Como é que a “gerigonça” resiste a um sistema político “assimétrico”? António Costa explica

Em entrevista à Monocle, o primeiro-ministro considera que as pessoas têm procurado alternativas fora dos partidos centrais e diz que Portugal manterá uma relação “amigável” com os Estados Unidos.

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LUSA/TIAGO PETINGA

“António Costa não devia ser primeiro-ministro” – começa assim a descrição feita na edição especial da Monocle pelo jornalista Matt Alagiah sobre o primeiro-ministro português, explicando a situação gerada nas eleições legislativas de 2015. De acordo com a revista, António Costa tem “deflacionado a ortodoxia de austeridade europeia” através de um programa que aumentou a empregabilidade e controlou o défice orçamental.

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“António Costa não devia ser primeiro-ministro” – começa assim a descrição feita na edição especial da Monocle pelo jornalista Matt Alagiah sobre o primeiro-ministro português, explicando a situação gerada nas eleições legislativas de 2015. De acordo com a revista, António Costa tem “deflacionado a ortodoxia de austeridade europeia” através de um programa que aumentou a empregabilidade e controlou o défice orçamental.

Questionado sobre a solução governativa (a “gerigonça”), António Costa considera que Portugal tinha um sistema político “assimétrico”, em que a direita sempre conseguiu estar unida e a esquerda dividida. “Desta vez, podíamos estar uns contra os outros novamente ou encontrar uma solução”, afirma, dizendo que existem grandes diferenças entre o Partido Socialista e os seus parceiros governamentais que são, no entanto, ultrapassadas através de uma visão madura das necessidades do povo português.

“A Europa deve dar respostas concretas aos medos das pessoas”, diz António Costa, para quem o populismo deriva da ideia de que não há diferença entre o centro-esquerda e o centro-direita – o que, por sua vez, leva as pessoas a procurar alternativas fora desses partidos. E foi isso que aconteceu em Portugal: “Provámos que era possível permanecer na Europa e virar a página da austeridade”.

Em relação à ligação entre o Governo português e a administração Trump, António Costa é conciso: “Manteremos uma relação directa e amigável com os Estados Unidos”. O chefe de Governo afirma que o Estado português tem interesses permanentes numa boa relação com a nação americana, por existir uma forte ligação económica entre os dois países e por existir uma grande diáspora de portugueses no estrangeiro, acrescendo o facto de serem ambos membros da NATO e de existir uma base americana nos Açores.

O primeiro-ministro descreve Portugal como sendo um país “multicultural, tolerante, aberto ao negócio e à migração”, o que permite “construir pontes onde outros constroem muros”.

“Temos de continuar a atrair mais investimento estrangeiro” – diz – “mas, ao mesmo tempo, devemos construir casas para os mais novos e desenvolver políticas para a classe média”. Em relação ao turismo, António Costa afirma, precisamente, que as cidades portuguesas não devem perder a sua população, já que os turistas valorizam as cidades pela sua genuinidade. Devem, sim, manter um turismo sustentável enquanto se criam oportunidades para a classe média e medidas que estimulem a permanência de jovens nos centros urbanos. Na entrevista à Monocle, António Costa referiu ainda que existem várias medidas portuguesas que dão prioridade ao empreendedorismo.