Portugal visto pela Monocle: uma "nação orgulhosa e pronta para o negócio"
A edição do 10.º aniversário da revista Monocle tem um caderno especial de 64 páginas sobre Portugal. Nos artigos publicados é destacada a cultura portuguesa, a inovação, a gastronomia, os negócios, as livrarias e o alojamento.
“Portugal está no meio de algo notável”. Começa assim a reportagem especial dedicada a Portugal na edição de Março da revista britânica Monocle, que considera que o país está a ultrapassar a crise, ao manter o comércio tradicional (como o fabrico de sapatos e cortiça) e, simultaneamente, ao inovar no campo da tecnologia, energia e mobilidade. Das mais de 300 páginas da revista, 64 são dedicadas a Portugal.
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“Portugal está no meio de algo notável”. Começa assim a reportagem especial dedicada a Portugal na edição de Março da revista britânica Monocle, que considera que o país está a ultrapassar a crise, ao manter o comércio tradicional (como o fabrico de sapatos e cortiça) e, simultaneamente, ao inovar no campo da tecnologia, energia e mobilidade. Das mais de 300 páginas da revista, 64 são dedicadas a Portugal.
“Quisemos mostrar Portugal ao mundo”, diz ao PÚBLICO Carlota Rebelo, uma das editoras do caderno especial, referindo que já há muito que “a Monocle se tem focado em Portugal e no seu potencial”. Na primeira página do caderno especial, os leitores são convidados a virar a página e descobrir uma nação “orgulhosa, pronta para o negócio e engrenada com o resto do mundo”.
A jornalista da Monocle admite que o “soft power” português está no seu auge: “António Guterres como secretário-geral da ONU, a vitória do Europeu [de futebol], virado para o mundo com museus como o MAAT e eventos como a Web Summit”, assim como propostas de urbanismo para tornas as cidades mais verdes e acessíveis. “Portugal está a viver um óptimo momento – e a saber aproveitá-lo”, remata.
A reportagem especial é uma colectânea de artigos sobre cultura e o comércio de norte a sul do país e inclui ainda uma entrevista ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e outra ao primeiro-ministro, António Costa, “para avaliar o estado da diplomacia portuguesa e a forma como conseguiram passar ao lado da onda populista que assola a Europa”, afirma Carlota Rebelo.
Ao folhear as páginas dedicadas ao nosso país, destacam-se os elogios: do clima ao grande investimento à inovação de indústrias portuguesas, passando pela sua moda, design, gastronomia e bom vinho – Portugal é ainda considerado um país hospitaleiro, com uma população fluente em inglês e com uma bonita orla costeira.
A co-editora do caderno especial afirma que “a tradição é o ingrediente secreto no sucesso que Portugal está a viver”, pelo que decidiram falar com produtores de vinho no Alentejo que usam métodos tradicionais.
Por outro lado, um dos artigos fala de vários negócios portugueses de sucesso numa vertente mais inovadora. É o caso das bicicletas Órbita em Águeda – que agora se foca em modelos urbanos e sistemas de bicicletas para uso partilhado –, a Vision Box, em Carnaxide – com enfoque em tecnologias de reconhecimento facial e controlo de fronteiras – ou a corticeira Amorim, em Santa Maria de Lamas, que tem uma produção superior a cem mil toneladas de cortiça, usadas por todo o mundo – até em veículos espaciais da NASA.
Num outro artigo, Josh Fehnert, um dos jornalistas da Monocle, lista alguns itens típicos que concedem o charme a este país “à beira-mar plantado”, como diria Tomás Ribeiro. Dá destaque aos azulejos, à cortiça, a Cristiano Ronaldo, ao vinho do Porto, ao pastel de nata, ao galo de Barcelos e, por fim, às andorinhas, símbolo da esperança e solidariedade que, tal como muitos portugueses, migram para sítios remotos até voltarem a casa.
