Compras mensais de dívida portuguesa pelo BCE vão cair mais de 40% em 2017

FMI avisa que Portugal continua a ser um país “vulnerável a uma série de choques que” podem conduzir a uma mudança de confiança nos mercados e a uma alta acentuada dos juros.

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Subir Lall, chefe da missão do FMI a Portugal lm miguel manso

Portugal não vai poder contar este ano com uma ajuda do BCE nos mercados tão grande como no ano anterior, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI), que continua a ver o país numa situação vulnerável face a choques que podem dificultar o acesso do país ao financiamento nos mercados.

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Portugal não vai poder contar este ano com uma ajuda do BCE nos mercados tão grande como no ano anterior, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI), que continua a ver o país numa situação vulnerável face a choques que podem dificultar o acesso do país ao financiamento nos mercados.

No relatório da quinta avaliação pós-programa da troika a Portugal publicado esta quarta-feira, os técnicos do Fundo assinalam a importância que as medidas tomadas pelo Banco Central Europeu (BCE) têm vindo a assumir na capacidade do país para se financiar. Em especial, destaca-se o facto de, neste momento, os títulos de dívida detidos pelo BCE representarem quase um terço do total da dívida portuguesa e de, em 2016, as compras do banco central terem sido o dobro das emissões líquidas realizadas pelo Tesouro.

Face a esta dependência, ganha importância o facto de as regras do programa de compra de dívida do BCE limitarem fortemente o ritmo das aquisições que irão ser feitas em 2017, nomeadamente porque o banco central não pode passar a deter mais de um terço do total da dívida de um determinado país. De acordo com as contas do FMI, o que isto significa para Portugal é que se irá registar durante este ano “uma redução das compras mensais do BCE de cerca de 40% ou mais face a 2016”.

O relatório do Fundo assinala que, quando se soube da manutenção destas regras, os mercados reagiram com uma subida das taxas de juro da dívida portuguesa a 10 anos para um nível acima de 4%, quando antes se encontravam próximo de 3,5%.

Este efeito BCE é apenas um dos factores de risco que o FMI identifica em Portugal. Outro risco assinalado tem a ver com a ocorrência de mais más notícias na banca. “Uma surpresa negativa proveniente do sistema bancário pode ser particularmente prejudicial”, avisa o Fundo.

A nível internacional, há outros factores que são vistos como uma ameaça a Portugal, como uma subida das taxas de juro nos EUA e no resto do globo ou uma travagem brusca na economia chinesa. Todos eles, diz o FMI, “podem fazer os spreads ficarem significativamente mais altos do que o previsto”.

Portugal está preparado para fazer face a estes cenários? O FMI duvida. Diz que “a concretização de riscos negativos em qualquer destas áreas pode desencadear uma mudança súbita na confiança e num aperto potencial no acesso ao financiamento”, descrevendo Portugal como um país “vulnerável a uma série de choques”.