Descoberto romance esquecido de Walt Whitman
Life and Adventures of Jack Engle foi publicado em 1852 e, nele, o futuro autor de Folhas de Erva encontrava-se num período de transição, experimentando diferentes géneros literários.
Ao chegar ao capítulo 19, testemunhamos um “momento mágico”, diz Ed Folsom, editor da Walt Whitman Quarterly Review. É o momento em que o protagonista do romance entra no cemitério da Trinity Chruch, em Manhattan, e em que a narrativa se suspende para dar lugar a reflexões poéticas sobre a natureza e a imortalidade, enquanto Jack, o protagonista, observa as lápides daqueles que ali pereceram. Naquele momento, diz Zachary Turpin, investigador da Universidade de Houston, vemos como Walt Whitman experimentava com os géneros, a caminho de se descobrir enquanto o grande poeta de Folhas de Erva. Turpin é o responsável por podermos agora aperceber isso mesmo. Foi ele que redescobriu Life and Adventures of Jack Engle, romance esquecido de Whitman.
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Ao chegar ao capítulo 19, testemunhamos um “momento mágico”, diz Ed Folsom, editor da Walt Whitman Quarterly Review. É o momento em que o protagonista do romance entra no cemitério da Trinity Chruch, em Manhattan, e em que a narrativa se suspende para dar lugar a reflexões poéticas sobre a natureza e a imortalidade, enquanto Jack, o protagonista, observa as lápides daqueles que ali pereceram. Naquele momento, diz Zachary Turpin, investigador da Universidade de Houston, vemos como Walt Whitman experimentava com os géneros, a caminho de se descobrir enquanto o grande poeta de Folhas de Erva. Turpin é o responsável por podermos agora aperceber isso mesmo. Foi ele que redescobriu Life and Adventures of Jack Engle, romance esquecido de Whitman.
Publicado no New York Daily Times, agora New York Times, em 1852, quando Walt Whitman contava 32 anos, o romance é uma história dickensiana com um órfão como protagonista, à volta do qual pululam um advogado sem escrúpulos, políticos interesseiros, comunidades Quakers e outras figuras da Nova Iorque de meados do século XIX. “É a abordagem de Whitman à ‘city mystery novel’, um género popular na época, que colocava em confronto os ’10 mil de cima’ – aquilo a que chamaríamos hoje o 1% – contra o milhão de baixo”, explicou ao New York Times David S. Reynolds, da Universidade Nova Iorque, um especialista na obra do poeta.
O romance foi descoberto no Verão por Zachary Turpin, recorrendo às bases de dados online que coligem toda a diversidade de publicações americanas do século XIX. No ano passado, Turpin revelara outro inédito de Whitman, um ensaio sobre como manter a saúde e a boa forma física intitulado Manly Health and Training (1858). Turpin chegou ao romance ao seguir a pista descoberta num extenso catálogo das obras publicadas, planeadas, completas ou deixadas em rascunho por Whitman. Numa entrada, deparou-se com nomes de personagens sem relação com nenhuma obra conhecida do escritor. Um pequeno anúncio publicado no New York Daily Times em 1852, anunciando para o domingo seguinte o início da publicação do romance, desvendou o mistério.
Zachary Turpin explica que Life and Adventures of Jack Engle foi escrito na mesma altura em que Whitman trabalhava em Folhas de Erva, que seria publicado em 1855. “O Whitman que encontramos em Jack Engle não é ainda o poeta confiante e empenhado que julgamos agora que sempre foi. É durante este período vital que ele experimenta, que tenta diferentes géneros e formas de expressão, procurando um que seja amplo e expansivo o suficiente para expressar aquilo que [Ralph Waldo] Emerson chamaria ‘a infinitude do homem no seu íntimo’”.
Whitman não seria o maior entusiasta em relação à obra. Em 1882, cita o New York Times, escrevia: “O meu profundo desejo é que todas aquelas peças toscas e pueris [escritas no início de carreira] caíssem silenciosamente no esquecimento”. Desejo não cumprido. Esta segunda-feira, Life And Adventures of Jack Engle foi publicado online no site da Walt Whitman Quarterly Review. A edição física é da University of Iowa Press.