Fernando Pessoa, José Saramago e Luís de Camões são os escritores destacados pela jornalista Trish Lorenz para explicar o amor que Portugal tem pela literatura e que explica a abundância de livrarias em Lisboa. A revista faz uma selecção de cinco livrarias de passagem obrigatória na capital e dá também destaque à Livraria Lello, no Porto, considerando-a a “livraria mais bonita e famosa de Portugal”.
Livrarias lisboetas recomendadas pela Monocle:
- Livraria Ferin;
- Livraria Bertrand Chiado;
- Livraria Sá da Costa;
- Livros Cotovia;
- Livraria Ler Devagar.
À conversa com os chefs
Passando da literatura para a gastronomia, encontramos um artigo escrito com base num jantar da jornalista Trish Lorenz com os chefs Miguel Castro e Silva, Ana Moura, José Avillez e o criador da marca de sal Salmarim, Jorge Filipe Raiado. Sentaram-se à mesa para debater a razão pela qual a gastronomia portuguesa não é muito conhecida além-fronteiras. Como respostas, foram referidas a falta de confiança dos portugueses nos produtos nacionais e reforçada a necessidade de os produtores se juntarem e criarem uma imagem de qualidade nos mercados estrangeiros, considerando ainda que os portugueses não devem ter medo de aumentar os preços (externamente) se o produto o merecer.
José Avillez conta que muitos turistas ficam admirados pelo preço de um bom vinho, o que considera expectável uma vez que Portugal tem um dos melhores rácios do mundo relativamente ao preço e qualidade do vinho.
O aumento do turismo em Portugal também se reflecte no alojamento. Apesar da crise financeira que afectou Portugal, a Monocle refere que o sector hoteleiro recuperou rapidamente, tendo igualmente melhorado em termos de qualidade. Em termos de hospedaria, a Monocle elege cinco locais que reúnem condições dignas de nota, num país que tem “alta consideração pela hospitalidade”:
- Memmo Príncipe Real, Lisboa;
- Pousada Convento de Évora;
- My Home in Porto;
- Casa Mãe, Lagos;
- The Independente Hostel & Suites, Lisboa.
Relação especial com Portugal
Para evidenciar o papel da imprensa portuguesa num país que viveu em ditadura até há cerca de 40 anos, a Monocle apresenta uma entrevista a três directores de órgãos de comunicação social portugueses: Paulo Baldaia, do Diário de Notícias, Mário Ramires, do Sol e do i, e David Dinis, do PÚBLICO. São abordados os desafios impostos ao jornalismo em tempos de crise e numa era tecnológica. “O que mudou foi a forma como se lêem as notícias”, diz Paulo Baldaia, considerando que o interesse pelo jornalismo é o mesmo hoje do que há dez anos. “Nunca houve tanto acesso à informação como hoje”, diz David Dinis, explicando que nem toda é fidedigna e é aí que reside o trabalho de triagem feito pelos jornalistas.
Neste grande destaque dado a Portugal pela Monocle nota-se investimento de empresas portuguesas e do Estado, traduzidas em, pelo menos, 11 páginas de publicidade. Existe conteúdo patrocinado pela EDP, Turismo de Lisboa, Direcção-Geral do Património Cultural, Câmara municipal, Compete 2020, AICEP, ou Portugal 2020.
A relação da Monocle com Portugal não é de agora. “Há muito que acompanhamos Portugal”, diz Carlota Rebelo, destacando trabalhos como a edição n.º 57 de 2012, inteiramente dedicada ao mundo lusófono e ao seu crescimento; um guia publicado em que percorreram Portugal de norte a sul; ou o facto de o congresso Monocle Quality of Life 2015 ter sido feito em Lisboa. “Na nossa rádio, a Monocle 24, falamos regularmente em Portugal – tanto nos programas noticiosos como de urbanismo e design”, conclui. No site da Monocle – que na capa da sua edição de Março de 2017 diz ter uma “relação especial” com Portugal – podem-se consultar alguns trabalhos feitos sobre o país.