Governo do México levanta a voz aos convidados americanos
A visita dos secretários de Estado e de Segurança Interna ao país foi pensada como um gesto de desagravo depois das provocações de Trump, mas a tensão entre os dois vizinhos não pára de aumentar.
A missão tem tanto de difícil como de delicada: o chefe da diplomacia norte-americana e o responsável pela segurança interna do país, Rex Tillerson e John Kelly, estão no México para “reactivar” a relação bilateral e mitigar os danos provocados pelas políticas e os tweets provocatórios do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – que antes de cumprir uma semana de mandato já tinha inventado um braço-de-ferro com Enrique Peña Nieto que se transformou numa crise diplomática com potencial para desestabilizar as relações do país com o resto da América Latina.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A missão tem tanto de difícil como de delicada: o chefe da diplomacia norte-americana e o responsável pela segurança interna do país, Rex Tillerson e John Kelly, estão no México para “reactivar” a relação bilateral e mitigar os danos provocados pelas políticas e os tweets provocatórios do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump – que antes de cumprir uma semana de mandato já tinha inventado um braço-de-ferro com Enrique Peña Nieto que se transformou numa crise diplomática com potencial para desestabilizar as relações do país com o resto da América Latina.
Mas as expectativas de uma normalização diplomática esfumaram-se na véspera da partida de Kelly e Tillerson. Numa nova alfinetada ao vizinho do Sul – ou mais uma prova de desorganização interna – a Administração norte-americana decidiu tornar público o seu “plano de execução” da polémica directiva assinada por Trump em nome da segurança da fronteira e do combate à imigração ilegal, que passa pelo endurecimento das acções de detenção e deportação de estrangeiros sem visto de residência e trabalho. Nenhum dos cerca de cinco milhões de mexicanos clandestinos nos EUA pode, a partir de agora, dormir tranquilo, com o espectro da expulsão a pairar sobre si e a sua família. Aliás, antes de seguir para o México, John Kelly parou na Guatemala para assistir ao desembarque de um voo de repatriamento de imigrantes – o recado não podia ser mais óbvio.
O anúncio foi recebido como mais um acto hostil de Donald Trump, a juntar aos insultos dos mexicanos como “bad hombres”, às ameaças de tarifas punitivas para as empresas multinacionais americanas com unidades de produção e investimentos no país, e à famigerada construção de um muro na fronteira. “O México não aceitará qualquer proposta de imigração unilateral, e não hesitará em accionar as Nações Unidas para defender os seus imigrantes”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luis Videgaray, um dos principais interlocutores do Governo mexicano junto da Administração Trump.
A viagem dos dois governantes norte-americanos até à Cidade do México fora pensada como um gesto de desagravo e conciliação, indispensável ao restabelecimento da “confiança e o respeito para um diálogo construtivo entre os dois governos”, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros mexicano. Internamente, a ida da montanha a Maomé era um ponto a favor do Governo de Peña Nieto, que satisfazendo a fúria dos seus compatriotas cancelou uma cimeira em Washington depois de ser “humilhado” por Trump com a insistência de que os custos da construção do muro serão suportados pelos mexicanos.
“Em vez de dar as boas vindas a Tillerson e Kelly como se nada tivesse acontecido, o Governo de Penã Nieto devia dizer claramente que nenhuma negociação avançará até ser rescindido o decreto para construir este muro absurdo e ofensivo e os nossos cidadãos deixarem de ser perseguidos e criminalizados”, escreveu a colunista Carmen Aristegui no jornal Reforma, dando voz à afronta da opinião pública mexicana, que não desculpará ao seu Governo nenhuma acção que possa ser entendida como uma cedência aos interesses representados pelos dois visitantes.
O impopular Presidente Peña Nieto e o seu Partido Revolucionário Institucional, que vão a votos em 2018, não têm nem margem de manobra nem capital político disponível por exemplo para manter vivo o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) que Donald Trump quer enterrar. A passividade do líder mexicano depois das sucessivas provocações de Trump mereceu dura crítica do La Jornada. “O México já deixou passar demasiados gestos de hostilidade, sem apresentar uma nota de protesto, sem suspender os contactos bilaterais ou sem reclamar junto dos tribunais internacionais”, lia-se no editorial do diário.