"A ANA não quer a Ryanair a voar para o Montijo"

O presidente da Ryanair diz que a ANA é uma empresa que inventa problemas por estar confortavelmente instalada a usufruir de um monopólio no destino que mais tem crescido na Europa. O'Leary diz ainda que a Ryanair vai ser a principal companhia de aviação dentro de dois anos. Mesmo sem Montijo.

Foto

No dia em que anunciou a abertura de três novas rotas a partir de Lisboa (Cracóvia, Baden, Bruxelas-Charleroi) e uma a partir do Porto (Nápoles) depois de Outubro, o presidente da Ryanair, Michael O'Leary deu uma entrevista ao PÚBLICO.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

No dia em que anunciou a abertura de três novas rotas a partir de Lisboa (Cracóvia, Baden, Bruxelas-Charleroi) e uma a partir do Porto (Nápoles) depois de Outubro, o presidente da Ryanair, Michael O'Leary deu uma entrevista ao PÚBLICO.

A ANA já pegou no telefone para vos perguntar se estão interessados em voar para o Montijo?
Não. Porque a ANA não nos quer a voar no Montijjo.

Acha?
Sei que é assim.

Como assim? Os estudos apontam para o facto de haver uma certa dependência da Ryanair para que o projecto funcione.
A sério? E o que fazem é adiar a decisão? O Montijo deveria estar aberto já no Verão do próximo ano. É possível construir um terminal low cost em menos de 12 meses, por cerca de 25 milhões de euros. Mas a ANA está a falar em gastar 250 milhões, em demorar quatro anos, e em fazer estudos. O que é que vão andar a estudar? Os aviões já lá estão.

Há questões ambientais por determinar, por exemplo, o impacto nas aves.
O caso dos pássaros....É só pegar em duas shotguns e o problema dos pássaros resolve-se... A sério, já lá levantam e pousam aviões.

Que condições exige a Ryanair para voar para o Montijo?
Essencialmente taxas mais baixas, muito mais baixas do que as que são cobradas na Portela. E imagino que estas são condições exigidas pela maioria das companhias de aviação. O meu receio é que a ANA diga: olhem, tivemos de gastar 250 milhões para fazer o Montijo, por isso as taxas vão ser as mesmas do que na Portela. Ninguém vai querer voar para lá.

Já se refere que a mobilização das companhias para o Montijo será feita com taxas aeroportuárias mais baixas.
Então aí estaremos para ajudar a crescer a região. Mas esse é outra questão que é preciso desmitificar: a ANA anda a dizer que a Portela está cheia quando isso não é verdade. Eles dizem que os terminais estão cheios, mas a maior parte do dia estão vazios.

A Ryanair tem conseguido fazer todos os voos que quer? Tem slots para isso?
Na verdade, não. O problema é que já não podemos estacionar mais aviões, pô-los em Lisboa durante a noite, para levantarem às primeiras horas da manhã. Mas se tivermos o avião estacionado noutro sítio qualquer, podemos chegar à vontade, a meio da manhã ou a meio da tarde.

E isso não é bom para a Ryanair? 
Sim, vivemos bem com isso. Mas significa que não podemos operar mais voos de manhã cedo para o segmento de negócios, e para os passageiros que querem sair de Lisboa de manhã cedo e regressar ao fim do dia. Essa é uma maneira com que a ANA está a proteger a TAP, e a limitar-lhe a concorrência.

Quando acha mesmo que vai conseguir bater a TAP?
Acredito mesmo que vai acontecer. Com o crescimento que anunciámos esta quinta-feira, de três novas rotas em Lisboa, e uma nova no Porto, eu acredito que nos próximos dez anos chegaremos aos dez milhões de passageiros. A TAP movimenta 11,5 milhões.

E não precisa do Montijo para isso?
Não. Podemos crescer no Porto ou em Faro. Também queríamos crescer na Portela, mas a verdade é que temos estado a ser bloqueados. Por isso, sim, gostávamos de ter o Montijo. Vamos receber em breve os primeiros dos 250 aviões que encomendámos para aumentar a nossa frota de curta distancia. Até 2023 vamos passar dos actuais 120 milhões de passageiros transportados por ano para os 200 milhões. Será uma média de dez milhões de passageiros por ano, um crescimento que poderemos oferecer a aeroportos como Portela, Porto ou o Montijo

O que é mais importante para a Ryanair quando está a negociar com as autoridades aeroportuárias?
Coisas simples, as mesmas que pedimos em todos os aeroportos: taxas baixas e instalações eficientes. Se não conseguirmos fazer a rotação em 25 minutos, não voamos para esse aeroporto.

Conseguem fazê-lo sem problemas na Portela?
Sim. Usamos o terminal 2, que eles deviam expandir. Mas não querem fazê-lo. A ANA está sempre a inventar problemas.

A ANA é mais problemática dos que as outras autoridades aeroportuárias com que lida?
Sim, muito mais. Primeiro porque são um monopólio. Segundo porque estão a crescer. Enquanto conseguir limitar o crescimento da Portela a 4% ou 5% ao ano podem continuar  a subir os preços das taxas. É o que vão fazer, no próximo ano, apesar de gerir os aeroportos que mais estão a crescer na Europa. Como é que as taxas estão a aumentar quando o tráfego está a crescer? Olhe à volta. Schipool, em Amesterdão, est a reduzir as taxas 7% este ano, os aeroportos espanhóis comprometeram-se abaixar 2% ao ano, nos próximos 5 anos. O que se passa em Portugal. Nada. É um monopólio. E francês.

E voos para as ilhas. Quando haverá mais novidades?
Estamos contentes com Ponta Delgada e Angra do Heroísmo. Tentámos uma aproximação ao Funchal, mas foi muito difícil. As taxas estão muito altas. Mas estão lá dois operadores, a TAP e a Easyjet, a cobrar preços muito elevados. E estão todos contentes.

Mas tentaram ou não?
Sim. Mas desistimos. No Funchal são uns mimados, porque já são um destino muito procurado por turistas. E não querem preocupar a  TAP. Vamos continuar a trabalhar com os Açores, que é gente criativa, empenhada, que quer crescer. No Verão, as ligações para Ponta Delgada e Londres vão duplicar, e passar para quatro voos por semana.