e a qualidade foi um “embuste”.
Depois de elencar o que vê como os erros do passado, Joana Mortágua fez o elogio do presente, defendendo que esta maioria travou o caminho da direita. Só que esta tónica elogiosa não caiu nada bem à direita. E o social-democrata Amadeu Albergaria fez questão de o deixar claro na sua intervenção (que seria, depois, descrita como “bafienta” pela esquerda).
“A realidade diária da falta de condições, da falta de funcionários, da falta de verbas para as simples despesas correntes é o resultado directo do vosso Governo ou melhor...do vosso desgoverno”, atacou logo o deputado, apontando o dedo à bancada do Bloco, que até se riu do que ouvia: “este é Ministério que, com os comunistas ortodoxos, os senhores tutelam. Sim! O Ministério que o PS entregou à extrema-esquerda e a um dirigente sindical obedientemente comunista para poder sobreviver politicamente. Sim, esta é uma acusação. Os senhores usaram os alunos portugueses como moeda de troca para ocuparem o poder.”
Amadeu Albergaria até sugeriu ironicamente aos bloquistas que, quando forem visitar a próxima escola, não façam de conta que são oposição. Isto depois de Joana Mortágua ter dito que esta maioria tem de se comprometer com a resolução de problemas como a falta de assistentes operacionais, as obras necessárias nas escolas, a vinculação dos professores (o ministro garantiu que serão feitas mais vinculações extraordinárias nos próximos anos). E de ter garantido que o Bloco vai apresentar um projecto sobre gestão democrática das escolas e que espera “abertura” nessa discussão.
Às ideias do BE, Amadeu Albergaria abanou a cabeça, aproveitando também para acusar o PS de fazer parte de um “silêncio cúmplice” com “a extrema-esquerda”. “Um silêncio comprado pelo PS, que abandonou e ignorou o seu próprio passado”, disse.
Vários deputados participaram no debate, mas o sentido da guerrilha ideológica foi sempre este. Heloísa Apolónia, d’Os Verdes, acusou o social-democrata de ter uma “visão retrógrada e perigosa” da educação; os comunistas disseram que entregaram um projecto que revoga o regime fundacional, mas também pediram responsabilidades na área ao Governo; o ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues recusou estarem a ser postas em prática alterações abruptas no sector.
E, claro, elencou várias medidas deste executivo como a recente criação de um grupo de recrutamento para professores de língua gestual portuguesa e uma verba de 19 milhões de euros para dar formação (gratuita) aos docentes. Assegurou ainda que a redução do amianto nas escolas é uma prioridade.